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Jubileu dos migrantes, histórias de refugiados nas palavras dos Papas – Vatican News

Por ocasião do jubileu, recordamos, através das reflexões dos Pontífices, algumas páginas do século XIX e deste início do terceiro milênio sobre o mundo das migrações.

Amedeo Lomonaco – Vatican News

O Jubileu dos migrantes é também uma oportunidade para reler algumas páginas, entre dores e esperanças, vividas por aqueles que deixaram sua terra natal para escapar da morte e da miséria. Nesta jornada, seguindo os passos do povo migrante pelas estradas da história e do mundo, os Papas nos acompanham com suas exortações e reflexões. A primeira página está ligada à Segunda Guerra Mundial.

As palavras de conforto de Pio XII e os deslocados

É 12 de março de 1944. A Praça de São Pedro está lotada de fiéis romanos e, sobretudo, de deslocados provenientes de várias regiões da Itália. Aquela multidão de refugiados, feridos pelos horrores da Segunda Guerra Mundial, recorreu ao Papa. Depois de tanto ódio e lágrimas, aquele povo longe de sua terra natal parece quase encontrar o refúgio tão esperado nos braços da colunata e no olhar paterno do Pontífice. Na fachada da Basílica de São Pedro, foi instalado um sistema de alto-falantes para transmitir a voz do Papa. Nesse dia, ouviram-se os sinos de todas as igrejas de Roma durante cinco minutos, das 15h25 às 15h30, até ao momento em que Pio XII apareceu na Sacada externa da Basílica do Vaticano. Em seguida, o Papa dirigiu estas palavras aos seus “queridos filhos”, aos refugiados de guerra e aos habitantes de Roma.

Na desolação que vos privou da felicidade doméstica, vós, filhos e filhas amados, que as calamidades atuais obrigaram a dispersar-se, errantes, sem lar, talvez separados uns dos outros das vossas próprias famílias, muitas vezes sem notícias daqueles a quem o sangue e o amor mais vos ligam, inquietos pelo seu destino, como eles estão ansiosos pelo vosso; vós, porém, a quem a fé aponta um Pai celestial, que prometeu a todos aqueles que O amam transformar tudo em bem, mesmo as coisas mais pesadas e amargas (cf. Rm 8, 28); vós viestes hoje, atraídos e impulsionados por um impulso filial, receber do Vigário de Cristo uma palavra de bênção e de conforto.

Ajuda aos deslocados durante o pontificado de Pio XII

Ajuda aos deslocados durante o pontificado de Pio XII

João XXIII sobre a fuga da Sagrada Família para o Egito

No drama da Família de Nazaré, obrigada a refugiar-se no Egito, percebe-se a dolorosa condição de todos os migrantes, especialmente dos refugiados, dos exilados e dos perseguidos. Por ocasião do décimo aniversário da promulgação da Exsul Familia, o Papa João XXIII, em 1962, sublinha que o pequeno Jesus experimenta, juntamente com seus pais, a trágica condição de deslocado e refugiado.

É luz que provém da Sagrada Família, partida de Belém rumo desconhecidas terras do Egito; é emoção que toma conta de todos os corações ao meditar sobre a suave paciência de Jesus, de Maria, sua mãe puríssima, e de São José, virginal guardião de ambos, nas humilhações da fuga repentina, das inúmeras dificuldades e da solidão em terra estrangeira. Daí, daquele episódio da Sagrada Família exilada, tiram motivo e alimento o afeto e a solicitude que a condição singular, e que desejamos que seja transitória, dos emigrantes suscita na Igreja e em todos os cristãos. Que ternura permeia nesta ocasião o espírito do Papa, que vos fala, cuja vida — permitam-me dizê-lo — também se desenrolou nas amplas vias do Oriente e do Ocidente, ao serviço da Santa Igreja, em diferentes países, muitas vezes em contato com os sofrimentos dos exilados e dos refugiados.

A fuga para o Egito da família de Nazaré

A fuga para o Egito da família de Nazaré

O apelo de Paulo VI pelos refugiados paquistaneses

Não é apenas o drama da guerra que gera multidões de deslocados. Paulo VI sublinha que são necessários “grandes sentimentos de solidariedade, humanidade e unidade” para levar socorro “a seres humanos em desgraça, distantes e desconhecidos”. Em 1971, mais de 8 milhões de habitantes do Paquistão oriental, devido a uma terrível fome e a calamidades naturais, procuram refúgio na Índia. Nos campos de refugiados há mais de 800 mil crianças, exaustas, doentes, desnutridas. O Papa Montini exorta a ouvir esta voz “de lamento, de gemido, de imploração” dos refugiados.

São milhões de seres humanos em condições de extrema necessidade. Desgraças sobre desgraças se abateram sobre essas pessoas tão pobres. Não faltam notícias, que nos dão números assustadores e nos mostram a desproporção desanimadora entre a enormidade dos males e a inadequação das medidas de socorro. É preciso despertar o senso de humanidade do mundo, para salvar a vida de inúmeros seres humanos à beira da morte. As obras públicas e privadas, inclusive as nossas, estão em andamento; mas como podem impedir as consequências de calamidades superiores aos seus meios? Não parece exagerado esperar que o mundo se compadeça e envie os auxílios indispensáveis: alimentos, roupas, medicamentos, dinheiro. Sofremos ao pensar que outros países do mundo, próximos e distantes, se encontrem em condições semelhantes, embora não tão graves quanto as relatadas. Lançamos este grito doloroso esperando e rezando.

João Paulo II e o drama dos refugiados em Darfur

Outra página dolorosa é o conflito na região sudanesa de Darfur. O Papa João Paulo II, recordando em 2004 o drama desta crise humanitária, exorta a não permanecer indiferentes diante destes irmãos “mortos, deslocados e refugiados”.

Igualmente preocupante é a situação em que se encontram as amadas populações do Darfur, a região ocidental do Sudão, que confina com o Chade. A guerra, que se intensificou ao longo destes meses, traz consigo cada vez mais pobreza, desespero e morte. Um vintênio de embates árduos produziu no Sudão um elevado número de mortos, desalojados e refugiados. Como permanecer indiferente?

Um campo para deslocados perto de Nyala, no sul de Darfur

Um campo para deslocados perto de Nyala, no sul de Darfur

O abraço de Bento XVI aos refugiados palestinos

Em 2009, o Papa Bento XVI visita o campo de refugiados “Aida Refugee Camp” em Belém. As palavras do Pontífice, mais atuais do que nunca, são uma exortação para derrubar o muro das hostilidades. Bento XVI denuncia as condições precárias e difíceis em que vivem os refugiados, manifestando solidariedade especialmente àqueles que perderam suas casas e entes queridos durante o conflito em Gaza. Para eles e para todos os palestinos, ele pede uma paz justa e duradoura.

A minha visita ao campo de refugiados de Aida nesta tarde oferece-me a agradável oportunidade de manifestar a minha solidariedade a todos os Palestinos desabrigados, que desejam poder voltar à sua terra natal ou viver permanentemente na sua própria pátria… Num mundo em que as fronteiras são cada vez mais abertas ao comércio, às viagens, à mobilidade das pessoas e aos intercâmbios culturais é trágico ver que ainda hoje são erigidos muros. Como aspiramos a ver os frutos da tarefa muito mais difícil de edificar a paz! Como nós oramos ardentemente, a fim de que terminem as hostilidades que causaram a erecção deste muro!

Papa Francisco: vergonhas que não devem se repetir

Em 3 de outubro de 2013, um dramático naufrágio ao largo de Lampedusa causou a morte de 368 migrantes. O Papa Francisco, que em julho daquele ano havia feito a primeira viagem de seu pontificado justamente à ilha siciliana, usa uma palavra em particular para descrever essa tragédia.

Não posso deixar de recordar com profunda dor as numerosas vítimas do último, trágico, naufrágio ocorrido hoje ao largo de Lampedusa. Vem-me a palavra vergonha. É uma vergonha! Oremos juntos a Deus, por quantos perderam a vida: homens, mulheres e crianças, pelos seus familiares e por todos os refugiados. Unamos os nossos esforços a fim de que nunca mais se repitam tragédias semelhantes! Só uma colaboração decidida da parte de todos pode contribuir para as prevenir.

A praia após um naufrágio de migrantes

A praia após um naufrágio de migrantes

Mensageiros de esperança

A história do povo migrante é, portanto, uma exortação a não permanecer indiferentes diante dos dramas e sofrimentos de tantos irmãos e irmãs. É também um convite a acolher os ensinamentos e o testemunho, muitas vezes heroicos, desses homens e mulheres que deixam sua pátria para tentar construir um futuro para suas vidas. Na mensagem de Leão XIV para a 111ª Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado, destaca-se, em particular, a ligação entre migração e esperança. “Muitos migrantes, refugiados e deslocados – escreve o Pontífice – são testemunhas privilegiadas da esperança vivida no quotidiano, através da sua confiança em Deus e da sua capacidade de suportar as adversidades, em vista de um futuro em que vislumbram a aproximação da felicidade e do desenvolvimento humano integral”. “Num mundo obscurecido por guerras e injustiças, mesmo onde tudo parece perdido, os migrantes e refugiados erguem-se como mensageiros de esperança. A sua coragem e tenacidade são testemunho heroico de uma fé que vê além do que os nossos olhos podem ver e que lhes dá força para desafiar a morte nas diferentes rotas migratórias contemporâneas”.


Fonte: Vatican News

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