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Falece aos 94 anos o arcebispo-mor da Igreja Greco-Católica da Romênia, testemunha dos anos de perseguição e clandestinidade de sua Igreja durante o regime comunista. Ordenado sacerdote na clandestinidade, em 1964, consagrado bispo em 1990, após a queda de Ceausescu, foi criado cardeal aos 80 anos, em 2012, por Bento XVI
Vatican News
O cardeal Lucian Mureşan, arcebispo-mor da Igreja Greco-Católica da Romênia e metropolita da Arquieparquia de Alba Iulia e Făgăras, faleceu na tarde desta quinta-feira, 25 de setembro, em sua residência em Blaj, aos 94 anos, após muitos meses de doença. Com ele, criado cardeal aos oitenta anos em 2012 pelo Papa Bento XVI, a Igreja perde uma das testemunhas mais significativas dos anos de perseguição e clandestinidade vividos durante o regime comunista, que caiu em 1989. Ele era o último cardeal romeno vivo e o segundo pastor a receber o cardinalato depois de seu antecessor, Alexandru Todea. Antes deles, Iuliu Hossu, bispo greco-católico e mártir de sua fé durante a perseguição comunista, também havia sido criado cardeal no consistório de 1969, mas Paulo VI manteve sua nomeação in pectore, tornando-a pública somente após sua morte, em maio de 1970, no consistório subsequente de 1973.
1948 e a Supressão da Igreja greco-católica romena
O cardeal Mureşan nasceu em 23 de maio de 1931, em Ferneziu, hoje bairro da cidade de Baia Mare, na Transilvânia, em uma família de 12 filhos. Após a supressão da Igreja greco-católica romena em 1948, ele foi forçado a abandonar os estudos secundários e, temporariamente, o desejo de se tornar padre, para frequentar uma escola profissionalizante de carpintaria. No entanto, continuou a estudar em escolas particulares para concluir o ensino secundário. Em 1953, foi declarado indesejável por ser greco-católico e transferido para o canteiro de obras da primeira usina hidrelétrica da Romênia, em Bicaz. Contudo, em 1955, o bispo Márton Áron, de Alba Iulia, autorizou excepcionalmente a entrada de cinco jovens greco-católicos — um de cada eparquia — no Instituto Teológico da Igreja católica de rito latino em Alba Iulia, e Lucian Mureşan estava entre eles.
Ordenado sacerdote na clandestinidade, em 1964
Infelizmente, em seu quarto ano acadêmico, Lucian e o outro jovens greco-católico restantes foram expulsos da faculdade pelo departamento dos cultos. Assim começou a perseguição e a vigilância da Securitate, a polícia secreta do regime de Ceausescu. Por dez anos, trabalhou na gestão da manutenção de estradas e pontes no distrito de Maramureş, mas continuou seus estudos teológicos clandestinamente, conseguindo obter a licenciatura em teologia. Em 19 de dezembro de 1964, após uma graça, Mureşan foi ordenado sacerdote pelo bispo auxiliar de Maramureş, dom Dragomir. Exerceu seu ministério clandestinamente, concentrando-se principalmente na pastoral juvenil e nas vocações. Após a morte do bispo Dragomir em 1986, liderou a eparquia de Maramureş.
Metropolita da Igreja greco-católica romena desde 1994
Após a revolução de 1989 e a saída da Igreja greco-católica da clandestinidade, em 14 de março de 1990 foi nomeado bispo de Maramureş por João Paulo II e consagrado pelo cardeal Alexandru Todea. Em julho de 1994, após a renúncia de Todea, foi nomeado seu sucessor como arcebispo de Făgăraş e Alba Iulia, e metropolita da Igreja greco-católica romena.
Criado cardeal em 2012 por Bento XVI
Em 16 de dezembro de 2005, com a bula papal Ad totius Dominici gregis, Bento XVI elevou a Igreja metropolitana sui iuris de Făgăraş e Alba Iulia a arcebispado maior, elevando Mureşan à dignidade de arcebispo-mor da Igreja greco-católica da Romênia. De 1998 a 2001, de 2004 a 2007 e novamente de 2010 a 2012, atuou como presidente da Conferência Episcopal Católica da Romênia, que reúne os bispos das Igrejas católicas do país de ambos os ritos. Foi criado cardeal por Bento XVI no Consistório de 18 de fevereiro de 2012 e recebeu o título de Santo Atanásio. Foi membro do Dicastério para as Igrejas Orientais.
Sua mensagem para a comemoração do beato Hossu
Uma das últimas intervenções públicas do cardeal Mureşan, já doente, foi a mensagem preparada para a comemoração do beato cardeal Iuliu Hossu, presidida pelo Papa Leão XIV na Capela Sistina. Sua Beatitude recordou que a vida e o martírio do cardeal Iuliu Hossu nos falam de sua “amizade com Deus, com seus irmãos e com o próximo, para além da religião ou etnia”. Nessa amizade e “no serviço sincero e generoso àqueles que encontrou no caminho da vida”, o beato Hossu, que Mureşan teve a alegria de encontrar em sua residência forçada, encontrou forças “para perdoar e amar aqueles que o perseguiram”. O bispo martirizado, concluiu o cardeal romeno, “foi antes de tudo um homem de Deus”, que nos deixou um legado de sua luta ininterrupta pela verdade e pela justiça”.
Fonte: Vatican News