
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A fadiga da tripulação do voo 2283 da Voepass pode ter contribuído para a queda da aeronave no dia 9 de agosto do ano passado. A afirmação é do Ministério do Trabalho e Emprego, que realizou uma auditoria após o acidente aéreo que levou 62 pessoas à morte, sendo 58 passageiros e 4 tripulantes -comandante, piloto e duas comissárias de voo.
A conclusão foi divulgada nesta terça-feira (16) e analisou as escalas de trabalho do comandante e do piloto desde o dia 1º maio do ano passado até a data do acidente. A íntegra do relatório não foi divulgada e também não foi publicada a informação de quantas horas os tripulantes tiveram a menos de descanso. Para a investigação, foram verificados os registros de check-in e check-out em hotéis.
Procurada pela reportagem, a Voepass afirma que possui Programa de Gerenciamento de Risco de Fadiga, documento técnico aprovado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e segue regulamentação específica do setor, motivo pelo qual formalizou a defesa.
“Ademais, somente o relatório final do Cenipa poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do acidente”, afirma a empresa. O Cenipa, Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão da FAB (Força Aérea Brasileira), ainda não concluiu a investigação do acidente aéreo.
O ministério afirma que a Voepass realizou escalas que reduziram o tempo de descanso da tripulação, o que pode ter causado cansaço em um nível capaz de prejudicar a concentração e o tempo de reação dos profissionais. Isso, somado a outras possíveis causas, pode ter contribuído para a queda da aeronave.
O ministério afirma que entre as principais causas encontradas estão a falta de controle efetivo da jornada da tripulação, descumprimento da Lei dos Aeronautas em relação aos limites de jornada e períodos mínimos de descanso, além da violação de cláusula da Convenção Coletiva voltada à prevenção da fadiga.
Por isso, a empresa recebeu dez autos de infração, que podem gerar multas de cerca de R$ 730 mil. Além disso, foi notificada por não recolher mais de R$ 1 milhão em FGTS de seus empregados. O relatório ainda cita estudos que demonstram medidas que poderiam ter sido adotadas pela empresa para diminuir o cansaço e evitar novos acidentes.
Em junho deste ano, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) cassou, sem possibilidade de recurso, a licença da Voepass -não diretamente pelo acidente, mas pela incapacidade da empresa de corrigir falhas apontadas em fiscalizações anteriores.
Uma das principais hipóteses para a queda é a formação severa de gelo nas asas, que pode ter provocado uma inclinação abrupta e involuntária momentos antes do acidente. Essa tese consta no relatório preliminar do Cenipa.
Paralelamente, a Polícia Federal conduz a investigação criminal para responsabilizar os envolvidos, mas não comenta casos em andamento.
Quando a tragédia completou um ano, a companhia aérea disse que a queda do avião em Vinhedo (SP) resultou em danos irreparáveis.
“Em mais de 30 anos de operações na aviação brasileira, jamais havíamos enfrentado um acidente”, diz a companhia aérea, acrescentando que tem atuado de forma transparente junto às autoridades públicas e segue fortemente dedicada “a resolução das questões indenizatórias o quanto antes, neste aspecto com estágio bastante avançado das indenizações restantes”.
A empresa também argumenta que estava com o CVA (Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade) válido, e com todos os sistemas requeridos em funcionamento.
A informação é confirmada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que diz que a aeronave, um ATR 72-500 fabricado em 2010, estava em condições regulares para operar no momento do acidente, com certificados de matrícula e aeronavegabilidade válidos. Os quatro tripulantes a bordo também possuíam licenças e habilitações em dia.
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Fonte: Notícias ao Minuto