
O assassinato do delegado aposentado da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes pegou Tarcísio de Freitas (Republicanos) em meio ao lobby pela anistia a Jair Bolsonaro (PL) e pressiona o governador, segundo aliados, a apresentar uma resposta rápida à crise.
Durante o velório do delegado, realizado na Alesp (Assembleia Legislativa), deputados da base avaliaram que ele deveria adiar, ao menos nos próximos dias, os planos de deixar São Paulo para atuar em Brasília pela anistia, transmitindo a mensagem de que o enfrentamento ao crime será prioridade.
Parlamentares ouvidos pela Folha avaliam que o episódio tem potencial para causar desgaste político a Tarcísio caso o crime não seja rapidamente esclarecido. O governador não compareceu ao velório nem ao enterro. Quem esteve presente foi o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), também alvo de críticas de aliados, que veem risco de o caso respingar em sua imagem já fragilizada.
A morte de Ruy Ferraz Fontes foi registrada por câmeras de segurança no mesmo dia em que Tarcísio tentava obter uma nova autorização para visitar Bolsonaro, em prisão domiciliar, após a condenação por liderar a trama golpista. O governador pedia que o encontro ocorresse nesta terça (16).
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), liberou a visita só para 29 de setembro. O argumento foi que a agenda de Bolsonaro está cheia até o fim do mês.
Desde o 7 de Setembro, quando chamou o ministro do Supremo de “ditador” em protesto na avenida Paulista, em São Paulo, o governador havia reduzido sua presença em redes sociais e deixou de falar com jornalistas, focado na anistia. Na primeira semana do julgamento, viajou a Brasília, sem agenda oficial, para articular o perdão ao ex-presidente, seu padrinho político.
Tarcísio planejava voltar à capital federal nesta semana, mas sua equipe anunciou uma agenda em Araçatuba nesta quarta, indicando que ele deve permanecer no estado.
O episódio, contudo, já deu munição a críticas da oposição. “Enquanto Tarcísio está com a cabeça em Brasília, o crime organizado toma conta de São Paulo e executa um ex-delegado-geral”, disse o deputado estadual Reis (PT), da Comissão de Segurança Pública da Alesp.
Ruy Ferraz Fontes era considerado herói pelas duas polícias do estado. “[O que aconteceu] é um alerta para todos nós”, afirmou o coronel reformado Marcelo Salles, ex-comandante-geral da Polícia Militar e parceiro do delegado na cúpula da segurança pública na gestão João Doria (sem partido).
Ainda segundo aliados do governador, a repercussão do crime reverteu o ambiente de otimismo que o grupo via na área da segurança desde o fim do mês passado, quando a Operação Carbono Oculto, em parceria entre o Ministério Público de São Paulo e a Polícia Federal, desarticulou esquemas de lavagem de dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital) e expôs ligações da facção com a Faria Lima e o setor de combustíveis.
O procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, disse não acreditar que a execução tenha sido uma resposta ao governo diante da megaoperação.
“Infelizmente, isso mostra que o crime organizado não só está na economia formal como também quer dar à sociedade alguma demonstração de que devemos ter medo. E nós devemos reagir, dentro da lei, adequadamente, com inteligência e ação colaborativa”, afirmou.
O governo Lula (PT) ofereceu colaboração à gestão Tarcísio por meio de um telefonema do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, a Derrite. O secretário disse que agradeceu o apoio, mas recusou a ajuda. As gestões Lula e Tarcísio tiveram atritos na divulgação da operação contra o PCC em agosto.
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