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Opinião – Encaminhado com Frequência: Neonazistas brasileiros elogiam Nikolas Ferreira após atentado à Charlie Kirk

Durante o voto do ministro Luiz Fux no julgamento de Jair Bolsonaro, um episódio violento dominou o debate: o assassinato de Charlie Kirk, influenciador pró-Trump e um dos rostos mais conhecidos do conservadorismo. Pouco tempo depois, a internet foi inundada por informações falsas e teorias da conspiração. Sem qualquer dado concreto sobre o autor ou suas motivações, já se espalhavam versões que responsabilizavam a esquerda e o Partido Democrata, além de narrativas antissemitas que apontavam judeus e a inteligência israelense como responsáveis pelo crime.

A polícia identificou o suspeito como Tyler Robinson, de 22 anos, morador de Utah. Não tinha filiação partidária nem histórico de voto, embora seus pais sejam republicanos registrados —o pai, Matt Robinson, é vice-xerife há 27 anos e colaborou com a polícia ao reconhecer o filho nas imagens divulgadas.

O episódio acentuou fissuras dentro da própria direita americana. Para entender esse movimento, é preciso lembrar quem são os “Groypers“, um grupo digital de nacionalistas brancos e neonazistas com forte carga antissemita que orbita em torno do influenciador Nick Fuentes. Kirk era atacado por ser “moderado demais” e apoiar Israel. A morte, então, foi reinterpretada como um divisor de águas: postagens que viralizaram no X diziam que “a bala que matou Charlie Kirk matou a direita moderada”, ou ainda, “ele era o último moderado —agora verão o que é a extrema direita”.

Esse enquadramento não ficou restrito aos Estados Unidos. Nos mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp monitorados pela Palver, as menções a “Charlie Kirk” e “Groypers” cresceram de forma abrupta e, no dia 12 de setembro, ultrapassaram as referências ao próprio julgamento de Jair Bolsonaro, revelando como eventos externos são rapidamente incorporados à disputa política brasileira. Expressões como “guerra civil” cresceram nos últimos dias, com mensagens como “matar esquerdista deveria ser esporte olímpico” sendo compartilhadas.

Figuras brasileiras passaram a ecoar a leitura de que a morte de Kirk teria simbolizado o fim da conciliação dentro da direita. No X, Nikolas Ferreira declarou que “mataram a direita moderada”, em mensagens acompanhadas de imagens conclamando a “ser a extrema-direita que eles tanto têm medo”. Em uma dessas postagens, o deputado aparece ao lado do “clown pepe” — variação do personagem Pepe the Frog, originalmente um meme inofensivo, mas que foi adotado por supremacistas brancos, tornando-se um dos “apitos de cachorro” da alt-right e do universo groyper.

Essa onda encontrou terreno fértil no submundo da internet, que guarda semelhanças evidentes com a subcultura groyper. A chamada “bolha da resenha”: perfis anônimos no X que misturam estética de chans, humor violento e extremismo. O termo “resenha” funciona como código interno e cumpre o mesmo papel que “groyper” —partir do comentário para a ação, hostilizar inimigos e pregar violência. Essa subcultura brasileira também empresta símbolos e linguagens como o clown pepe usado por Nikolas Ferreira.

Foi nesse contexto que usuários da “resenha” celebraram a postura de figuras como Nikolas Ferreira, dizendo que “finalmente entraram na resenha”. Um dos anônimos mais ativos publicou uma foto do ditador chileno Augusto Pinochet com a legenda “cadê a extrema direita dessa porra?”, incitando seguidores a se assumirem abertamente extremistas.

Em momentos de forte emoção política, narrativas importadas ganham vida própria, moldando o debate nacional. Esse mecanismo amplia riscos: discursos de ódio se normalizam e fronteiras entre humor e incitação à violência se diluem. É importante entender o processo de contaminação do ecossistema digital brasileiro sob risco de transformar crises alheias em combustível para aprofundar nossas próprias fraturas sociais.


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