
A pressão que o PL faz para votar o projeto de anistia só surge quando há algum risco ao ex-presidente Jair Bolsonaro, em uma comoção que não é repetida quando o tema abrange apenas os presos pelos ataques às sedes dos três Poderes no 8 de Janeiro, afirma o líder do PSB na Câmara, Pedro Campos (PE).
No último dia 11, a Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) condenou Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, sob acusação de liderar uma trama para permanecer no poder.
Nas duas semanas do julgamento, o tema da anistia voltou a ganhar força no Congresso, contando com articulação inclusive do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que busca ganhar a bênção de Bolsonaro para concorrer à Presidência em 2026.
Para Campos, essa movimentação pré-condenação evidencia que o PL e os aliados do ex-presidente só se preocupam em retomar o tema da anistia quando Bolsonaro corre algum risco.
“Quem impulsiona anistia para Bolsonaro são sempre aqueles que estão mais preocupados com ele do que com a anistia de 8 de Janeiro”, afirma. “É o pessoal mais ligado ao próprio Bolsonaro e do PL. Se você for ver, essa temperatura da anistia sempre sobe quando o Bolsonaro está em risco. Quando é só sobre as pessoas do 8 de Janeiro, o PL não fica nessa comoção toda.”
Ele lembra que, após os ataques do 8 de Janeiro, o ex-presidente chegou a chamar os manifestantes de baderneiros e malucos. “Depois é que ele veio ressuscitar essa coisa da anistia, quando o processo começou a se aproximar dele”, afirma o líder do PSB.
“Aquelas pessoas sempre foram usadas por ele [Bolsonaro]. Foram abandonadas por ele desde o dia que ele pegou um avião e foi para os Estados Unidos e continuam abandonadas por ele. Se elas forem esperar por Bolsonaro para serem soltas, não vão ser soltas nunca”, complementa.
Campos também analisa a entrada de Tarcísio na articulação como um movimento eleitoral e uma forma de tentar conquistar a simpatia do eleitor radical bolsonarista que hoje tem muito mais proximidade com o filho 03, Eduardo Bolsonaro, do que com o governador.
“O fato é que Tarcísio virou o candidato do centrão e da elite econômica do país antes de virar o candidato de Bolsonaro”, afirma. “E agora ele está tendo que correr atrás de quem tem mais voto, que é Bolsonaro, que tem mais voto do que o centrão e tem mais voto do que a elite econômica do país.”
Nesse contexto se inserem os ataques que o governador fez ao STF e o pedido por anistia no último 7 de setembro, em ato bolsonarista em São Paulo.
Para o líder do PSB, o governador está em uma encruzilhada, porque essa movimentação para atrair os bolsonaristas pode afastar o eleitor de centro e a elite econômica. “Soa como um cálculo político que não transparece muito a verdade. E ele vai ter muita dificuldade de conseguir convencer as pessoas disso enquanto houver nomes influentes do bolsonarismo desgastando ele”, avalia, em referência ao próprio Eduardo.
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