
No âmbito da edição deste ano, promovida nos dias 12 e 13 de setembro pela Basílica de São Pedro, realizou-se na Sala da Protomoteca do Capitólio, em Roma, a mesa de debates denominada “G20 Informação” sobre transparência e liberdade de informação em um mundo atingido por guerras e conflitos
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A transparência e a liberdade de informação em tempos de guerra e conflitos. A verdade dos fatos como elemento indispensável para “desarmar as palavras e desarmar a Terra”, como disse o Papa Leão XIV, para que o relato e a narrativa voltem a ajudar a paz, o diálogo e a fraternidade. A responsabilidade de quem trabalha na mídia de promover o valor da competência, do aprofundamento e da credibilidade, na era do domínio descontrolado das redes sociais e dos algoritmos, da superficialidade transbordante dos slogans em busca de likes e das imponentes expressões de ódio e violência por parte dos haters. Esses são os principais temas sobre os quais se confrontaram expoentes do mundo da comunicação e da informação, diretores e CEOs de redes de mídia em nível internacional, que vieram a Roma para participar da mesa de debates chamada ‘G20 Informação’ e coordenada pelo diretor da Revista Piazza San Pietro, Padre Enzo Fortunato, realizado na sexta-feira (12) na Sala da Protomoteca do Capitólio de Roma dentro do III Encontro Mundial sobre a Fraternidade Humana (World Meeting on Human Fraternity).
Os três horizontes do tempo presente: verdade, liberdade, dignidade
Ao abrir o encontro, o Padre Fortunato ilustrou os três “horizontes” que no tempo presente “não podem mais ser dados como certos: verdade, liberdade, dignidade”. A primeira “muitas vezes é manipulada e instrumentalizada”, mas também “a liberdade é ferida”, a tal ponto que em muitos países do mundo “os jornalistas são reduzidos ao silêncio, perseguidos ou mortos”, recordou. Enquanto “a liberdade de imprensa deveria ser uma garantia para os cidadãos e um baluarte da democracia”. Hoje – observou Fortunato – “temos muitos ‘dignitários’, mas pouca dignidade”: há aqueles que “sofrem campanhas de ódio e difamação, muitas vezes construídas de propósito por trás da tela de um computador. As palavras podem ferir mais do que as armas, e não raramente essas feridas levam a atos extremos”. Portanto, justamente em um período histórico marcado por divisões e conflitos, a humanidade – mesmo nas diversidades de povos, culturas e opiniões – é chamada a reencontrar as características que a unem. “Ecoam as palavras do Papa Leão XIV, que nos lembrou: ‘Antes de sermos crentes, somos chamados a ser humanos’”. Então, concluiu Fortunato, devemos “proteger a verdade, a liberdade e a dignidade como bens comuns da humanidade, a alma do nosso trabalho, e não defender corporações ou interesses”.
Ruffini: restituir perspectivas de esperança a cada narrativa
Para que essa guarda se concretize e seja fecunda, a informação continua a ser central “na formação do nosso futuro”, destacou Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação. Por isso, a mídia é chamada a vigiar um “limite”: “aquele ‘entre o bom e o mau jornalismo, entre a fofoca e a análise, entre a paciente busca pela verdade e a apressada difusão de notícias enganadoras, entre um sistema de comunicação baseado na partilha da verdade e um sistema baseado na indiferença à verdade”.
No entanto, chegar a um desarmamento das palavras não significa render-se. O Papa Francisco, lembrou Ruffini, afirmava, “que a comunicação deve ser desarmada de todo preconceito, rancor, agressividade, fanatismo e ódio; livre da droga das simplificações enganosas; e do paradigma da vontade de domínio, de posse, de manipulação”. Da mesma forma, o Papa Leão XIV retomou essas expressões, afirmando que se “desarmarmos as palavras, contribuiremos para desarmar a Terra”, reconstituindo a possibilidade de um mundo de paz. Para isso, é preciso focar a atenção, hoje em particular, no poder dos algoritmos, que “correm o risco de se tornar os guardiões de nossos pensamentos”, aprisionando as pessoas em “bolhas” moldadas “sobre as nossas preferências”, e, portanto, “em um mundo sem verdadeira liberdade, onde nenhuma opinião nasce para ser confrontada e até mesmo mudada, mas apenas para ser confirmada, em um jogo de espelhos sem princípio e sem fim”. O desafio, então, destacou o prefeito, é “resistir à corrosão, à corrupção da comunicação” e “restituir fundamento às notícias e perspectivas de esperança a cada narrativa”. Com o objetivo de construir um novo humanismo.
E quanto ao tema das regras da comunicação, “não pode existir um algoritmo da verdade sem liberdade”, recordou na sua conclusão: é preciso “devolver aos usuários o papel decisório e formar jornalistas capazes de produzir conteúdos de qualidade”. Porque – como afirmava Martin Luther King – “só a luz pode expulsar a escuridão”, e “só o amor pode expulsar o ódio”.
Fonte: Vatican News