
O ministro da Defesa, José Mucio, afirmou que as Forças Armadas irão respeitar a decisão da Justiça brasileira no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado, entre outros crimes, de participar da trama golpista em 2022. A fala aconteceu após almoço com o presidente Lula (PT) e comandantes.
“O lema das Forças Armadas é respeitar a decisão da justiça. Esse assunto é um problema da justiça e da política. As Forças Armadas são uma coisa diferente, servem ao país. Então nós somamos conscientes de que tínhamos que passar por isso tudo. Estamos serenos e aguardando o veredicto”, disse.
Apesar da declaração, Múcio afirmou que este não foi o tema principal do almoço.
Questionado, o ministro também disse que a deliberação sobre anistiar militares e demais envolvidos nos ataques de 8 de janeiro cabe ao Congresso Nacional. Há atualmente um projeto que tramita na Câmara dos Deputados sobre a questão.
“Acho que se for discutir de uma forma construtiva e não para Poder concorrer com Poder, para fazer avaliação de força de quem manda mais, eu acho que essa queda de braço não serve ao país”, afirmou Mucio, sem refutar ou criticar o projeto.
“Nós estamos numa hora em que a gente precisa juntar todo mundo para construir esse país. Nós todos que estamos nas funções que ocupamos daqui a alguns anos nós estamos fora disso. Então, precisamos fazer reconstruir a fraternidade desse país, os políticos entenderem que precisam se juntar para construir uma grande dança”, disse o ministro.
O ministro já entrou numa saia justa dentro do governo ao defender, em outros momentos, a anistia para os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro “por casos leves”, mas sem envolver Bolsonaro.
A fala vai de encontro às críticas do presidente Lula (PT), que nesta quinta-feira (4) defendeu que o povo se mobilize diante da força da extrema-direita no Congresso e mencionou o risco de a anistia a atos golpistas ser aprovada.
“Agora, outra coisa que nós temos que saber: se for votar no Congresso, nós corremos o risco da anistia. O Congresso, vocês sabem, não é um Congresso eleito pela periferia. O Congresso tem ajudado o governo, o governo aprovou quase tudo que o governo queria, mas a extrema direita tem muita força ainda. Então é uma batalha que tem que ser feita também pelo povo”, disse o petista em conversa com lideranças e influenciadores da periferia em Belo Horizonte.
O almoço com Lula foi uma proposta do ministro da Defesa. A ideia era promover um encontro informal do presidente com os atuais e antigos chefes das Forças Armadas num sinal de prestígio dos militares em meio às crises envolvendo o orçamento e o avanço dos processos contra generais da trama golpista.
Foram convidados todos os comandantes das Forças durante as primeiras gestões de Lula: os generais Francisco Roberto Albuquerque e Enzo Martins Peri; o brigadeiro Juniti Saito; e os almirantes Roberto de Guimarães Carvalho e Júlio Soares de Moura Neto
Também foram ao Alvorada antigos ajudantes de ordens e chefes do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), como o general Jorge Felix. Eram cerca de 20 militares presentes, contando com os atuais comandantes.
O cardápio tinha costela de carneiro, picanha fatiada e salada de verduras. A sobremesa era salada de frutas. A confraternização ocorreu na área externa do Alvorada, em local próximo à piscina do palácio.
Duas pessoas que estiveram no encontro disseram à Folha que as conversas duraram cerca de três horas, com Lula e os militares contando causos e histórias. Comentários sobre o julgamento da trama golpista ficaram restritos a diálogos reservados. Lula pedia para repetir a dose ainda este ano.
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