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Evangélico agredido em vigília bolsonarista se diz marxista, progressista e contra extrema-direita

O evangélico Ismael Lopes, 34, admite que havia pensado em “fazer uma galhofa” quando foi a uma vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em desagravo ao pai. Jair Bolsonaro (PL) preso preventivamente naquele dia para por ordem do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

“Não foi nada tão planejado”, ele diz à Folha. “Eu iria à vigília de toda forma. Havia até falado em alguns grupos que iria e tal. Mas mais para fazer uma galhofa, gravar um videozinho aqui e ali e ir embora.”

Até que, segundo Lopes, “lá surge a possibilidade de fazer uma fala, após eu solicitar ao próprio Flávio”. É quando pega o microfone e, cercado por bolsonaristas, diz que o ex-presidente deveria ser condenado.

“Nós temos orado por justiça neste país. Temos orado para aqueles que abrem covas caiam nelas. Não mortos, porque não é isso que a gente deseja. A gente deseja que sejam julgados e condenados pelo que fizeram”, afirma, para espanto de quem esperava mais uma pregação a favor do ex-presidente.

Então se vira ao primogênito de Bolsonaro e diz: “Como o seu pai, que abriu 700 mil covas na pandemia, seja julgado pelo devido processo legal. Tenha seu direito de defesa, mas que seja condenado e responda pelos crimes que cometeu”.

Lopes afirma em seguida que também punidos deveriam ser todos os aliados que compõem “essa horda do mal”. A turba o interrompe aí, e ele é agredido na sequência com chutes, socos e empurrões.

Lopes faz parte da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, que divulgou neste fim de semana uma “nota de esclarecimento” dizendo que o ato “envolvendo nosso irmão em Cristo” teve “caráter individual e pessoal”, e que o membro do grupo teria “o apoio necessário” diante das agressões que sofreu.

Essa frente é alinhada à minoria progressista nas igrejas evangélicas e costuma estar presente em eventos do governo Lula (PT) com o segmento. O próprio Lopes se reuniu neste ano com Márcio Macêdo, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

“Sempre nessa disputa relacionada a fé e política”, Lopes diz que se mobiliza “contra a extrema direita, contra a derrubada de direitos”.

Ele é evangélico de berço, nascido numa família que frequentava a Assembleia de Deus. Migrou depois para uma igreja batista e conheceu a Teologia da Missão Integral, com uma leitura tida como progressista dos valores evangélicos.

Expõe sua visão à esquerda em redes sociais, com alusões a Karl Marx, por exemplo. Mensagem destacada em seu Instagram diz que “o amor ao próximo só é possível com ódio de classe”. À reportagem ele se declara um comunista da linha marxista-lenista, que luta por “melhor condição para a classe trabalhadora na sociedade”.

Lopes afirma que, “no fatídico dia”, o sábado (22) em que Bolsonaro foi preso, um pastor que falaria na vigília organizada por Flávio faltou. Viu uma brecha e se apresentou para falar. Então lhe veio à mente uma passagem do livro de Eclesiastes: “Quem abrir uma cova, nela cairá”.

“Fiz a reflexão sobre o conteúdo do texto, trazendo para a nossa realidade”, diz. “Enfim, sou interrompido, a violência começa. E aí tem toda aquela cena que acabou viralizando nos vídeos pelo Brasil.”

Gravações mostram ele andando para fora do ato e sendo perseguido e atacado por alguns bolsonaristas, enquanto outros pedem que ele seja solto e que aquilo seria “uma armadilha” que Lopes montou. Ele é então resgatado por um policial militar.


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