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Leão XIV: a filosofia tem muito a oferecer no diálogo entre fé, razão, Igreja e mundo – Vatican News


Mensagem do Papa ao Congresso Internacional de Filosofia “Contribuições às culturas. Filosofia, Cristianismo e América Latina”, que se realiza de 8 a 10 de outubro na Universidade Católica de Assunção, no Paraguai: em tempos em que as pessoas são consideradas descartáveis e “a multiplicação dos avanços tecnológicos parece deixar na penumbra os problemas mais transcendentais”, a contribuição do pensamento racional é fecunda se revelar melhor a dignidade do homem

Vatican News

A contribuição dos filósofos pode ajudar a “distinguir claramente entre o bem e o mal, e a fascinante estrutura do real que conduz ao Criador e Redentor”. É o que explica Leão XIV na mensagem enviada por ocasião da inauguração do Congresso Internacional de Filosofia, que se realiza durante três dias na Universidade Católica de Assunção, no Paraguai, sob o título “Contribuições para as culturas. Filosofia, cristianismo e América Latina”. Uma ocasião de encontro que se propõe analisar o papel e o significado do pensamento filosófico cristão na configuração cultural do continente, com o objetivo de iluminar, a partir da fé, os desafios contemporâneos. Quatro são as palavras-chave a nível metodológico: encontro, diagnóstico, diálogo e projeção. O Papa as repassa em sua mensagem e sublinha sua importância.

A reflexão racional não é uma ameaça à fé

Buscar o encontro é um propósito louvável – escreve o Papa – que se opõe à tentação daqueles que viram na reflexão racional – dado que surgiu no âmbito pagão – uma ameaça que poderia “contaminar” a pureza da fé cristã. Ele cita Pio XII, o teólogo reformado Karl Barth e o próprio Santo Agostinho para sublinhar que uma atitude de desconfiança em relação à filosofia manifesta um desamor pela sabedoria.

Por isso, o crente não deve manter-se distante do que propõem as diversas escolas filosóficas, mas entrar em diálogo com elas a partir da Sagrada Escritura. Desta forma, o pensamento filosófico é um espaço de encontro privilegiado com aqueles que não compartilham o dom da fé. Sei por experiência própria que a incredulidade costuma estar ligada a uma série de preconceitos históricos, filosóficos e de outras ordens. Sem reduzir a filosofia a uma mera ferramenta apologética, é imenso o bem que um filósofo crente pode conseguir com seu testemunho de vida.

A filosofia é fecunda se revelar mais e melhor a dignidade do homem

Evidenciando os limites do pelagianismo ou, na modernidade, do pensamento hegeliano, o Pontífice lembra como é ilusório “pensar que a razão e a vontade bastam por si mesmas para alcançar a verdade”. A este respeito, recomenda não esquecer que “a filosofia, sendo uma árdua tarefa da inteligência humana, pode escalar cumes que iluminam e enobrecem, mas também descer a abismos obscuros de pessimismo, misantropia e relativismo, onde a razão, fechada à luz da fé, se torna sombra de si mesma”. E acrescenta:

Nem tudo o que se reveste do nome de “racional” ou “filosófico” possui, em si mesmo, idêntico valor: sua fecundidade se mede pela sua conformidade com a verdade do ser e pela sua abertura à graça que ilumina toda inteligência. Com genuína empatia para com todos, devemos oferecer nossa contribuição para que a nobre tarefa de filosofar revele mais e melhor a dignidade do homem criado à imagem de Deus, a clara distinção entre o bem e o mal e a fascinante estrutura do real que conduz ao Criador e Redentor.

A utilidade do pensamento filosófico diante dos riscos da tecnologia

São Justino, São Boaventura e Santo Tomás de Aquino apontaram acertadamente que “a fé e a razão não só não se opõem, mas se apoiam e se complementam de modo admirável”, continua Leão em sua mensagem ao congresso. E cita também São João Paulo II que, na carta encíclica Fides et ratio, aprofundava precisamente a íntima relação entre a sabedoria teológica e o saber filosófico, como uma das riquezas mais originais da tradição cristã.

O pensador cristão é chamado a ser um lembrete vivo da autêntica vocação filosófica como busca honesta e perseverante da Sabedoria. Em tempos em que tantas coisas, e até mesmo as próprias pessoas, são vistas como descartáveis, e em que a multiplicação dos avanços tecnológicos parece deixar na penumbra os problemas mais transcendentais, a filosofia tem muito a questionar e muito a oferecer, no diálogo entre fé e razão e Igreja e mundo.

O encontro entre fé e filosofia torna mais compreensível a mensagem da salvação

Por fim, o Pontífice centra-se na “intersecção entre filosofia e fé” e afirma que, sem dúvida, a filosofia, “mais ainda pelas suas perguntas do que pelas suas respostas, nos permite investigar o núcleo dos valores e defeitos presentes em cada povo”. Nessa linha, destaca que “a tarefa dos filósofos crentes não pode limitar-se a proclamar, mesmo que em linguagem elaborada, a exclusividade da própria cultura. A cultura, nesse sentido, não pode ser o fim”. Citando novamente o Bispo de Hipona, que na Carta a Dióscoro afirmava que não se deve amar a verdade porque foi conhecida por tal ou tal sábio ou filósofo, “mas porque é a verdade, mesmo que nenhum desses filósofos a tenha conhecido”, o Papa indica:

Pelo contrário, é necessário que, sem perder de vista as riquezas culturais, esses pensadores nos ajudem a situá-las dentro do conjunto das grandes tradições do pensamento; dessa forma, sua contribuição será magnífica e, se além disso, com esse conhecimento, os bispos, padres e missionários que são chamados a levar a Boa Nova forem instruídos, a Mensagem salvífica será transmitida com uma linguagem mais compreensível e pertinente para todos.


Fonte: Vatican News

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