

Inovar sempre parece empolgante quando observamos de longe. É o motor do progresso, da competitividade e da transformação social. Mas, quando olhamos de perto, inovação também significa ruptura — e é justamente essa ruptura que desperta medo. O novo exige abandonar práticas consolidadas, questionar verdades que pareciam permanentes e admitir que aquilo que nos trouxe até aqui talvez não seja suficiente para nos levar adiante.
Esse sentimento não é individual, é estrutural. Organizações, governos e profissionais convivem diariamente com a tensão entre preservar o que já funciona e apostar em algo que ainda não se provou. A teoria da “destruição criativa”, de Joseph Schumpeter, descreve esse fenômeno: toda inovação relevante desestabiliza modelos anteriores, substitui tecnologias, reinventa mercados e desafia grupos estabelecidos. Criar, portanto, implica destruir. E destruir — mesmo que para abrir espaço ao melhor — assusta.
Inovar implica incerteza, investimento, vulnerabilidade diante do erro e, principalmente, perda de controle. Em instituições públicas e privadas, esse receio costuma aparecer na forma de resistência silenciosa: processos engessados, protocolos excessivos, apego ao “sempre foi assim”. Em nível individual, ele se materializa no receio de não acompanhar as mudanças, de ser substituído ou de falhar diante das expectativas.
Contudo, a história mostra que resistir não protege ninguém. Setores que estagnam são inevitavelmente ultrapassados; profissionais que evitam aprender ficam à margem; instituições que temem rever seus modelos tornam-se obsoletas. A inovação não pede licença — ela acontece. O desafio não é impedir a destruição criativa, mas aprender a atravessá-la com estratégia, coragem e preparo.
O caminho possível envolve três movimentos: compreender, experimentar e adaptar. Compreender significa enxergar a inovação não como ameaça, mas como oportunidade de elevar padrões, melhorar serviços e ampliar impacto. Experimentar exige aceitar ciclos curtos de teste, erro e correção — prática que fortalece aprendizado institucional. Adaptar implica reavaliar continuamente modelos, produtos e competências, sem apego a soluções que já não respondem às necessidades atuais.
Superar o medo é, no fundo, escolher protagonizar o futuro em vez de reagir a ele. Toda transformação traz desconforto, mas também abre espaço para novas possibilidades, novos mercados e novos papéis. E é nesse espaço, criado justamente pela destruição criativa, que surgem as oportunidades mais promissoras. Em tempos de rápidas mudanças, coragem é uma vantagem competitiva — e a inovação, inevitável.
Priscila Fidelis – Mestre em Planejamento de Políticas Públicas e analista do Sebrae/CE
Fonte: SEBRAE



