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A porta que não se fecha: uma profecia de misericórdia para um mundo ferido – Vatican News


“Esperamos que aquela porta, aberta profeticamente na periferia das periferias existenciais do mundo, transforme-se em um caminho de liberdade e em um mundo sem reclusões nem exclusões — um mundo solidário, amigo, fraterno e sem prisões. E então poderemos dizer que o verdadeiro Jubileu se realizou e que a esperança se tornou realidade”.

Pe. Gianfranco Graziola – Coordenador espiritual da Pastoral Carcerária

Alguém me dizia nestes dias: “Quem sabe se Leão XIV fechará a Porta Santa aberta pelo Papa Francisco no último dia 26 de dezembro, no presídio de Rebibbia”. Pensando bem, e refletindo nestes dias em que celebramos o Jubileu dos Presidiários, considero que ele não o fará, deixando assim um sinal: aquela porta, aberta sobre o cárcere, é na verdade uma passagem que rompe o isolamento de um mundo frequentemente esquecido e ignorado por um modelo social feito de aparências, mas incapaz de escutar o grito de dor que ecoa nas periferias da existência humana — marcada pela pobreza, pela ausência das instituições, que facilita a proliferação da violência, do tráfico de entorpecentes e do surgimento de grupos paramilitares neofascistas e fundamentalistas, alimentados por formas de religiosidade pentecostal e neopentecostal que promovem as teologias da prosperidade e do poder, fortalecendo a ideia da aporofobia e o preconceito consumista e exclusivista segundo o qual os pobres o são e continuam sendo por vontade própria ou porque, como se costuma dizer, são preguiçosos e não querem trabalhar.

Papa Leão escreve na Exortação Apostólica Dilexi te:

«Para além dos dados — que às vezes são “interpretados” de modo a convencer que a situação dos pobres não é tão grave —, a realidade geral é bastante clara: “Há regras econômicas que têm sido eficazes para o crescimento, mas não para o desenvolvimento humano integral. A riqueza aumentou, mas sem equidade, e assim surgem novas pobrezas. Quando se diz que o mundo moderno reduziu a pobreza, isso se afirma medindo-a com critérios de outras épocas não comparáveis com a realidade atual. A pobreza é analisada e entendida sempre no contexto das possibilidades reais de um momento histórico concreto”. No entanto, para além das situações específicas e contextuais, um documento da Comunidade Europeia, em 1984, afirmava que “consideram-se pobres: os indivíduos, as famílias e os grupos de pessoas cujos recursos (materiais, culturais e sociais) são tão escassos que os excluem do padrão mínimo de vida aceitável no Estado-membro em que vivem”.
Mas, se reconhecemos que todos os seres humanos têm a mesma dignidade, independentemente do lugar de nascimento, não se devem ignorar as grandes diferenças que existem entre os países e regiões.»
(DT 13)

«Os pobres não existem por acaso ou por um destino cego e amargo. Muito menos a      pobreza, para a maioria deles, é uma escolha. Contudo, ainda há quem ouse afirmar       isso, demonstrando cegueira e crueldade. Mas há tantos homens e mulheres que trabalham do  amanhecer ao anoitecer, talvez ecolhendo papelão ou realizando outras atividades  semelhantes, mesmo sabendo que esse esforço servirá apenas para sobreviver e nunca  para melhorar de fato suas vidas. Não podemos dizer que a maioria dos pobres o é porque        não possui “méritos”, segundo aquela falsa visão de meritocracia que atribui mérito somente aos que tiveram sucesso na vida. (DT 14)

E continua:

«Assumindo a herança do Papa Francisco, que nos últimos meses de sua vida estava preparando uma Exortação Apostólica sobre o cuidado da Igreja pelos pobres e com os pobres, intitulada Dilexi te, imaginando que Cristo se dirigisse a cada um deles dizendo: “Tens pouca força, pouco poder, mas Eu te amei” (Ap 3,9), ao receber esse projeto, fico feliz em torná-lo meu — acrescentando algumas reflexões — e em propô-lo ainda no início do meu pontificado, compartilhando o desejo do amado Predecessor de que todos os cristãos possam perceber o forte vínculo existente entre o amor de Cristo e o seu chamado a nos fazermos próximos dos pobres. Eu também considero necessário insistir nesse caminho de santificação, porque no “chamado a reconhecê-lo nos pobres e nos sofredores se revela o próprio coração de Cristo, seus sentimentos e suas escolhas mais profundas, às quais todo santo procura conformar-se”.» (DT 3)

Robert Francis Prevost, escolhido por Francisco — bispo de Roma vindo do fim do mundo, da periferia — como pastor de Chiclayo, no Peru, em 26 de setembro de 2015, é chamado a Roma em 30 de janeiro de 2023 como prefeito do Dicastério para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, tornando-se arcebispo.

No Consistório de 30 de setembro do mesmo ano, é criado e publicado cardeal do título da diaconia de Santa Mônica, da qual toma posse em 28 de janeiro de 2024. Em 6 de fevereiro, é promovido à ordem dos bispos, recebendo o título da Igreja suburbicária de Albano, da qual não chegará a tomar posse devido à morte repentina do Papa.

É eleito bispo de Roma em 8 de maio de 2025 e, no dia 18 de maio seguinte, inicia o ministério petrino, recebendo o anel do pescador e o pálio.

E é uma porta aberta sobre a humanidade — e que desejamos permaneça sempre aberta na vida e no caminho da Igreja nos próximos anos — aquela que transparece em suas primeiras palavras ao se apresentar à cidade e ao mundo como filho de Santo Agostinho:

«A paz esteja com todos vocês! […] Queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que sempre busca a paz, que sempre busca a caridade, que sempre procura estar próxima especialmente daqueles que sofrem.»

Esperamos que aquela porta, aberta profeticamente na periferia das periferias existenciais do mundo, transforme-se em um caminho de liberdade e em um mundo sem reclusões nem exclusões — um mundo solidário, amigo, fraterno e sem prisões. E então poderemos dizer que o verdadeiro Jubileu se realizou e que a esperança se tornou realidade.


Fonte: Vatican News

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