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No Pará somos uma família, só que moramos em casas separadas – Vatican News

A Associação Cultural Nhandeara foi criada em 2007 em Florença com o objetivo de promover a cultura paraense na Itália e, ao retornar a Belém, Márcia Vieira implementou projetos de educação ambiental, focando em crianças e conscientização sobre o manejo do lixo. Após 17 anos de atuação, a associação continua a trabalhar em comunidades ribeirinhas e quilombolas, promovendo a consciência ambiental. Nós conversamos com Márcia.

Silvonei José – Vatican News

Na cidade de Belém, no Pará, durante a COP 30 no mês de novembro, a Rádio Vaticano – Vatican News conversou com Márcia Vieira da Associação Cultural Nhandeara que ela criou em 2007 em Florença, na Itália. Depois do seu retorno ao Brasil ela implantou projetos de educação ambiental, focando em crianças e na conscientização sobre o manejo do lixo. Após 17 anos de atuação, a associação continua a trabalhar em comunidades ribeirinhas e quilombolas, promovendo a consciência ambiental e a importância de preservar os recursos naturais para as próximas gerações. Márcia na nossa conversa enfatiza que cuidar do meio ambiente é cuidar da “casa comum”, a Terra, e que cada um deve contribuir para um futuro sustentável.

Márcia, como nasce a Associação Nhandeara e como se desenvolve?

A Associação Cultural Nhandeara nasce em Florença, em 2007, um pouco para promover a nossa cultura lá na Itália. E, na volta ao Brasil, fiquei pensando como posso trazer um pouquinho do que aprendi na Itália para a minha cidade, Belém. Sou belenense. E aí eu transformei isso no que eu tinha de melhor lá, que era parte da reciclagem, que era tudo muito arrumadinho na cidade. Quem conhece Florença sabe que é uma cidade linda, o berço do renascimento. E aí eu comecei a estudar como eu poderia transformar esse conhecimento aqui em Belém. E comecei a dar palestras, porque de formação eu sou formada em matemática, especializada em gestão de educação ambiental, e minhas férias no Brasil eram fazendo isso.

Mas a associação nasce desse propósito de difundir m pouquinho a cultura paraense na Itália, mostrando um pouco da nossa cerâmica marajoara, que tem mais de 5 mil anos de tradição, e foi intercâmbio cultural, porque aí eu acabei trazendo da Itália o que eu vi de melhor e levando um pouco do que nós tínhamos aqui como cultura.

Carlos Manuel Almeida Gonçalves e Márcia Vieira

Carlos Manuel Almeida Gonçalves e Márcia Vieira

Como foi a implantação desse projeto no Brasil?

Foi através de projeto do Ministério do Meio Ambiente, do Departamento de Educação Ambiental, que se chama Circuito Tela Verde. É um projeto audiovisual onde passamos para as crianças em forma de desenho animado, e também para os adultos. Projetamos vídeos, documentários, e temos a curta, média e longa metragem falando sempre sobre educação ambiental, das catástrofes que acontecem em cada região, do que podemos melhorar, mas o fundamental mesmo, nosso foco na associação, são as crianças. Acho que a educação é a base de tudo. E, com as crianças, conseguimos educar também os pais, os familiares.

Vou dar exemplo aqui de uma das primeiras vezes que fui para a Soure, lá no Marajó, e consegui abranger 800 alunos numa escola. No dia seguinte, estava lá com os pais dizendo – Sim, e o lixo? O que eu faço com o lixo? Se não pode enterrar, se não pode queimar, eu mando para a sua casa? E eu fiquei assim, eu disse – Não, vamos conversar um pouquinho. E eu Comecei a fazer palestras para os pais poderem entender, porque, quando você enterra, acaba prejudicando os lençóis freáticos. E isso prejudicava o pão nosso de cada dia deles, que eram os peixes. A partir do momento em que você prejudica os lençóis freáticos, você contamina a água. E isso prejudicava também o ganha-pão deles. Então, explicando isso, onde afeta, porque, como já dizia Papa Francisco, tudo está interligado, quando você explica, em vez de só proibir, você começa a educar. Você começa a dar oportunidade às pessoas repensarem o seu dia a dia e os seus hábitos.

Belém

Belém

Qual foi a resposta a tudo isso?

A resposta a tudo isso é que a gente já vem desenvolvendo o trabalho e cada vez mais gente atua nessas comunidades ribeirinhas. Já atuamos também em comunidades quilombolas, e acabamos refletindo como um todo. Porque, quando mexe com a educação ambiental, você se aproxima das comunidades. Você tem o resultado trabalhando junto com eles. Você atua para trazer uma melhoria de vida para todos. Então, temos que se conscientizar cada vez mais de que não somos imortais, somos só mais uma espécie. E que dependemos da natureza também para estarmos vivos e para deixar alguma coisa para as próximas gerações. Sem isso, é como o Papa Francisco sempre dizia, temos que cuidar da casa comum. A Terra é a nossa casa comum.

Se eu cuido da minha casa, dentro de casa, eu tenho que aprender também a cuidar do externo. O resultado disso é que hoje já estamos há 17 anos como Associação, cada vez mais difundindo a educação ambiental. E o que a gente quer com isso é só ser a gotinha no oceano. E eu acho que se todo mundo se conscientizar, a gente vai ser aquele oceano que todo mundo quer. Acho que é isso.

Parece até paradoxo. Uma associação num lugar paradisíaco, como é Belém?

É. Parece, mas eu acho assim, aqui na Amazônia a gente tem muitos problemas. Quando eu falo do Pará, às vezes as pessoas dizem assim, mas a Amazônia é Amazonas. Não, nós somos a Amazônia também. E quando a gente olha aqui, parece paraíso, é paraíso, mas quando a gente vê a problemática em cada município, não é só o lixão, é todo. E quando a gente vê pessoas vindo de fora para explorar as nossas matérias-primas, que não têm a consciência de dizer que vão tirar só um pouquinho para poder usar o que precisam. Não. Essa era a consciência dos índios, mas hoje a ganância do homem ele transforma tudo no que nós temos. E isso não é só Belém do Pará, não é só o Pará, é em todo o mundo. Eu sempre digo, no meio dos estudos que eu faço, a gente já está na era do Antropoceno, onde precisamos mudar os hábitos para a gente poder ainda ter chance de sobreviver no futuro. Então, a era do Antropoceno, ela conscientiza de que os nossos recursos são finitos. Já existem pessoas que necessitam da água, que não têm água. Hoje nós temos em abundância, mas estamos contaminando.

Então, é paradoxo?

Parece que sim, mas se a gente for olhar, o problema existe em todo lugar do mundo. Acho que é por isso que existe esse processo de conscientização global. Se eu faço a minha parte, se não vou lá explorar o que é do meu vizinho, e sim, eu cuido da minha água, eu posso gerar uma fonte de água para todos. Então, isso é cuidar da casa comum, do futuro. A gente lança sementes, constrói o presente, mas pensando nas gerações futuras, e o projeto, a Associação vai muito mais além. Eu acho que o futuro a gente planta hoje… Eu sempre digo, o que a gente planta hoje talvez eu nem veja no futuro. Porque meu sonho é plantar cada vez mais samaumeiras, uma espécie muito, muito importante para o nosso bioma. Mas sei que não vou ver uma samaumeira que plantei hoje. Ela vai crescer 150 anos, 200 anos, o que for, e vai dar bom resultado a todos. Mas a gente não deve só pensar no futuro, porque hoje já estamos sofrendo com as consequências do que se está fazendo. Hoje já estamos ingerindo microplásticos, por exemplo. Então, não adianta só falar do futuro. Digo que a Associação quer o hoje também, para que o futuro seja fantástico, como os nossos avós deixaram para nós. Antigamente não existia sacolinha. Meu avô e eu, no mercado, enrolavamos na folha da bananeira. Hoje existem polêmicas dizendo que não é higiênico, mas eles viveram bem, porque não geravam uma cadeia enorme de resíduos como a gente vem enfrentando. Então, o futuro… Eu espero que cada um faça a sua parte.

Em vez de desmatar, a gente poder plantar cada vez mais, porque a gente depende da natureza, fazemos parte delas, estamos no ecossistema, e eu acho que ela sobrevive sem a gente. Mas, sem ela, a gente não sobrevive. Então, queremos que todo mundo repense e plante cada vez mais, e que a gente tenha muitas sombras, muitas árvores frondosas para dar sombras para muita gente.

Para a gente concluir, descreva Belém, essa porta da Amazônia.

Belém, eu acho que posso descrever como paraíso. Eu sou suspeita para falar, porque sou belenense, mas acho que a infinidade de coisas que temos aqui, que a natureza produz, acho que não tem como descrevê-la. Acho que Belém é como eu sempre falo do Sírio. O Sírio você tem que vir para sentir, viver. Belém é a mesma coisa. Dizem que quem vem a Belém tomou açaí e ficou. Mas a infinidade que tem… Temos praias de água doce, água salgada, temos infinidade de frutas, temos hospitalidade. Paraense é muito acolhedor. Não tem como descrever a minha cidade. Eu amo, acho que a minha raiz sempre fala muito forte de mim, porque acho que, Belém e falam do estado do Pará como um todo, somos uma família, em que só moramos em casas separadas. Se formos para o interior, somos bem recebidos. Se formos bem ali… Maninha, vem cá! Tem esses termos muito acolhedores. Então, Belém é Belém. Tem que vir para ver.

Eis a íntergra da conversa:


Fonte: Vatican News

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