

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, admitiu pela primeira vez que pode convocar eleições gerais no país mesmo com a lei marcial a que seu país está submetido desde a invasão russa de 2022, mas exigiu garantias de segurança dos Estados Unidos e aliados ocidentais para isso.
O ucraniano está sob intensa pressão dos Estados Unidos para fazer concessões territoriais à Rússia e chegar a uma trégua no conflito. Em entrevista nesta terça-feira (9), o presidente Donald Trump voltou a criticar a posição legal de Zelenski, cujo mandato terminou em maio de 2024.
“Eles não têm uma eleição há muito tempo”, disse. “Sabe, eles falam sobre democracia, mas chega um ponto em que já não é mais uma democracia”, completou o americano, que no começo do ano chamou Zelenski de “ditador sem eleições”.
É um ponto de pressão dos russos, com o presidente Valdimir Putin levantando a questão da legitimidade de Zelenski sempre que pode. A Constituição da Ucrânia, contudo, não permite pleitos durante lei marcial.
O ucraniano disse que pedirá ao Parlamento para encaminhar uma saída legal para que isso ocorra de 60 a 90 dias, mas apenas se houver as tais garantias de segurança de estrangeiros. Não ficou claro se ele contempla a realização com a guerra ou algum tipo de trégua.
Na prática, ele quer com isso forçar Trump a se comprometer com o tema de forma mais ampla, algo que até aqui o americano não fez. Kiev quer a presença de tropas ocidentais, a adesão à Otan ou algum mecanismo equivalente a isso em termos de proteção caso haja um cessar-fogo, visando dissuadir os russos de voltar a atacar.
Putin já rejeitou quaisquer opções que não incluam a neutralidade militar do vizinho, e chegou a dizer que a própria Rússia daria garantias ao lado dos ocidentais, uma proposta algo kafkiana que chegou a avançar nas negociações abortada em 2022.
Zelenski está acuado militarmente e politicamente, com um escândalo de corrupção tendo derrubado nomes importantes de seu governo. No caso de Andrii Iermak, o chefe de gabinete, a perda foi irreparável: ele era visto como o operador do presidente e estava à frente da revisão da proposta de paz que Trump apresentou como um prato feito cheio de ingredientes ao gosto do Kremlin, no fim de novembro.
Iermak chegou a participar da primeira reunião para revisar os termos do acordo, que foram de todo modo rejeitados pela Rússia, mas agora o ex-ministro da Defesa Rustem Umerov está a cargo do trabalho. Ele passou o fim de semana com negociadores americanos em Miami, mas não há uma saída clara.
Isso passou a pressão para o lado de Zelenski, após Putin endurecer com os enviados de Trump no Kremlin e rejeitar quaisquer concessões sobre suas demandas: conquista territorial e neutralidade militar de Kiev à frente.
No fim de semana, Trump disse estar “um pouco decepcionado” com Zelenski, ignorando que Putin não cedeu igualmente. Na segunda (8), após encontrar-se para pedir ajuda dos aliados europeus, o ucraniano voltou a dizer que não poderia ceder território aos russos.
Segundo o jornal britânico Financial Times, o republicano quer uma resposta nos próximos dias. Depois de uma visita à Itália, onde encontrou-se nesta com terça o papa Leão 14 e com a premiê Giorgia Meloni, Zelenski afirmou que deve apresentar nesta quarta (10) a mais recente revisão do plano.
Ele disse que “está pronto para uma trégua se os russos quiserem” e disse que os ataques ao sistema energético são prova de que isso vai ocorrer. Ele também afirma que quer discutir “em alto nível”, ou seja, com Trump, “nas próximas duas semanas”.
O fato é que, com os avanços russos nas últimas semanas no leste e sudeste ucranianos, ninguém sabe se Putin topará concessões que não sejam totais -em junho, ele havia colocado no papel a demanda de controle das quatro regiões que anexou ilegalmente em 2022.
Hoje, Kiev ainda domina cerca de 20% de Donetsk (leste), embora sua posição esteja precária. Nesta terça, uma semana depois de Putin anunciar a conquista do estratégico centro logístico de Pokrovsk, o comandante das Forças Amadas da Ucrânia, Oleksandr Sirskii, disse que “retirou suas tropas cerca de 5 km a 7 km ao norte” da cidade para poder abastecê-las.
Sirskii diz que ainda tem algumas unidades na cidade, mas nem os blogueiros militares ucranianos consideram isso factível. Ainda nesta terça, mais um vilarejo caiu em mãos russas, mas na província vizinha de Dnipropetrovsk.
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Fonte: Notícias ao Minuto



