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Vice de Nunes cotado para 2026 ataca Tarcísio e prefeito por fatura política com cracolândia

Cotado como opção de Jair Bolsonaro (PL) para a disputa ao Senado por São Paulo em 2026, o vice-prefeito de São Paulo, coronel Mello Araújo (PL), afirma haver exploração política do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do prefeito Ricardo Nunes (MDB) devido à cracolândia.

Em entrevista à Folha, Mello Araújo destaca seu trabalho para acabar com a concentração de usuários de drogas no centro, diz ter havido esquema de desvio de recursos destinados aos dependentes químicos durante a gestão Nunes antes de ele se tornar vice e chama de “grande enganação” uma declaração de Tarcísio, que afirmou que o “golpe fatal” contra o fluxo foi a desocupação da favela do Moinho, a 2 km de distância.

Em nota, prefeitura e governo do estado afirmaram trabalhar em conjunto. A administração Nunes diz que, com ações de saúde, assistência e segurança, realizou milhares de abordagens, prisões e fechamentos de comércios ligados ao crime e ampliou em 96% os atendimentos a usuários na região. O governo Tarcísio afirma que as ações no Moinho levaram à redução do tráfico na região, facilitando esse atendimento.

Escolhido por Bolsonaro para ser vice de Nunes na última eleição, Mello Araújo disse no final de agosto, após quatro horas de visita ao ex-presidente em prisão domiciliar, que seu padrinho político estava sendo enterrado vivo. Sobre a candidatura em 2026, afirma que Bolsonaro é quem decidirá seu futuro.

Desde que assumiu, o vice-prefeito, coronel reformado da Polícia Militar e ex-comandante da Rota, participa das ações da prefeitura na cracolândia. Em maio, a concentração de usuários na rua dos Protestantes, próximo à estação da Luz, dissipou-se.

No último dia 13, quando a dissipação completou seis meses, Tarcísio fez uma publicação em suas redes sociais exaltando a mudança. “Sim, a cracolândia acabou”, escreveu. A postagem voltou a dar destaque à região no noticiário.

O fluxo tinha, segundo dados da prefeitura, cerca de 400 usuários simultâneos consumindo drogas. Após o fim da concentração, outras aglomerações de usuários surgiram no centro.

Uma reportagem exibida pela TV Record no último domingo (16), na qual Tarcísio explicou as razões do fim do fluxo sem citar o vice-prefeito, desencadeou a reação de Mello Araújo.

O coronel disse à Folha que havia uma ação deliberada de entidades contratadas pela prefeitura para não acolher dependentes químicos. Elas eram pagas tanto para ter vagas de internação disponíveis quanto ocupadas —e, segundo ele, seria mais lucrativo manter as vagas livres.

“Como a prefeitura paga a vaga cheia, o que é melhor para a entidade? O quadro ideal é, se você tiver 60 leitos, receber por 60 leitos, mas só usar 20”, disse. “O que a gente detectou? Que tinha pessoas com interesses escusos.” Ele disse que o caso está sendo apurado pela CGM (Controladoria-Geral do Município).

Ainda segundo Mello Araújo, havia uma rede de funcionários fantasmas no serviço de atendimento médico. “No Caps [Centros de Atenção Psicossocial], onde internavam as pessoas, descobrimos 34 médicos que não iam trabalhar, que não existiam. R$ 368 mil de folha de pagamento que a gente pagava, e está sendo apurado, porque eu pedi para apurar. Esse dinheiro ia para quem?”, disse.

Em nota, a gestão Nunes confirmou as duas investigações. No caso das entidades, afirmou que, ainda em abril, identificou “cinco serviços irregulares e tomou medidas imediatas, entre elas, cancelamento de contrato”. No caso dos médicos, disse que os profissionais atuavam no modelo pessoa jurídica, recebendo apenas pelos dias trabalhados, e que não havia irregularidade.

Nunes e Tarcísio são responsáveis pela cracolândia desde 2021 e 2023, respectivamente. Mello Araújo está na função há 11 meses. Ele afirma que coordenou mudanças fundamentais para o desaparecimento do fluxo, como o fim da distribuição de marmitas no local, e que passou a exigir mais rigor no cumprimento de contratos de entidades terceirizadas.

Além disso, ainda de acordo com o vice-prefeito, a presença constante dele e de sua equipe fez com que os agentes de campo se sentissem mais valorizados, o que resultou em aumento de produtividade. “Muitos aí não acreditavam, inclusive chegaram a falar que eu estava enxugando gelo e que isso não daria em nada”, disse o coronel.

Na entrevista à TV Record, Tarcísio relacionou a desocupação da favela do Moinho, ainda em andamento, à redução do fluxo —o que Mello Araújo contesta.

“Quando a gente entrou no Moinho, a gente deu o golpe fatal na cracolândia, porque a gente fechou o canal de abastecimento, a gente mexeu na logística”, disse Tarcísio, na entrevista.

Mello Araújo ataca a versão do governador, que foi ministro de Bolsonaro. “Você vê que é gente que não conhece. Fala assim: ‘o fundamental foi a favela do Moinho’. Aí você joga no Google: quando começou tirar o pessoal da favela do Moinho? Quando começaram as tratativas? Você vai perceber que foi após o esvaziamento [do fluxo]. Já não tinha ninguém na cracolândia quando se começou a tirar o pessoal da favela do Moinho. Então, isso é uma grande enganação, você falar que o golpe fatal foi a favela do Moinho.”

A desocupação do Moinho começou no fim de abril, mas foi ganhando tração nas semanas seguintes e ainda não terminou.

As gestões Nunes e Tarcísio não comentaram a omissão do nome de Mello Araújo na divulgação das ações da região. As equipes de prefeito e do governador ressaltaram que a prisão de Leonardo Monteiro Moja, o Leo do Moinho, apontado como chefe do tráfico na região, ocorreu em agosto de 2024, antes de o coronel tomar posse.

Em sua nota, a gestão Nunes listou serviços que tiveram início antes do período de Mello Araújo, com a instalação de um SIAT (serviço de acolhida terapêutica), o Hub de cuidados em crack e outras drogas e um Caps aberto especificamente para atender o fluxo. “Somente esta unidade registrou aumento de 96% nos atendimentos de 2023 a 2024 — de 552 para 1.081”, diz o texto.

Já a gestão Tarcísio disse que tem uma atuação pautada “pelo compartilhamento de informações, o que contribuiu para a extinção da principal cena aberta de uso de drogas na região central”. O trabalho “baseado em investigações, ações de inteligência e atuação permanente das áreas de segurança” resultou no esvaziamento da área, afirma a nota.

O texto também diz que o trabalho de reassentamento no Moinho teve início em 2024, com o cadastramento das famílias e que “investigações apontaram que o local funcionava como um entreposto estratégico do tráfico de drogas, abastecendo a cena aberta de uso”.

“Desde 2023, mais de 35 mil pessoas foram atendidas no Hub de Cuidados em Crack e outras Drogas e outras 29.640 encaminhadas para atendimento em outros equipamentos”, diz o texto, que afirma ainda que “entre maio e setembro de 2025, houve redução de 63% nos roubos e de quase 30% nos furtos em comparação com o mesmo período de 2022”.


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