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Operação cola crise do Master no governo Ibaneis e cria desgaste a um ano das eleições

A operação da Polícia Federal contra o Banco Master e o BRB (Banco de Brasília) colocou no colo do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), o que deputados federais e distritais consideram ser a crise mais dura desde o início de sua gestão.

Ao se posicionar como o principal fiador político da compra do Master pelo BRB, Ibaneis deu munição aos adversários da atual vice e pré-candidata ao governo local, Celina Leão (PP), e complicou sua própria eleição ao Senado, na visão de políticos locais.

Parlamentares avaliam que Ibaneis também contratou para si o que pode ser a primeira grande CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) desde os ataques golpistas de 8 de Janeiro —e também a única de peso exclusivo sobre a administração local.

Deputados distritais do PT, do PSOL e do PSB reuniram sete das oito assinaturas necessárias para a instalação da CPI e dizem esperar que a pressão pública consiga constranger a robusta base de apoio do governador na Câmara Legislativa.

Com trânsito livre no Judiciário, 17 dos 24 distritais na base e a demissão sumária de secretários que se tornavam alvo de investigação, o emedebista tinha conseguido se distanciar de escândalos em sua gestão desde o primeiro mandato.

Em 2020, por exemplo, exonerou o secretário de Saúde e mais seis pessoas após uma operação contra a suspeita de fraude na compra de testes de Covid-19.

Horas após a decisão desta terça que afastou o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, por 60 dias, Ibaneis determinou a demissão dele e anunciou que indicaria para o lugar o superintendente da Caixa Econômica Federal em Brasília, Celso Eloi.

Apesar da movimentação rápida, parlamentares ressaltam que o governador defendeu pública e reiteradamente a compra do Master pelo BRB e acusou a oposição de tentar atrapalhar o negócio por motivos meramente políticos.

“O governador do Distrito Federal era o padrinho dessa operação. Defendeu com unhas e dentes a compra desse Banco Master, mesmo depois de o Banco Central negar a compra“, criticou o ex-governador do DF e deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB).

Após o conselho de administração do BRB autorizar a compra de 58% do Master, em março, Ibaneis afirmou à Folha que não misturava política com questões técnicas do banco e ironizou seu antecessor.

“Quase quebraram o BRB na gestão deles. Recebemos a chave da Polícia Federal na época do Rodrigo Rollemberg”, declarou.

Em setembro, o governador disse que o veto do BC à operação colocaria em risco o sistema financeiro nacional. “Nós não estamos comprando risco, estamos comprando uma oportunidade. A questão do risco para o sistema financeiro é porque, com a demora, esses ativos deles [Master] vão se deteriorar.”

Além da insistência de Ibaneis no negócio, o Master ficou ainda mais associado ao governo brasiliense por conta da aliança de Celina com o presidente do partido PP, senador Ciro Nogueira (PI), —que, por sua vez, é próximo do dono do Master, Daniel Vorcaro, preso segunda (17).

Ibaneis é pré-candidato a senador, ao lado da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro (PL), na chapa de Celina. Mesmo escanteada do arranjo, a deputada federal bolsonarista Bia Kicis (PL) anunciou que também vai se candidatar a uma vaga na Casa.

Dois dos possíveis adversários de Celina na disputa de 2026 aproveitaram para marcar posição com diversas publicações nas redes sociais ao longo do dia.

“Celina, Ibaneis, por que vocês queriam tanto comprar o Master? O que está por trás disso? A gente espera que essas investigações cheguem até o final porque o BRB é do povo de Brasília”, disse o presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Leandro Grass (PT).

“Acabou a farra de Ibaneis e Celina com o banco do povo do Distrito Federal. É só o começo. Tudo indica que serão revelados crimes bilionários”, afirmou o presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), Ricardo Cappelli (PSB).

Com a dobradinha entre Ibaneis e Paulo Henrique, o BRB passou a participar cada vez mais do governo do DF. Assumiu desde a gestão da Torre de TV, um dos cartões postais da cidade, até a operação do sistema de bilhetagem do transporte público.

Nacionalmente, o banco ganhou visibilidade a partir de uma parceria com o Flamengo, time de Ibaneis, para a criação de um banco digital. Desde 2022, o BRB também detém o “naming rights” (direito de nome, em português) do Estádio Nacional Mané Garrincha.

Pessoas a par do inquérito dizem que há indícios de que o banco estatal de Brasília tenha feito a aquisição do Master apenas para salvá-lo, uma vez que, se a instituição fosse liquidada ou sofresse uma intervenção, todos os balanços seriam escrutinados.

O Governo do Distrito Federal divulgou nota dizendo que reitera seu “compromisso com a legalidade, a transparência e a plena colaboração” com a investigação e que vai adotar “medidas internas adicionais” para “reforçar os mecanismos de governança, compliance e controle interno”.


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