

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Além de isentá-lo publicamente pela morte de um jornalista e outras violações de direitos humanos, Donald Trump entregou ao príncipe Mohammed bin Salman o instrumento que a Arábia Saudita tanto desejava para buscar uma equiparação com Israel, a mais temida potência militar do Oriente Médio.
Os caças F-35A prometidos ao reino pelos Estados Unidos só eram operados na região pelo Estado judeu, e no papel haverá um maior equilíbrio entre as forças aéreas de suas duas maiores máquinas mlitares.
É preciso enfatizar o “no papel”. Israel tem uma capacidade de combate provada por uma existência toda forjada em guerras, que chegou a um patamar novo com os conflitos decorrentes do ataque do Hamas no 7 de outubro de 2023.
Desde então, sua Aeronáutica provou-se letal com adversários menos capazes de se defender, como os terroristas da Faixa de Gaza, mas também contra o Irã, que viu seus recursos antiaéreos dizimados pelos israelense em junho passado.
Já os sauditas, de longe donos do maior gasto militar regional, penaram durante sua intervenção direta na guerra civil do Iêmen, que durou de 2015 a 2022. Como nota análise anual do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, foram expostas fraquezas no poder aéreo e no bombardeio de precisão de Riad.
Ainda assim, os F-35 são uma aquisição disputada na região. Em 2019, Trump aprovou a venda de 50 F-35A por US$ 10,4 bilhões para os Emirados Árabes Unidos, que haviam concordado em ser os principais artífices dos Acordos de Abrãao -a normalização das relações com Israel de Estados árabes, visando isolar o Irã xiita.
Em 2021, contudo, o novo governo de Joe Biden congelou a venda, alegando que os emiratis estavam muito próximos da China, que também buscou elevar a relação com Riad quando patrocinou a retomada dos laços diplomáticos entre sauditas e iranianos no ano passado.
O caso dos Emirados é um conto cautelar, claro, mas o momento político é outro. Trump parece decidido a retomar o projeto Abraão, agora que algum tipo de encaminhamento para a faixa de Gaza está em curso.
Ele até obrigou Binyamin Netanyahu a se desculpar na sua frente com o emir do Qatar pelo ataque contra membros do Hamas no reino do Golfo. O foco é fazer Bin Salman selar a paz com Israel, algo que parece muito difícil ainda com o belicoso premiê no poder.
A desconfiança é tanta que os sauditas fecharam em setembro um pacto com o Paquistão que, na prática, os transformaram em uma potência nuclear ao prever assistência com armas do tipo do país islâmico em caso de conflito.
Isso tudo explica o empurrão militar, além da necessidade de tirar Riad da rota de diversificação. Dada a resistência americana a fornecer as tecnologias furtivas ao radar do F-35, os sauditas equiparam sua frota com Eurofighter Typhoon europeus. Há hoje 71 desses modelos avançados ao lado de 217 F-15 americanos mais antigos, além de 65 aviões de ataque europeus Tornado.
Os sauditas, como os emiratis agora, namoraram até a ideia de adquirir armas russas, algo mais complexo dado o comprometimento da indústria do país de Vladimir Putin com a guerra na Ucrânia.
O sobrevoo da Casa Branca quando o príncipe chegou foi, com efeito, feito por F-35 e também F-15, sugerindo o interesse americano na grande compra de caças para substituir os modelos mais antigos do poderoso caça. Hoje, estão de olho nesse mercado o próprio Eurofighter e o francês Rafale.
Os bolsos de Bin Salman são fundos. Em 2024, segundo o instituto de Londres, o país gastou 6,5% de seu Produto Interno Bruto com defesa, tendo o sétimo maior orçamento do mundo. Isso equivale a 34,3% do volume despendido no setor no Oriente Médio.
Israel também gasta bastante: no ano passado, elevou em 79% as despesas e empenhou 6,4% do PIB com suas guerras. Tem hoje o 13º maior orçamento militar do planeta. O Estado judeu voa 39 dos 50 F-35 que encomendou, e foi o primeiro operador do modelo a usá-lo em combate. Sua frota de ataque, com 310 aeronaves, tem também F-15 e F-16 americanos.
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Fonte: Notícias ao Minuto



