
A Rádio Vaticano – Vatican News conversou com a Superiora Geral das Sementes do Verbo, Irmã Maria Sarah, uma Comunidade fundada em Belém do Pará e que hoje se encontra em vários países. Qual o carisma dessa Comunidade?
Silvonei José – Belém
A Comunidade Católica Sementes do Verbo hospeda nestes dias a Delegação da Santa Sé na COP30 e membros do Dicastério para a Comunicação: acolhe também a presidência da CNBB, do CELAM, REPAM, sacerdotes e leigos. A Superiora Geral das Sementes do Verbo, Irmã Maria Sarah, conversou com a Rádio Vaticano – Vatican News explicando um pouco sobre a fundação, o carisma e a evangelização que brota dessa missão dedicada à Igreja.
Irmã Sara, a senhora é responsável pela Comunidade Sementes do Verbo. Começamos por aqui, então. De onde vem o nome Sementes do Verbo e qual é o carisma de vocês.
Então, Sementes do Verbo é um nome que veio muito no Concílio Vaticano II, presente nos ritos e nas culturas. Cada uma das pessoas tem as sementes da Palavra de Deus no seu coração e o carisma da comunidade é justamente fazer despontar, animar, alimentar essas Sementes do Verbo para que nos tornemos cristãos maduros.
A senhora é responsável por um grupo de pessoas que fizeram uma opção. Que opção foi feita.
A opção de consagrar as suas vidas em todos os estados de vida. Então temos leigos, temos padres e irmãos, irmãs consagradas para a nova evangelização, para semearmos a Palavra de Deus a tempo e a contratempo, sobretudo onde não existe essa presença de evangelizadores para formar cristãos missionários para a igreja.
Vejo que tem uma presença juvenil muito grande. Sementes bem lançadas em terra fértil?
Sim, apesar de todos os desafios da nova evangelização, é preciso muita formação, muito acompanhamento espiritual, é preciso percursos inspirados, com pedagogias específicas para cada pessoa e também para cada cultura. Sim, é verdade, é uma comunidade jovem que tem esse entusiasmo de levar o Evangelho, lá onde muitas vezes não se ousa mais propor caminhos de formação ou de evangelização.
Como é a atuação desse levar o Evangelho?
Passa, sobretudo, por casas de retiro, onde pedimos que as pessoas venham e vejam como é bom ser cristão, venham e adorem, venham e participem dos sacramentos, da Santa Missa, da liturgia, da Léxio Divina. Que façam experiências com retiros, com a Palavra de Deus, mas também vamos ao encontro, desde as cracolândias, às favelas, às empresas, às universidades, aos hospitais, às ruas, vamos ao encontro para anunciar a Palavra de Deus. E propor. Também fazemos missões paroquiais de oito dias. Ficamos numa paróquia que às vezes está meio desanimada,
e passamos lá oito dias com um grupo de evangelização para visitar as casas, visitar todos aqueles que se afastaram, e propor que voltem para a Igreja. Então, com noites de evangelização, com retiros nas próprias paróquias – as paróquias se tornam casas de retiro durante um final de semana -, e muitas confissões de pessoas que ficaram anos e anos afastadas dos sacramentos.
Quanto é difícil fazer todas essas propostas num mundo como o de hoje, que vai tão veloz e muitas vezes não tem tempo para parar?
Eu creio que devemos ousar ir pessoa a pessoa, coração a coração, e investir tanto, quando houver uma só pessoa para evangelizar, quanto quando houver mil. Eu creio que devemos ter essa audácia, essa coragem de propor o Evangelho. E o coração humano tem sede do Evangelho.
Como é difícil atuar o carisma de vocês?
Eu creio que não se trata tanto da dificuldade, mas mais da alegria com que se propõe o Evangelho. Acho que aquilo que nos faz entrar em várias culturas e línguas, e às vezes até dialetos que nem conhecemos, é essa postura de alegria daquele que encontrou Jesus ressuscitado. E por isso, como é habitado por essa presença, tem esse fogo, esse dinamismo de ir ao encontro daqueles que ainda não têm consciência de que Jesus está vivo e que Ele está no meio de nós.
Eu vejo também que a oração e a adoração são elementos importantes.
A adoração perpétua, isto é, 24 horas. Jovens, consagrados, famílias, padres, irmãs, que se revezam para adorar Jesus, noite e dia. A liturgia cantada a quatro vozes, como belo é a liturgia, os ofícios litúrgicos, laudes, vésperas, completas. Também a Santa Missa diária, o Rosário, a Léxio Divina, tudo isso é a fonte da nossa vida cristã, mas também a nossa força, a nossa alegria, o nosso sustento para ir evangelizar.
E também para convidar as pessoas a participarem. Muitas pessoas nunca tinham participado de uma liturgia, da adoração, mas ao entrarem nas nossas casas, são como que conduzidas a entrar nesse movimento e fazem a experiência de como é bom estar com o Senhor.
Uma semente que saiu do Brasil?
Sim, a chamada do arcebispo Dom Alberto Taveira Correia foi a partir do Brasil, essa semente depois foi lançada ao mundo inteiro. Estamos em nove países, nos quatro continentes, mas saiu do Brasil. A maior parte das vocações são brasileiras, então dizer que o Brasil não pode evangelizar e que não tem vocações, não é verdade. O Brasil tem vocações sim, e pode evangelizar outros continentes, e com essa alegria própria que é do Brasil, essa jovialidade, e também essa disposição de enfrentar desafios que às vezes não são pequenos.
A senhora é portuguesa?
Eu sou portuguesa, mas tenho um coração, como vivi nos Estados Unidos, vivi na França, depois vivo há 25 anos no Brasil, tenho um coração um pouco aberto a todas as culturas e hoje a minha alegria é de ver que o Evangelho é de verdade a resposta para todos os homens, independente da sua situação econômica, social e da sua cultura. Então, estamos presentes, por exemplo, na África e como é fecundo ver o quanto é importante essa formação. Também na Ásia, nas Filipinas ou em países da Europa, muitos ainda descristianizados, no sentido de afastados do Evangelho, porque se esqueceram que precisam do Evangelho. Eles que levaram tantos missionários para o mundo inteiro, mas que hoje precisam de missionários. Também o Canadá, tanto o Canadá francês como o Canadá inglês, o quanto é necessário enviar de novo missionários, sacerdotes, jovens, que digam como é bom ser consagrado a Deus.
Fale um pouco da realidade de vocês na África.
A África foi um desafio muito impactante, porque recebemos o primeiro lugar de evangelização de toda a África, Boroma. Os jesuítas chegaram lá em 1585. Então foi a grande audácia dos jesuítas de começar a evangelizar a África e quando recebemos esse santuário estava todo destruído, todo. Então, em dois anos, com a ajuda do mundo inteiro, de pessoas que nos enviavam ajudas, e da comunidade que trabalhava noite e dia no meio dos escombros e das ruínas, todo lugar foi restaurado, e hoje é um lugar que tem uma escola com mil alunos, tem peregrinações enormes de pessoas que vêm de toda a diocese para adorar, para fazer assembleias, que chega a mais de mil pessoas. E tem uma vitalidade hoje de santuário, com ofícios, com missas, com a escola do ano sabático, que é o nosso apostolado principal. Temos 15 escolas espalhadas no mundo e essas escolas permitem aos jovens normais passarem nove meses conosco e de fazerem uma leitura orante, um estudo bíblico do Gênesis, Apocalipse, de mergulharem no Catecismo da Igreja Católica, nas encíclicas, na liturgia, na doutrina, no magistério, também na questão da antropologia, identidade, afetividade, sexualidade. De aprenderem a serem missionários. Então, hoje temos duas escolas dessas também em Moçambique. Uma em Maputo e uma em Tete, Boroma. E vemos jovens que vêm também para descobrir como é bom conhecer a Jesus.
E hoje começamos a ter vocações também sacerdotais, vocações da vida consagrada, vocações ao matrimônio, mas um matrimônio evangelizador. Um matrimônio disponível para a evangelização. Então, Boroma é esse primeiro lugar. E depois, Maputo, hoje estamos na capital, também restaurando uma missão. que acolhe, crianças com AIDS. Temos toda essa dinâmica, Moçambique ainda é muito ferido com a questão, tanto da poligamia como a difusão da AIDS. Então, temos crianças órfãs, mas a partir desse lugar, todo um esplendor de vida que recomeça para a diocese. Como um pequeno santuário, com o ano sabático, com retiros, com adoração, com festivais de jovens que vêm fazer essa experiência com Jesus.
Como nasce, então, Sementes do Verbo?
Sementes do Verbo nasce com um casal que é chamado por dom Alberto, o nosso fundador. É um diácono permanente, e sua esposa. E são chamados a dar a vida para a evangelização. Depois, se agregam outras pessoas. Eu fui a primeira irmã, mas se juntaram outros jovens, outras pessoas, que dão a vida a tempo integral. E a partir dessa vida contemplativa e missionária, surgiram várias casas. É através dos bispos, de presenças de casas ou de grandes casas de retiro, ou de presenças de fraternidades missionárias onde é necessário a evangelização. É sempre por chamado do bispo e estamos a serviço também da Igreja diocesana, nas necessidades da Igreja Diocesana. A partir daquela presença contemplativa, vamos semeando a Palavra lá onde é necessário.
Qual é o caminho para quem quer fazer parte de uma comunidade assim?
Então, não estamos muito preocupados em chamar pessoas para a comunidade, mas em propor-lhes esse caminho do ano sabático, onde elas vão descobrir a sua vocação. Então é muito bonito, por exemplo, aqui em Belém, a Madre do Carmelo foi uma jovem que fez o ano sabático e que depois de ter feito o ano sabático descobriu a sua vocação ao Carmelo e hoje, depois de várias etapas, se tornou a Madre do Carmelo e outras vocações chegaram para o Carmelo. Então o ano sabático é um celeiro de vocações para a igreja, daí saem padres diocesanos, religiosas ou membros de comunidades novas, membros de movimentos, membros ativos nas paróquias, nas pastorais e também alguns acabam descobrindo o carisma das Sementes do Verbo e entram na comunidade e fazem todo um percurso formativo.
Podemos dizer que é um pontapé na fé das pessoas?
Sim, podemos dizer que é uma faísca para reacender o fogo que já existe nos seus corações, mas que está um pouco apagado, um pouco esquecido. É como um soprar nas Sementes do Verbo que já existem nos seus corações. E também, através do acompanhamento espiritual, ajudar as pessoas no caminho de cura, de libertação, um caminho de leitura da sua própria história e encontrar aí os sinais da sua própria vocação. Uma coisa que fazemos espalhando em sete línguas é o compêndio da Léxio Divina. Ensinar que as pessoas, em qualquer lugar onde estejam, elas podem fazer a leitura orante da Palavra de Deus, fazer o seu diário espiritual, escrevendo aquilo que elas descobrem da Palavra de Deus. É como que fazer um percurso espiritual através da Léxio Divina. Então, espalhamos como sementes esse compêndio da Léxio Divina em italiano, em inglês, em português, em espanhol, em francês, em tagalo das Filipinas. Espalhamos esse compêndio para dizer às pessoas, se você é empresário, se você está preso, se você está num hospital, se você está numa cracolândia, se você mora na rua, se você é pai de família, se você é universitário ou estudante, você pode, você vai crescer muito espiritualmente. Normalmente, se você tiver esse hábito de todos os dias consagrar um momento à Palavra de Deus e rezar com esses textos que a liturgia nos dá, que são os textos de cada missa, mesmo que não tenham, às vezes, acesso ao sacramento, já viver essa liturgia da Palavra vai enriquecer muito a sua vida espiritual.
E qual é o futuro?
O futuro é estar atento aos chamados de Deus e da igreja. Eu creio que é não escolher campo de missão, também não ter medo face aos desafios. Às vezes são desafios muito desafiadores, porque nos dão ruínas, porque são lugares onde não tem meios, às vezes, de subsistência, porque são lugares onde há muitas dificuldades para implantar o Evangelho. Mas eu creio que se a comunidade tem confiança na divina providência e também no chamado dos bispos, o Senhor provê e pouco a pouco as questões vão se resolvendo.
Esta casa que hoje acolhe os bispos, a delegação do Vaticano, a COP, estava em ruínas há 15 anos, e nos foi confiada totalmente destruída. E me lembro que era habitada por moradores de rua, tinha sido tomada. E pouco a pouco, com a adoração perpétua, com uma comunidade de irmãos… Foi sendo restaurada. Hoje temos uma história muito bonita. Uma das crianças desse bairro, que é um bairro pobre, à nossa volta só tinha palafitas quando chegámos aqui há 15 anos. Mas uma das crianças que veio nos ajudar a lixar as paredes da igreja, a limpar, a arrumar, porque a população ficou tão feliz quando soube que a casa ia abrir de novo, e viram irmãs a limpar a igreja, a arrumar. Então, uma das crianças, na verdade, ele já era um adolescente, hoje vai ser ordenado padre de 8 de dezembro. Então, há 10 anos, era um adolescente desse bairro e hoje vai ser ordenado sacerdote. E como ele, tantas vocações que esta casa suscitou, formou, acompanhou. Então, de um lugar de ruínas, hoje tem uma casa que acolhe a delegação do Vaticano, mas não só os bispos, não só a igreja, que já seria um grande serviço, mas tantos jovens, tantos casais que passaram por aqui ao longo desses 15 anos e que foram restaurados, que foram revigorados na sua fé e que hoje são vocações maduras, como irmãos, padres, irmãs, famílias santas que estão ao serviço da nova evangelização.
Quero agradecer a acolhida que nós tivemos aqui como delegação do Vaticano, como nosso Dicastério para a Comunicação. Ver o entusiasmo, a alegria de vocês, e essa acolhida que faz realmente o diferencial. Muito obrigado, irmã, muito obrigado, mas esperando que a casa de vocês, sabemos que temos também agora na Itália, seja realmente semente também naquela terra.
Eu agradeço a vossa visita, não só dos cardeais, dos bispos, do Núncio, mas também da vossa delegação, foi para nós um momento muito feliz de tocar essa universalidade da igreja. Ontem tínhamos a missa com o bispo do Peru, o bispo da Índia e um bispo da África, do Congo. Então, de ver essa universalidade da Igreja que está presente em lugares de martírio, como nos testemunhavam os cardeais, mas que não desiste, que tem esperança, que vale a pena evangelizar.
Obrigado, irmã. A missão é grande, mas uma coisa que chama a atenção, vocês têm sempre um sorriso para distribuir e a gente agradece por isso.
Obrigado, mas eu creio que levar o Evangelho com alegria, como nos ensinava nosso Papa Francisco e agora o Papa Leão, que faz isso com tanta humildade, com tanta esperança, com tanta alegria, abre muitas portas. E a alegria é como essa chave para corações que às vezes até esqueceram Deus, mas que podem ser, sim, habitados pela presença de Deus.
A Comunidade Católica Sementes do Verbo
Nasceu em Palmas-TO, Brasil fundada pelo casal Diác. Georges e Marie-Josette por chamado do primeiro Arcebispo da Arquidiocese, Dom Alberto Taveira Corrêa (hoje Arcebispo Emérito de Belém-Pa).
Fundada em 16 de julho de 2004, é uma Associação Privada de Fiéis, com personalidade jurídica, com o decreto de reconhecimento e aprovação canônica, aos vinte e nove dias do mês de março de 2005, pelo Arcebispo Dom Alberto Taveira Corrêa. Na mesma data, em 2005, seus estatutos tiveram sua aprovação definitiva.
Faz parte das Comunidades Novas da Igreja Católica e é membro do CHARIS, Associação Internacional reconhecida pela Santa Sé. A Comunidade está presente em vários países, com diversas casas e missões. Reunindo membros de diversos estados de vida (consagrados, famílias, viúvos, padres e leigos), numa vida doada, a tempo integral, a serviço da evangelização.
Carisma
A Comunidade tem como carisma tornar a Palavra de Deus acessível a todos e fazer crescer, em cada um, a dignidade de filhos e filhas do Senhor. Busca transmitir “o que ouviu, o que viu e contemplou” de Cristo Palavra, por meio de iniciativas que integram espiritualidade, formação e ação missionária. Procura descobrir e valorizar as “Sementes do Verbo” escondidas nos corações e nas vidas humanas.
Fonte: Sementes do Verbo
Fonte: Vatican News


