
O alerta é do Prof. Jackson Rego Matos, com vasta experiência no âmbito acadêmico e na vivência na floresta amazônica. Entre outros, na entrevista à Rádio Vaticano ele antecipou a proposta de, como um dos legados da COP30, a construção de um barco, ao estilo do Barco do Papa Francisco que navega pelos rios da Amazônia, atendendo populações ribeirinhas.
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“Não podemos deixar que a COP se transforme em um balcão de negócios de recursos naturais”, chama a atenção o Prof. Jackson Rego Matos*, recordando também a mensagem à COP30 de Leão XIV, onde alerta que “não temos mais tempo”. “Chegamos ao limite e a floresta amazônica está pedindo socorro”, completa ele, defendendo que é preciso dar uma guinada e “aprender com as populações indígenas”
Com um vasto currículo, o professor titular da Ufopa passou praticamente um ano na copa de uma árvore na floresta amazônica, o que lhe permitiu conhecer in loco e reunir conhecimentos sobre a dinâmica da floresta e a interconexão entre os vários elementos que a compõe.
Pós-doutorando na Universidade de Siena, o professor Jackson mantém contatos acadêmicos também com as Universidades de Florença, Pisa e Arezzo, o que permite intercâmbio com professores das áreas ambiental, histórica e geográfica, bem como o acompanhamento de todo o processo da COP 30. E uma das perguntas que surge nos encontros é: “Qual o legado que a COP30 pode deixar para as comunidades, para as populações e a floresta amazônica?”.
Mas desde sua graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná, em 1989, até o pós-Doutorado na Itália, não faltaram experiências no mundo acadêmico e no meio da floresta, como por exemplo, durante o Mestrado feito na Floresta Nacional do Tapajós, em 1992. O professor do Instituto de Biodiversidade e Floresta fazia observação de dispersão e estabelecimento de plântulas em clareiras, ou seja, “como que a floresta funciona, como forma sua composição e estrutura”. Esse trabalho permitiu-lhe constatar o padrão de que “todas as espécies têm uma função, que é essa interdependência”, o que levou ao passo sucessivo: o Doutorado em “Diálogo dos Saberes”, também ligado ao universo das populações indígenas, o que lhe permitiu uma maior compreensão “do que é a floresta”.
O também engenheiro florestal, afirma que a floresta amazônica é “uma criação divina”, resultado de “um grande processo de manejo humano”, de milhares de anos, que permitiu essa diversidade”. E na entrevista, não deixa de relacionar o valor da floresta com os saberes indígenas, sugerindo a necessidade de uma mudança de um modelo meramente extrativista, para um processo que inclua “reciprocidade, interdependência e da coexistência”.
A mudança de mentalidade começa também com a formação, pelo qual é destacado o trabalho realizado com a Pastoral Socioambiental de Santarém, no sentido de fortalecer a juventude, com “homeopatia da terra, com a agroecologia, com o manejo florestal de uso múltiplo dos recursos, com etnoturismo de base comunitária e a biotecnologia”.
Os meses de estudos na Itália, também lhe permitiram uma verdadeira imersão em locais caros ao cristianismo e à espiritualidade franciscana, como o Santuário della Verna, onde há 800 anos São Francisco recebeu os Sagrados Estigmas: “Assistia à Missa e à tarde participava da Procissão dos Estigmas de Cristo. Essa energia forte dos frades cantando Laudato Si…Ali a gente começa a sentir uma força muito grande de um acontecimento que é como um fogo, como uma ‘bomba atômica’ de fé… Então, trabalhar essa fé, trabalhar essa força…o que segura aquela floresta (floresta amazônica), é a fé”.
A espiritualidade unida ao trabalho científico podem se conferidas na longa entrevista concedida à Rádio Vaticano/Vatican News.
“Prof. Jackson Rego Matos é Professor Titular da Ufopa; Engenheiro Florestal, Mestre em Ciências Florestais, INPA, 1993. Doutor em Políticas Públicas e Meio Ambiente, CDS/Unb, 2003. Professor do Instituto de Biodiversidade e Floresta. É membro da Alas, IHGTap, Folião do Sairé.
Fonte: Vatican News