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O pobre como ícone vivo: jejum, oração e esmola na tradição oriental – Vatican News


Neste Dia Mundial dos Pobres, instituído na Igreja Latina pelo Papa Francisco, de venerável memória, e cuja importância é reiterada pelo seu sucessor, o Papa Leão XIV, nós, como cristãos do Oriente, somos convidados a meditar sobre o pobre através da lente da nossa antiquíssima Tradição Apostólica, nascida em Antioquia.

Dom George Khoury – Eparca Melquita de Nossa Senhora do Paraíso do Brasil

Aos amados filhos e filhas da Eparquia Melquita de Nossa Senhora do Paraíso, e a todos os irmãos de boa vontade, “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Esta promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo, que vivo, intensamente, no exercício do meu serviço episcopal, revela o propósito último da nossa fé: a Theosis, a nossa participação na vida divina.

Neste Dia Mundial dos Pobres, instituído na Igreja Latina pelo Papa Francisco, de venerável memória, e cuja importância é reiterada pelo seu sucessor, o Papa Leão XIV, nós, como cristãos do Oriente, somos convidados a meditar sobre o pobre através da lente da nossa antiquíssima Tradição Apostólica, nascida em Antioquia.

Na nossa espiritualidade oriental, não compreendemos a fé sem a Liturgia, e não compreendemos a Liturgia sem a vida. E a vida espiritual se apoia, desde os primórdios, sobre um tripé inseparável: o Jejum, a Oração e a Esmola.

Muitas vezes, damos grande ênfase ao jejum e à oração, especialmente nos tempos fortes do ano litúrgico. Mas os Santos Padres da Igreja Grega, nossos mestres, são rigorosos em nos advertir: o jejum sem a esmola é inútil, e a oração sem a misericórdia é estéril.

São Basílio Magno, o grande Doutor de Cesareia, nos ensina que o pão que guardamos em nossa despensa, já mofando, não nos pertence. Ele pertence a quem tem fome. “É do faminto o pão que tu reténs; é do nu a roupa que guardas em teus armários; é do descalço o calçado que apodrece em tua casa; é do indigente o dinheiro que tu enterras.”

Para a nossa Tradição, a esmola — em grego, eleemosyne — compartilha a mesma raiz da palavra “misericórdia” (eleos). Não é um ato de filantropia social; é um ato de participação na Philanthropia divina, o amor de Deus pela humanidade, manifestado plenamente na Encarnação do Verbo.

A nossa teologia nos ensina a venerar os santos ícones. Beijamos a madeira e a tinta, não por idolatria, mas porque o ícone é uma janela para o divino, tornando presente Aquele que é representado.

Pois bem, os Santos Padres nos ensinam que o pobre é um ícone vivo de Cristo.

Nosso maior mestre de Antioquia, São João Crisóstomo, o “Boca de Ouro”, advertiu-nos com palavras que ecoam através dos séculos: “Queres honrar o Corpo de Cristo? Não O desprezes quando O vires nu nos pobres, nem O honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto O abandonas lá fora ao frio e à nudez”.

O altar onde celebramos a Divina Liturgia e o pobre que encontramos na rua são dois lugares da presença real de Cristo. Não podemos honrar um e desprezar o outro.

Portanto, neste Dia Mundial dos Pobres, somos chamados a um ato litúrgico que se estende para além das portas do templo. Quando praticamos a esmola, o jejum ganha sentido (jejuamos para partilhar) e a oração ganha autenticidade (reconhecemos em Deus o Pai de todos).

Ajudar o pobre não é um ato de superioridade, mas um ato de veneração. Ao nos inclinarmos para lavar os pés do necessitado, estamos nos inclinando diante de um ícone do Senhor.

Que este dia seja para nós uma renovação do compromisso com as três colunas da vida cristã. Que o nosso jejum seja partilhado, que nossa oração seja encarnada e que nossa esmola seja a expressão do nosso amor pela Vida Divina que Cristo (cf. Jo 10, 10) nos oferece, e que vemos refletida no rosto de cada irmão.


Fonte: Vatican News

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