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O ex-presidente da Cáritas e vigário apostólico emérito de Anatólia falou à mídia vaticana sobre a próxima visita apostólica do Papa a um país “fascinante e generoso”, um mosaico de muitas comunidades religiosas: “A visita do Papa é uma grande oportunidade ecumênica, e o aniversário de Niceia servirá para reviver o espírito que inspirou os Padres Conciliares: expressar a fé em novos termos e categorias, buscando o que une.”
Daniele Piccini – Vatican News
“Nos meses que se seguiram ao terrível terremoto na Turquia, há dois anos, a Cáritas teve que expandir rapidamente suas operações, e todos nós trabalhamos juntos, católicos e muçulmanos, derrubando as tradicionais barreiras de separação e demonstrando como o diálogo inter-religioso mais profundo, como disse o Papa Francisco, é o da vida, especialmente na ajuda aos pobres.” Monsenhor Paolo Bizzeti, presidente da Cáritas Turquia de 2019 até alguns dias atrás, ainda recorda com carinho a colaboração inter-religiosa entre católicos e muçulmanos em prol das pessoas afetadas pelo terremoto como uma das experiências mais preciosas de seu longo período no país. O prelado, que serviu como Vigário Apostólico de Anatólia de 2015 a 2024, conhece profundamente a região. Ele compartilhou seus pensamentos e impressões com a mídia vaticana sobre a próxima viagem apostólica do Papa Leão XIV à Turquia, que levará o Pontífice em peregrinação a Ancara, Istambul e İznik, a antiga Niceia, para o aniversário de 1.700 anos do Primeiro Concílio Ecumênico.
De 27 a 30 de novembro, o Papa Leão XIV fará sua primeira viagem apostólica à Turquia, onde os cristãos são uma pequena minoria. Em sua opinião, qual o significado desta visita para eles?
Visitar pessoalmente o rebanho e levar a proximidade do Bom Pastor é o propósito destas viagens papais. A Turquia é um país importantíssimo não só pela sua história — o cristianismo como o conhecemos nasceu em Antioquia do Orontes, outrora capital da província romana da Síria, hoje na Turquia — mas também pela relevância contemporânea da vida cristã. A Turquia é um laboratório no qual a Igreja Latina também deve estar ativa e humildemente presente.
E depois há o aniversário do Concílio de Niceia…
De fato, a visita do Papa é também uma grande ocasião ecumênica, e o aniversário de Niceia servirá para reavivar o espírito que inspirou os Padres Conciliares: expressar sua fé em novos termos e categorias, buscando o que une, como disse São João XXIII. Esta é uma tarefa que deve ser sempre renovada.
Poderia descrever, em linhas gerais, o panorama religioso que Leão XIV encontrará ao chegar à Turquia?
Religiosamente, a Turquia é um mosaico no qual convivem o Islã político, aquele religioso tradicional, a escola espiritual dos sufistas, a escola alauíta, o agnosticismo ou teísmo de muitos, e significativas minorias cristãs. Mas a pastoral católica é muito limitada por leis ou práticas que impedem a construção de capelas, centros para jovens e centros culturais. Tudo acontece em algumas poucas paróquias, estabelecidas segundo o Tratado de Lausanne, de um século atrás.
Em 6 de fevereiro de 2023, um terremoto de magnitude 7,8 atingiu as áreas fronteiriças entre a Síria e a Turquia, matando mais de 50 mil pessoas, segundo relatos. A resposta da Caritas Turquia, apesar das inúmeras dificuldades, foi massiva, comprometida e eficaz. Como foi essa experiência para toda a Caritas?
O número real de vítimas é estimado como muito maior, e o número de deslocados chegou às centenas de milhares. Uma tragédia tremenda, portanto, diante da qual todos nós descobrimos nossa fragilidade, e cujas consequências ainda pesam muito sobre as comunidades locais mais pobres. Para nós, da Caritas, foi um desafio que nos obrigou a crescer rapidamente, não sem dificuldades e erros. Mas ficamos muito felizes por termos dado nossa contribuição, por termos colaborado com organizações de ajuda humanitária locais e nacionais, e por termos sido convidados e agradecidos oficialmente em Ancara. Fomos reconhecidos, algo inédito, como uma organização que ajuda as pessoas de forma altruísta, sem distinção. Como católicos, temos orgulho de termos dado nossa pequena contribuição, fazendo frutificar ao máximo a ajuda que generosamente chegou dos quatro cantos do mundo.
Então, pode-se dizer que o trabalho da Caritas Turquia, focado sem discriminação em muçulmanos e cristãos, também teve efeitos positivos nas relações entre os dois grupos religiosos?
Nos meses que se seguiram ao terremoto, trabalhamos juntos, derrubando as barreiras tradicionais de separação e demonstrando como o diálogo inter-religioso mais profundo, como disse o Papa Francisco, é o da vida, especialmente na ajuda aos pobres.
Que impacto o senhor acha que a visita apostólica do Papa terá sobre os colaboradores da Caritas Turquia e no ambiente em que a organização caritativa trabalha?
Certamente será uma oportunidade maravilhosa para todos os colaboradores se sentirem parte do Povo de Deus, unidos no serviço e no cuidado aos mais vulneráveis, uma característica do cristianismo, seguindo os passos de Jesus, servo de todos.
Fonte: Vatican News
