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Gestão Tarcísio tira Sabesp do foco e tenta evitar que crise hídrica gere desgaste eleitoral

Com moradores da Grande São Paulo podendo enfrentar até 16 horas por dia sem água, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) ajusta a comunicação da crise hídrica para evitar desgaste político em torno de uma de suas principais bandeiras: a privatização da Sabesp.

A equipe do governador avalia que um agravamento da crise poderia enfraquecer o momento considerado favorável, com impactos em 2026, quando Tarcísio estará em disputa eleitoral —é cotado na direita à Presidência, mas diz que buscará a reeleição.

Após um ano de decisões criticadas e de recuperação de Lula (PT) nas pesquisas, a atual crise da segurança pública abriu espaço para propostas de Tarcísio contra a violência —tema em que políticos da direita costumam ter mais visibilidade que a esquerda.

Mesmo após repassar o controle da companhia ao setor privado, Tarcísio acompanha de perto a comunicação da Sabesp. Há três meses, recebeu em seu gabinete, em reuniões fora da agenda oficial, o publicitário Nizan Guanaes, encarregado da publicidade da empresa, e Felipe Nunes, da Quaest, que neste ano fez pesquisa de opinião para a companhia.

“Estive meses atrás para mostrar a campanha sobre o enorme esforço de transformação de consertar, renovar e inovar uma rede que tem quatro vezes e meia a volta à Terra”, disse Nizan à Folha. Nunes também confirmou o encontro.

A possibilidade de impacto no abastecimento, porém, fez a atenção ser redobrada. Na crise hídrica de 2014-2015, com a Sabesp ainda estatizada, decisões do governo eram anunciadas pela empresa e vice-versa. O então governador Geraldo Alckmin (PSB), ainda tucano, chegou a garantir em debate eleitoral que não faltaria água, para depois admitir a necessidade de racionamento.

Neste ano, a Sabesp não foi chamada para o anúncio da consulta pública sobre a metodologia para reduzir o consumo, que prevê diminuir a pressão do sistema por até 16 horas por dia, atingindo principalmente os bairros mais afastados.

O governo afirma que a companhia não formula políticas públicas e que poderá se manifestar ao longo dos 30 dias de consulta.

“Nós fizemos muito a questão de preservar os papéis institucionais de cada ente. A Sabesp é operadora, ela mexe nas válvulas do sistema. Ou seja, ela tem a obrigação de cumprir essas determinações, essas reduções de pressão. Mas a Sabesp não é formuladora de política pública e ela não é autônoma para definir as próprias regras de operação”, disse Thiago Mesquita, presidente da Arsesp (agência que fiscaliza a concessão).

A secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, tem defendido tanto a privatização quanto as ações da empresa. Em audiência na Alesp (Assembleia Legislativa), ela disse à Folha que, sem privatização, a rede corria risco de “desestruturação” —embora a Sabesp se mantivesse superavitária e com capacidade de investimentos.

“A privatização da Sabesp veio para fortalecer a resiliência hídrica. Caso contrário, a gente teria um problema de desestruturação da infraestrutura”, afirmou. Ela afirmou que o contrato da desestatização prevê aumento da resiliência contra estiagem.

A reportagem questionou o governo se havia evidências que sustentassem o argumento e recebeu como resposta uma nota que trouxe projeções baseadas em um estudo privado usado no processo de privatização que apontou a possibilidade de a Sabesp perder clientes para concorrentes.

O estudo “previa uma perda potencial de 50% dos municípios operados pela Sabesp estatal em 15 anos (2038). A desestatização foi, portanto, fundamental para garantir a continuidade do modelo regional vigente, que permite a integração das infraestruturas”, afirmou o texto.

A opção por tirar a Sabesp das discussões é criticada por parlamentares de oposição. “Para conseguir falar com a Sabesp, é uma batalha. O governo quer tratar tudo via Arsesp”, disse o deputado estadual Antonio Donato (PT), que também questiona o impacto da redução de pressão. “Quem acaba punido é o morador da periferia”.

Sob reserva, um técnico da empresa aponta outro potencial foco de desgaste que está fora dos planos do governo: metas de consumo per capita. Mesmo com modelos não punitivos, como bônus a quem economiza, a proposta pode ser interpretada como racionamento.

Este técnico, contudo, afirma que, caso o regime de chuvas fique dentro da média histórica, o risco de agravamento da escassez é baixo. O cenário deste ano é mais próximo ao enfrentado em 2021 do que em 2014, segundo o governo.

A secretária Natália afirma que as metas não são necessárias. “A gente tem estudado todas as medidas necessárias. As que a gente colocou no plano de contingência, e que têm dado resultado, são aqueles que a gente viu que a gente consegue alcançar os resultados”, disse.

Em nota, a gestão Tarcísio afirmou que “quanto às reuniões entre o Governo de São Paulo e as empresas concessionárias que atuam no estado, elas são importantes para o acompanhamento da prestação de serviços essenciais à população e tratam de temas do mais absoluto interesse público, inclusive relacionados às campanhas de utilidade pública”.


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