
Das coleções missionárias de Pio XI à nova seção dedicada à Ásia, o museu etnológico Anima Mundi dos Museus Vaticanos mantém viva a mensagem universal de paz, diálogo e fraternidade da Exposição de 1925.
Paolo Ondarza – Cidade do Vaticano
Testemunhas de encontro, paz e reciprocidade intercultural. Cem mil objetos de todo o mundo foram exibidos em 26 pavilhões para a Exposição Missionária de 1925. Cem anos mais tarde, esse evento está sendo comemorado nos dias 5 e 6 de novembro com uma conferência internacional na Universidade IULM, na Pontifícia Universidade Urbaniana e nos Museus Vaticanos.
Levar ao conhecimento de todos as missões católicas e as tradições locais
Desejada por Pio XI em concomitância com o Jubileu, a Exposição teve o duplo propósito de ilustrar a ampla presença das missões católicas em todo o mundo e de promover as tradições culturais, artísticas e espirituais de diferentes povos.
Mais de um milhão de visitantes
A Exposição Missionária Vaticana “foi um evento importantíssimo, desejado por um Pontífice iluminado, aberto, curioso”, afirma Nadia Fiussello, curadora do setor para as Coleções Etnológicas Anima Mundi dos Museus Vaticanos. A ideia era aquela de narrar as terras das missões, mas também, e sobretudo, “a vida das pessoas por meio de objetos e os vários aspectos do seu quotidiano, tanto cultural como religioso”.
Inaugurada a 21 de dezembro de 1924, encerrou a 10 de janeiro de 1926, atraindo mais de um milhão de visitantes e obtendo um notável sucesso de público e crítica.
As descrições dos missionários
Os objetos, ou as suas reproduções em miniatura, feitas quando o espaço era muito limitado para transportar os originais, chegaram ao Vaticano em enormes caixas de madeira. Eles foram acompanhados por descrições escritas pelos missionários.
Essas anotações revelam a sensibilidade inerente a cada ordem ou congregação missionária. Algumas destacavam aspectos intelectuais em vez de culturais ou relacionados à vida cotidiana, como hábitos alimentares ou de saúde.
Agostino Gemelli e o Pavilhão da Medicina
“Diferentemente das grandes exposições universais europeias, Pio XI desejou que fosse contada a história e a vida cotidiana dessas populações”, acrescenta Fiussello, compartilhando uma história particularmente interessante: “O Papa Ratti incumbiu Agostino Gemelli de se dedicar ao Pavilhão da Medicina, do qual ainda restam muitos objetos.” O objetivo era ilustrar “aqueles remédios utilizados por diversas populações ou pelos próprios missionários para tratar doenças como a febre amarela. O uso da medicina não química, hoje novamente muito relevante, está documentado, por exemplo, na tradição chinesa.”
A terceira linguagem
As obras da Exposição, em grande parte transferidas em 1926 para o Museu Etnológico do Vaticano, hoje conhecido como Anima Mundi, falam o que Fiussello chama de uma terceira linguagem. Uma linguagem de síntese: não relacionada nem aos missionários ocidentais, nem às suas culturas de origem.
Missão é encontro
“O nosso museu é diferente de qualquer outro museu etnológico do mundo: nasceu como um museu missionário. Há muitos objetos católicos e cristãos que testemunham o encontro com as populações locais. Os missionários introduziram imagens figurativas de Cristo, da Virgem Maria e dos santos, mas estas foram assimiladas pelas culturas locais, que as transformaram utilizando a iconografia nativa.”
Dos Museus de Latrão aos Museus Vaticanos
O Museu Etnográfico Vaticano foi fundado por Pio XI com o Motu Proprio Quoniam tam praeclara de 12 de novembro de 1926. Sua criação foi confiada ao padre Wilhelm Schmidt.
Inicialmente localizado na Basílica de São João de Latrão, o museu abrigava aproximadamente oitenta mil obras da Exposição Missionária do ano anterior. Em 1976, a pedido de Paulo VI, sob a supervisão do padre Jozef Penkowski, foi transferido para os Museus Vaticanos.
O novo Anima Mundi
Nos últimos anos, com uma coleção que cresceu graças às constantes doações recebidas dos Papas durante audiências e viagens apostólicas, o museu passou por transformações radicais: “A exposição da década de 1970 apresentava muitos objetos expostos, que corriam o risco de serem danificados pelo contato constante com os visitantes. Hoje – explica Nadia Fiussello – nossos depósitos estão à vista de todos, diretamente acima do museu, onde os objetos são exibidos atrás de vidros completamente transparentes”, proporcionando uma experiência imersiva.
Seção Ásia
Após as seções dedicadas à Oceania, às Américas e à África, é aberta ao público nesses dias a primeira parte da Ásia, dedicada ao Japão e à Coreia. “Já concluímos quase totalmente a montagem da Floresta de Budas e, graças ao constante monitoramento do clima e ao trabalho meticuloso dos restauradores do Laboratorio Polimaterico, a vitrine de laca também está pronta.”
Embaixadores da Paz
Durante cem anos, os objetos provenientes de todas as latitudes continuam a falar e a contar as tradições seculares de povos distantes: “Esses artefatos são embaixadores”, conclui a curadora da Anima Mundi, observando como a relação com seus países de origem possibilitou o aprendizado de metodologias adequadas de restauração. O contato com os povos de origem também proporcionou a oportunidade de determinar se um objeto deve ou não ser exibido ao público, com base em seu significado cultural e religioso.
“Nosso museu não é apenas um local de armazenagem de obras, mas uma realidade em constante evolução, em contato constante com os povos de origem, com o objetivo de promover um mundo de paz e fraternidade.”
Photogallery
A nova seção asiática do Museu Anima Mundi dos Museus Vaticanos. Veja a galeria de fotos.
Fonte: Vatican News








