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O que a Folha pensa: Governos Tarcísio e Lula trocam farpas em crise do metanol e voltam a disputar visibilidade política

A um ano da eleição, os governos Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Lula (PT) trocam farpas nos bastidores e voltam a disputar protagonismo em um episódio de visibilidade política. Desta vez, com a crise do metanol, em que a intoxicação pela substância já causou ao menos seis mortes.

A gestão Lula anunciou a abertura de inquérito na Polícia Federal para apurar a suposta participação do crime organizado na adulteração de bebidas. Pouco depois, a gestão Tarcísio realizou uma entrevista coletiva de imprensa em que negou envolvimento de organizações criminosas no caso.

Lula já anunciou ter interesse em disputar seu quarto mandato, enquanto Tarcísio é cotado para se candidatar à Presidência em 2026 com apoio de Jair Bolsonaro (PL).

Reservadamente, autoridades do governo federal se queixam da falta de alinhamento com a gestão estadual e com a Prefeitura de São Paulo, de Ricardo Nunes (MDB), em relação a medidas que precisam ser tomadas daqui para frente, como futuras fiscalizações e prevenção de novos casos.

Também dizem que houve precipitação em dizer que não há envolvimento do crime organizado e justificaram a entrada federal devido à confirmação de mortes suspeitas em outros estados.

Integrantes do governo Tarcísio, por outro lado, criticam a gestão Lula ao citar que a fiscalização do envase de bebidas é do Ministério da Agricultura. O federal, por sua vez, diz que a fiscalização da comercialização cabe ao governo estadual.

A crise do metanol começou a ganhar fôlego no final de semana e, na segunda-feira (29), o governador de São Paulo foi alvo de críticas da oposição por estar em Brasília, visitando Bolsonaro, que está em prisão domiciliar.

Na manhã desta quarta, ele era esperado em um evento de entrega de habitações na zona leste de São Paulo, mas depois, em meio à crise, cancelou sua participação.

Da parte do governo Tarcísio, a queixa é de que não haveria motivo para a PF estar no caso, que já estaria em apuração por parte do governo estadual.

Interlocutores do governador dizem ainda que, em todos os episódios de repercussão nacional, a administração petista busca entrar para ter protagonismo, como na investigação do assassinato do ex-delegado Ruy Ferraz, especializado na organização criminosa do PCC (Primeiro Comando da Capital).

A PF investiga quando há indícios de que o crime tenha sido interestadual. No episódio do metanol, há outros casos suspeitos, como as mortes em Pernambuco.

O ministro Ricardo Lewandowski disse na terça-feira (30) que “ao que tudo indica, [a rede de distribuição] transcende os limites de um único estado”.

O diretor da PF, Andrei Rodrigues, por sua vez, declarou que o órgão vai investigar o caso pela superintendência de São Paulo e que as respostas virão em “um curto espaço de tempo”. Também declarou que esse trabalho será feito junto com outros órgãos, como a Polícia Civil de São Paulo.

Ele justificou a atuação da PF no caso afirmando que é possível conexões com investigações recentes do órgão em São Paulo e no Paraná sobre a cadeia de combustíveis, já que parte da importação de metanol passa pelo porto de Paranaguá. Ainda será investigada, segundo o diretor, a relação disso com o crime organizado.

Em São Paulo, a principal tese hoje é de que o metanol era usado para lavar as embalagens, não misturado com a bebida, que era falsificada. E que não haveria indícios de elo do PCC com esse episódio.

“Tudo o que acontece agora em São Paulo é PCC. Não tem evidência nenhuma de participação do crime organizado nisso”, disse Tarcísio na terça.

Ele afirmou a interlocutores que relutou em classificar o caso do metanol como “crime organizado” porque as investigações não apontaram o envolvimento de uma quadrilha estruturada, com atuação nacional e suporte financeiro.

A avaliação que ele compartilha é de que os embates devem continuar à medida que o ano eleitoral se aproximar.

O manejo desta crise e, principalmente, da apuração criminal é relevante tanto para Lula quanto para Tarcísio do ponto de vista eleitoral. Os casos tomaram proporção nacional, gerando medo na população.

Apesar da disputa no comando da investigação e da troca de farpas nos bastidores, equipes técnicas dos executivos federal e estadual estão se reunindo desde sexta-feira (27), quando surgiram os primeiros alertas de episódios atípicos de intoxicação, para trocar informações sobre os casos concretos e como lidar com eles.

No começo da semana, por exemplo, a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), do Ministério da Justiça, emitiu alerta aos Procons do país, com orientações para fornecedores e consumidores sobre a segurança da comercialização e do consumo das bebidas.

A Associação Brasileira de Combate à Falsificação divulgou nota no domingo (28) na qual diz que os casos de intoxicação por metanol após consumo de bebida alcoólica adulterada podem ter ligação com atividades do PCC.

O promotor Yuri Fisberg, do Ministério Público de São Paulo, disse ser precoce a afirmação de que o metanol usado para batizar bebidas alcoólicas pode ser o mesmo importado ilegalmente por facções criminosas para adulterar combustíveis.

Em agosto, a Polícia Federal e o Ministério Público fizeram operações simultâneas contra a atuação do crime organizado, como o PCC, na cadeia produtiva de combustíveis e no setor financeiro.

Na ocasião, os dois órgãos marcaram entrevistas coletivas para o mesmo horário sobre o tema, em mais um capítulo da disputa pela coordenação das investigações sobre o crime organizado no país.


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