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Em Antananarivo, o movimento de manifestações da “Geração Z” continua em mobilização. No domingo, 12/10, parte do Exército se uniu aos manifestantes se recusando a disparar gás lacrimogênio e bombas de efeito moral. A Igreja, preocupada, pede diálogo e o fim da violência.
Federico Piana- Vatican News
A escalada de protestos que tem abalado Madagascar há semanas ocorreu, neste domingo (12/10), também em Antananarivo, capital do país africano.
O que era um dos piores pesadelos temidos por observadores internacionais e por chancelarias diplomáticas se tornou realidade: uma parte considerável do Exército do governo se juntou aos manifestantes pelas ruas da capital.
Pela enésima vez, eles marcharam para exigir a renúncia do presidente Andry Rajoelina, enquanto o denunciam por corrupção e mau governo.
Não era pequeno o grupo que se amotinou exigindo aos próprios soldados para não obedecerem às ordens para disparar gás lacrimogêneo, munição e granadas de efeito moral contra a multidão.
O grupo que se juntou aos manifestantes se trata do famoso CAPSAT – o Corpo de Pessoal, Serviços Administrativos e Técnicos do Exército, que em 2009 foi o protagonista de um golpe de Estado que levou o atual presidente ao poder. Mas também é a unidade militar que, atualmente, controla os campos onde as armas estão armazenadas. Lá, ninguém pode entrar sem a permissão dos líderes do CAPSAT.
Situação em evolução
“Neste caso, porém, não se pode falar de um verdadeiro golpe porque o resto do Exército, os Gendarmes e a Polícia, ainda não tomaram partido oficialmente”, afirmou à imprensa do Vaticano dom Rosario Saro Vella, bispo de Moramanga. Ele, junto com a Igreja local, acompanha com apreensão os desdobramentos da situação que pode fugir ainda mais do controle.
Fuga para o exterior
Fontes locais confirmam que o ex-primeiro mininistro fugiu para Maurício com outras personalidades nacionais. Um sinal de que a situação está se deteriorando em Madagascar.
O ex-primeiro ministro foi destituído por Rajoelina junto com todo o executivo há alguns dias, na tentativa do presidente de controlar as manifestações.
“Mas também muitas pessoas do governo que não são amadas pelo povo se esconderam. Enquanto que nas manifestações do último 12 de outubro, os militares que defenderam o povo foram aplaudidos”, explica o dom Vella.
Rachaduras e tensões
Enquanto os jovens do movimento “Geração Z”, coração e alma de todos os protestos, continuam a ir às ruas, o governo apresenta as primeiras rachaduras e conflitos internos.
Na manhã dessa segunda-feira (13/10), o ministro das forças armadas voltou a reiterar a sua “bênção” ao novo responsável pelo Exército, nomeado no domingo (12/10) pela liderança dos militares rebeldes e escolhido entre as fileiras da Capsat.
Já o presidente Rajoelina, ao mesmo tempo, denunciou uma tentativa de golpe de Estado e destituiu o atual presidente do senado, o general Richard Ravalomanana, um dos membros do executivo acusado pela multidão, que pedia a sua destituição.
Diplomacia antes de tudo
“Em uma sucessão de eventos que ficam sempre mais dramáticos”, acrescenta o bispo de Moramanga, “a Igreja permanece fime em sua posição: todas as partes envolvidas devem tentar dialogar. Que os militares respeitem os direitos dos manifestantes e os manifestantes evitem violências e provocações. Não tem outra solução: a diplomacia antes e depois terá que entrar em campo”.
Respeito à Constituição
A União Africana também pediu calma e moderação. A organização convocou todos os partidos políticos a “demonstrarem responsabilidade e patriotismo e a trabalharem para manter a unidade e a estabilidade, em pleno respeito à Constituição”.
Igreja em oração
No último sábado, 12/10, em comunhão ideal com o Terço pela Paz, recitado na Praça São Pedro pelo Papa Leão XIV, todas as comunidades eclesiásticas malgaxes aderiram ao dia de oração e jejum promovido pela Conferência Episcopal, voltando-se à Virgem Maria com fé, procissões e entoações de cânticos litúrgicos.
Escolas católicas nacionais pararam em um momento de silêncio e reflexão com a esperança de que o país do Oceano Índico possa embarcar, em breve, no caminho da paz.
Fonte: Vatican News
