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O prefeito do Dicastério para a Comunicação, interveio durante a 39ª conferência da Associação MINDS Internacional, que se realizou em Roma, de 9 e 10 de outubro. Em seu discurso, Paolo Rufini apresentou o Magistério da Igreja como um antídoto à informação manipulada e aos perigos da inteligência artificial: “Uma comunicação autêntica baseia-se em relações autênticas”.
Daniele Piccini – Vatican News
“Sem fatos, não pode haver verdade. Sem verdade, não pode haver confiança. Sem estas três coisas, não temos uma realidade compartilhada; não pode haver jornalismo e não pode haver democracia”: foi o que afirmou, na manhã desta sexta-feira, 10 de outubro, Paolo Ruffini, Prefeito do Dicastério para a Comunicação, ao falar, no Hotel Quirinal, durante a conferência, que teve como tema: “Ter confiança no futuro das notícias: independência, inovação, crescimento”. A conferência, que chegou à sua 39ª edição, é promovida pela MINDS Internacional, uma rede global de agências de notícias. Na manhã de quinta-feira, 9, os participantes foram recebidos em audiência pelo Papa Leão XIV, na Sala Clementina do Palácio Apostólico.
MINDS em audiência com o Papa Leão XIV
Durante o encontro com a Associação MINDS, o Pontífice exortou os jornalistas presentes a continuar a promover uma “informação livre, rigorosa e objetiva” e a “formar consciências e pensamento crítico”, em uma época de informação ‘lixo’, em que “o falso passa por verdadeiro” e o “verdadeiro por artifício”. Esta não é uma questão meramente epistemológica, mas incide sobre a boa saúde de toda democracia, porque “somente os povos informados podem fazer escolhas livres”, como o recém-eleito Papa Leão XIV já havia dito sobre o tema “jornalismo e verdade”, em 12 de maio, ao se encontrar com os profissionais da comunicação, na Sala Paulo VI.
Comunicação é relação
Fatos, verdade e confiança são os alicerces do jornalismo, que, por sua vez, constroem a democracia. A combinação, proposta por Ruffini, é um antídoto para o mal da nossa época, – continuou o Prefeito, – “em que se a gente contar uma mentira, um milhão de vezes, se torna um fato”. Uma comunicação autêntica é apenas a que se baseia em relações autênticas. Em seu discurso intitulado “Comunicação e informação na era digital da desintermediação e da Inteligência Artificial: o Sistema de Comunicação da Santa Sé e o Magistério da Igreja”, Paolo Rufini explicou ainda: “Restabelecer um diálogo autêntico e aberto é uma das tarefas mais importantes do nosso tempo, sobretudo, agora em que a polarização, muitas vezes, transforma a comunicação em nada mais que monólogos sobrepostos”.
Clareza e honestidade
Na esteira da exortação apostólica ‘Laudate Deum’ do Papa Francisco, Rufini ressaltou a necessidade de agir com “clareza e honestidade”, no terreno da informação e do marketing, que busca, com todos os meios, moldar a “opinião pública”. Neste sentido, reiterou ainda: “Segundo o Magistério da Igreja, somos chamados a uma batalha pacífica, mas urgente, para restaurar bases sólidas no sistema da difusão de notícias, como também reconstruir os princípios da comunicação e do bom jornalismo, oferecendo uma alternativa verdadeira ao consumo tóxico de informações manipuladas”.
Informação como bem comum
“Para que tudo isso seja possível, – observou o Prefeito do Dicastério para a Comunicação, – é fundamental construir uma relação de confiança com as pessoas, às quais nos dirigimos”. E concluiu: “Isso significa trabalhar a cultura e promover a alfabetização, em todos os níveis; significa redescobrir e compartilhar a ideia de um terreno comum e de informação como bem comum”.
Concorrência das máquinas
O pensamento do Papa Leão XIV sobre a informação, inteligência artificial e consequências éticas de uma informação manipulada estimula o trabalho e a reflexão das agências de notícias, que, muitas vezes, é o primeiro elo fundamental na cadeia de produção de notícias. “Ontem, em seu discurso, o Santo Padre abordou e reforçou essas questões, transmitindo mensagens extremamente relevantes, que impactam diretamente nosso trabalho como agências de notícias”, disse à mídia vaticana, Stefano de Alessandri, administrador delegado da agência de notícias italiana ANSA, que este ano celebra seu 80º aniversário.
“Como se sabe, – afirmou Stefano – as agências de notícias são a base do sistema da mídia: elas fornecem notícias aos demais. Portanto, nosso papel como um baluarte profissional, contra a desinformação e as notícias falsas, é fundamental”.
A ANSA utiliza a inteligência artificial em seu trabalho, já há quatro anos, mas com rigorosos critérios processuais e éticos, explicou Stefano: “Nós a utilizamos com um código de ética rigoroso, que publicamos e que pode ser lido em nosso site. O código prevê uma série de comportamentos, por parte dos nossos jornalistas. Por exemplo, só para citar alguns, não publicamos fotos geradas pela inteligência artificial; não publicamos artigos gerados totalmente pela inteligência artificial. Usamos a inteligência artificial no nosso trabalho. Mas, quando a usamos, declaramos abertamente e nos comprometemos, em nosso código de ética, a gerenciar, pessoalmente, o processo de publicação de notícias, não apenas no início, mas também no fim”.
O papel insubstituível do jornalista “on the ground”
Por sua vez, Miguel Angel Oliver, presidente da agência de notícias espanhola EFE, disse à mídia do Vaticano: “Hoje, a inteligência artificial representa uma grande oportunidade, mas também uma ameaça. Por isso, deve ser vista como um desafio. Devemos aproveitá-la ao máximo, mas também adaptar-nos a esta nova era, a estes novos tempos. Para nós da EFE, um jornalista nunca pode ser substituído por um programa de inteligência artificial; os jornalistas devem estar no local, em campo”.
Ao recordar o encontro com o Pontífice, o presidente da EFE, conclui: “A audiência que tivemos com o Papa, antes da conferência de MINDS, foi uma oportunidade única, pela qual somos muito gratos. O Pontífice fez algumas considerações muito interessantes, em linha com vários pontos de vista compartilhados pela EFE. O jornalismo nunca pode ser substituído por máquinas. O jornalismo e os jornalistas são os que dão confiança ao público, mediante relatos dos fatos como são, sendo honestos com o público e consigo mesmos. Por isso, agradecemos ao Papa por nos dirigir suas palavras”.
As agências de notícias fazem rede
A MINDS é uma organização internacional que reúne 26 agências de notícias do mundo inteiro, explicou o diretor da MINDS, Wolfgang Nedomansky, à mídia vaticana: “Nossos membros são compostos por empresas líderes globais, como Reuters, AP e AFP, que se propõem o objetivo de promover a digitalização da mídia, desenvolver novas soluções inovadoras e colaborar em nível de gestão”. “Por isso, – continuou – reunimo-nos, duas vezes por ano, em conferências, onde executivos, provenientes de todo o mundo, – do Canadá à Índia, do Japão à Austrália e de todos os países europeus – buscam promover intercâmbios, aprender uns com os outros, compartilhar experiências e desenvolver soluções comuns, que aumentam a nossa eficiência”.
O objetivo da MINDS é reunir experiências de diversas agências para compartilhar as melhores práticas, melhorar a eficiência, reduzir os custos de produção de notícias e, assim, tornar a produção jornalística mais democrática. E o diretor da MINDS conclui: “Por exemplo, promovemos a colaboração e a cooperação, um método que reduz os custos. Ao mesmo tempo, desenvolvemos novas fontes de renda e novos modelos de negócios, a fim de proporcionar às agências a oportunidade de ter uma base econômica saudável e sólida”.
Fonte: Vatican News
