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A esperança dos sobreviventes dos Andes – Vatican News

O Papa Francisco recebeu uma carta de um dos sobreviventes do acidente aéreo nos Andes, em 1972. Nas condições mais difíceis, os sobreviventes “foram testemunhas e profetas da esperança compartilhada. E quando tudo acabou, até mesmo a dor lancinante das mães dos que não voltaram daquela montanha soube, no espírito pascal, transcender e tornar-se símbolo de uma vida de serviço ao próximo, nas obras e nas palavras”.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Quando tudo parece perdido, a esperança de sobrevivência surge como uma força silenciosa e poderosa que desafia a lógica do desespero. Ela não é apenas um sentimento vago, mas um impulso vital que mantém a mente e o corpo ativos mesmo em situações extremas. A esperança cria uma centelha de propósito — seja pela lembrança de pessoas queridas, por sonhos ainda não realizados ou simplesmente pela vontade instintiva de continuar respirando. Esse estado de espírito funciona como um motor psicológico capaz de aumentar a resiliência, favorecendo decisões mais claras e estratégicas que podem ser determinantes para a sobrevivência.

Além disso, a esperança age como um ponto de ancoragem emocional em meio ao caos. Ela reorganiza a percepção do sofrimento, transformando-o em um desafio a ser enfrentado, e não em uma sentença inevitável. Pessoas que mantêm a esperança tendem a encontrar soluções criativas, conservar energia e manter a disciplina em situações críticas. Assim, mesmo quando os recursos externos escasseiam, a esperança funciona como um recurso interno inesgotável, que pode, por si só, aumentar significativamente as chances de atravessar a adversidade e alcançar um novo recomeço.

Em sua série de reflexões sobre o Ano Jubilar, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje “A esperança dos sobreviventes dos Andes”:

 

“O livro intitulado “Esperança” é a primeira autobiografia de um Papa na história, um relato completo do escrito do Papa Francisco. Essa autobiografia apresenta 25 tópicos, subtítulos e nos detemos a alguns deles em nosso aprofundamento que apresentam a temática da Esperança, título de toda a obra, tema do Ano Jubilar. No título número 22, o Papa conta outro episódio de uma carta que recebeu de um dos sobreviventes dos Andes, a tragédia de um avião que caiu na Cordilheira dos Andes em 1972. Hoje esta história soma já 53 anos, acorrida numa história dramática, que gerou livros, documentários e filme. Papa Francisco conta que na época do ocorrido era mestre de noviços jesuítas em San Miguel, em Villa Barilari. E o Papa narra brevemente o que aconteceu para depois dar máximas de esperança daqueles que não perderam a esperança, nas montanhas cobertas de neve. Vale a pena aqui narrar o que o Papa descreve:

“Foi em uma tarde de outubro: enquanto sobrevoava a área entre o cerro Sosneado e o vulcão Tinguiririca, na fronteira entre Chile e Argentina, um charter que havia partido de Montevidéu em direção a Santiago caiu com 45 pessoas a bordo, entre passageiros e membros da tripulação, incluindo dezenove jogadores do time de rugby Old Christians Club, suas famílias e amigos. Após colidir com a parede da montanha, o avião perdeu uma asa, depois a outra e, por fim, precipitou-se em uma vasta extensão de terreno íngreme e coberto de neve, próximo ao glaciar de Las Lágrimas, a mais de 3.600 metros de altitude. Nessas condições extremas, com temperaturas que à noite beiravam os 35 graus negativos, em um ar fustigado por tempestades violentas e tão rarefeito e pobre em oxigênio que deixava todos ofegantes, os 32 sobreviventes da queda, feridos e mal aparelhados, protegendo-se com uma barreira improvisada, formada por assentos, malas e destroços, obrigaram-se no que restava da fuselagem, esperando pelo socorro que, no entanto, não chegava. Ficaram isolados naquela que se tornou sua “sociedade da neve”, enfrentando um desafio desesperado, entre enorme sofrimento, novos lutos, fraternidade, ajuda mútua e oração cotidiana. Em um extremo e recíproco pacto de amor — sobre cuja legitimidade, para pôr fim a polêmicas mórbidas, o próprio Paulo VI se pronunciou —, os companheiros que não conseguiram sobreviver se tornaram alimento e esperança para os que ainda estavam vivos”. Aqui a primeira narrativa do Papa Francisco e no filme que retrata essa tragédia, de fato conta que para manterem-se com vida, os sobreviventes tiveram que comer carne humana para não morrerem de fome.

Continua a narrativa interessante do Papa Francisco, quando a esperança de sobrevivência é quase nula: “Dois meses após o acidente, quando ficou claro que as buscas haviam sido interrompidas e ninguém chegaria para salvá-los, tendo apenas dezesseis passageiros que haviam sobrevivido, três deles decidiram partir em uma empreitada que parecia impossível naquelas condições: escalar a montanha que viam delinear-se a Oeste, um pico de 4.600 metros, e atrás da qual pensavam que estava o Chile. Abandonaram o esqueleto do avião — que naquele ínterim havia sido várias vezes varrido por avalanches que causaram mais vítimas — equipados apenas com sacos de dormir feitos a partir de travesseiros costurados, uma mala transformada em trenó, duas hastes de alumínio servindo de bastões e três camadas de roupas, e partiram para o desconhecido. No entanto, ao chegarem ao topo, após dias de penosa escalada e sofrendo hiperventilação e desidratação, descobriram que do outro lado não os esperava o que haviam imaginado. Em vez disso, avistaram uma nova e tortuosa sequência de montanhas, serpenteando por outras dezenas de quilômetros diante de seus olhos. Nem mesmo então se renderam. Juntos, estimaram que a provisão que haviam levado não seria suficiente para os três; um deles, portanto, voltou ao acampamento, deslizando montanha abaixo com a mala-trenó até a fuselagem, através do gelo e das fendas. De maneira ainda mais inacreditável, os outros dois prosseguiram, extenuados, cambaleantes, tão estreitamente abraçados que formavam um único corpo, até que, sete dias depois, encontraram primeiro os restos de uma lata, em seguida uma vaca e, por fim, um pastor, até mais incrédulo do que eles diante do que parecia uma assombração. Foi a salvação. Para eles e para todos os amigos que haviam sobrevivido aos 72 dias na montanha. Em seu quinquagésimo aniversário, Gustavo Zerbino, um dos sobreviventes, que na época do acidente tinha apenas dezenove anos, escreveu-me em nome de todos. Na montanha, contou, tinham construído uma sociedade solidária e trabalhado lado a lado segundo os valores de lealdade, amizade e solidariedade que aprenderam em suas famílias e em sua paróquia no bairro de Carrasco, em Montevidéu. Um vínculo que, naquela experiência extrema, era selada todas as noites quando recitavam o rosário. Juntos, aqueles homens e mulheres mantiveram a esperança, buscando força e apoio na oração e no espírito de grupo. Nas condições mais difíceis, foram testemunhas e profetas da esperança compartilhada. E quando tudo acabou, até mesmo a dor lancinante das mães dos que não voltaram daquela montanha soube, no espírito pascal, transcender e tornar-se símbolo de uma vida de serviço ao próximo, nas obras e nas palavras”. É a carta recebida pelo Papa Francisco, descrevendo em síntese o que aconteceu na conhecida tragédia nas Cordilheiras dos Andes por um sobrevivente. Na sequência desse relato do Papa Francisco, vem a chave de ouro do Papa que aprofunda sobre a virtude da esperança que animou esses sobreviventes para se salvarem. É tema da próxima semana”

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.


Fonte: Vatican News

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