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A Guiné-Bissau celebrou, a 24 de setembro de 2025, 52 anos de independência, um processo ao qual está associado também a banda musical “Super Mama Djombo”. Surgido nos anos 60 num acampamento de escuteiros, acabou por abraçar a causa da emancipação dos guineenses, inspirando-se nos ensinamentos do líder da libertação, Amílcar Cabral. Tornou-se no rosto oficial e cultural do país. Dissolveu-se nos anos 80, mas, continua a dar importantes sinais de vida, e vem aí um documentário sobre ele.
Dulce Araújo – Vatican News
O Programa semanal da Rádio Vaticano “África em Clave Cultural: personagens e eventos” homenageou, nesta quinta-feira, 25 de setembro, os 52 anos de independencia da Guiné-Bissau, ocorridos a 24 de setembro de 1973, repercorrendo, com o poeta, ensaísta e editor Filinto Elísio, a história do grupo musical que abraçou a causa da independencia e da consciencia crítica do país: o Super Mama Djombo. Sobre ele, Filomeno Lopes, estudioso de questões africanas, e a antropóloga e realizadora italiana, Cinzia D’Auria, estão a preparar um documentário que se inscreve no âmbito de um amplo projeto de memória histórica da Guiné-Bissau.
São estes os pontos, assim como algumas peças musicais emblemáticas do grupo, que vai poder ler e ouvir nesta emissão.
Crónica
“Super Mama Djombo – a mística da música africana
A banda Super Mama Djombo, com forte implantação internacional, é uma das grandes bandeiras culturais e simbólicas da Guiné-Bissau. A orquestra completou, com cinquenta e dois anos de existência, tem uma trajetória que se confunde com o tempo da independência da Guiné-Bissau.
Constituída inicialmente em meados da década de 1960, num acampamento de escuteiros, quando os membros eram apenas crianças (o mais novo tinha seis anos). No começo dos anos 1970, eram jovens ligados à Igreja Católica, entretanto, expulsos do meio eclesiástico quando o prelado percebeu que as suas músicas já não traziam evocação religiosa.
Mama Djombo advém do nome de um irã – divindade sobrenatural, com santuário em Cobiana, no interior do país, à qual os combatentes apelavam para proteção durante a luta de libertação, desencadeada pelo PAIGC e sob liderança de Amílcar Cabral. O nome da orquestra se inspirou nos combatentes da libertação da Guiné-Bissau.
Em 1974, um ano depois da independência nacional da Guiné-Bissau, juntou-se ao grupo o politicamente consciente líder da banda, Adriano Atchutchi. Mama Djombo tornou-se imensamente popular no jovem país. Eles tocavam frequentemente nos eventos públicos ligados ao presidente Luís Cabral, e seus concertos eram transmitidos ao vivo pela rádio.
No início de 1980, a banda lançou o primeiro álbum Na cambança e a música Pamparida, baseada numa canção infantil, tornou-se um grande sucesso em toda a África Ocidental.
Em novembro do mesmo ano, Luís Cabral foi deposto, e o novo regime, liderado por João Bernardo Vieira – Nino, deixou de apoiar a banda. Entraram em crise e separaram-se em 1986.
No entanto, a trilha sonora do filme de Flora Gomes Udju Azul di Yonta (Os olhos azuis de Yonta) (1993) foi gravada por Adriano Atchutchi e outros membros da banda original sob o nome de Super Mama Djombo.
Em 2012, Super Mama Djombo fez uma turnê pela Europa aparecendo no Afrika Festival Hertme. A banda incluía vários dos membros originais, o baterista Zé Manel, o guitarrista Miguelinho N’Simba, o percussionista Armando Vaz Pereira e Djon Motta, junto com novos membros, como o guitarrista solo Fernando Correia da banda Freaky Sound.
Na comemoração dos 50 anos, em 2022, a Super Mama Djombo cumpriu uma intensa agenda de concertos na África e na Europa, mostrando às novas gerações seus maiores sucessos.
Orquestra do povo que, como o próprio disse, sempre cantou as vitórias do povo, mas também sempre alertou sobre o que vai mal na sociedade guineense.
O último álbum de originais gravado na Islândia e publicado por Mama Djombo, em 2007, “Ar Puro”, com o alto patrocínio do casal de professores islandeses.
Nas tertúlias bastante concorridas por jovens ávidos de conhecer o percurso histórico dos Super Mama Djombo, o chefe da orquestra, Atchutchi, tem anunciado uma série de actuações na Guiné-Bissau, Cabo Verde, Senegal e França, mas também a divulgação de músicas desconhecidas do público.
Hoje, com o rejuvenescimento da orquestra, Super Mama Djombo continua a honrar a sua linha musical e a promover o nome da Guiné-Bissau.”
Filinto Elísio – Rosa de Porcelana Editora.
Fonte: Vatican News
