“Esta é uma história da minha família”, é uma importante exposição que já levou o nome da fotógrafa moçambicana Yassmin Forte a várias partes do mundo e a vencer o CAp Prize. Mas é uma história que vai para além da sua família, afirma a artista em entrevista à Vaticannews, encorajando os africanos a contarem a sua própria história. Descubra, nas suas palavras, a sua visão da arte fotográfica, os projetos que tem na manga, e o seu percurso artístico, na crónica do poeta e editor, Filinto Elísio.
Dulce Araújo – Vatican News
Quem é Yassmin Forte? É uma fotógrafa freelancer moçambicana que cresceu com o bichinho da fotografia em casa e que, depois de um curso de fotografia em 2011, começou a fazer trabalhos com um cunho artístico próprio e com o objetivo de comunicar o seu pensamento e o que a rodeia. Hoje é um nome conhecido no mundo da arte fotográfica tanto no seu país, como noutras partes do mundo.
Filha de uma moçambicana e de um português que emigrou para Moçambique, no trabalho “Esta é uma história da minha família“, Yassmin justapõe fotografias do arquivo de família a realidades atuais, lançando o olhar ao ontem, ao hoje e espreitando o futuro. Este trabalho a que está a dar continuidade – por transcerder o âmbito famíliar e abraçar temas de interesse geral como a emigração – quer ser uma homenagem ao pai, falecido em 2024. E a sua ambição é ampliar esta homenagem mediante a publicação de um livro fotográfico que, se Deus quiser, poderá vir a publico proximamente.
Uma das fotos da Mostra “Esta é uma história da minha família”
Outro registo da Mostra “Esta é uma história da minha família”
Para além deste projeto, Yassmin está também a fotografar edifícios arquitetónicos de valor na capital moçambicana. É que estão um bocado abandonados ao descuido e, neste virar do primeiro para o segundo cinquentenário de independência do país, podem constituir um importante fator de desenvolvimento e de estímulo à arte.
Também no domínio da formação, Yasmin tem procurado dar uma mais-valia aos formandos, levando-os para fora da sala de aula. E encoraja os jovens a abraçarem aquilo que mais gostam e a trabalharem com afinco.
Quanto a ela, a arte fotográfica tem-lhe permitido realizar muitos dos seus sonhos e debruça-se sobre esta arte (em que a África não fica de modo nenhum atrás) cada vez com maior consciência do que quer comunicar, porque no fundo é o que conta – afirma. E nisto têm sido importantes para a abertura da sua visão das coisas, as participações em residências artísticas como “Catchupa Factory”, em Cabo Verde, e outras.
Entretanto, ela continua a levar a Mostra “Esta é uma história da minha família” a vários países (internacionalizando-se) inclusive, em breve, a Portugal, coroando assim um seu grande desejo.
Confira as suas palavras na emissão “África em Clave Cultural: personagens e eventos” e na entrevista integral e leia também a crónica de Filinto Elísio (Rosa de Porcelana Editora) sobre ela.
Crónica
“Yassmin Forte: o fazer fotográfico como afirmação cultural
A fotógrafa, formadora e ativista social moçambicana Yassmin Forte é uma das mais proeminentes personalidades entre artistas e criadores dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e o fazer artístico hoje extravasa as fronteiras do seu país e da lusofonia.
Dona de forte consciência social e política, assim como pessoa atenta às questões da afirmação dos africanos e da sua diáspora, Yassmin, através das suas fotografias, quase sempre em técnicas de colagens sobrepostas, vem trabalhando as questões da identidade, história e memória.
Nasceu na cidade de Quelimane, província da Zambézia, em 1980, filha de mãe moçambicana e pai português. Desde os seis anos de idade que vive em Maputo, capital de Moçambique.
Licenciou-se em Ciências da Comunicação, Relações-Públicas e Jornalismo, pelo Instituto Superior Politécnico e Universitário em Maputo. Participou do Curso de Fotografia da Zeta Photo em 2011 com o fotógrafo Jorge Almeida e em 2012 fez o Curso de Fotografia no Centro de Formação Fotográfica. Trabalha como Especialista em Marketing na Rádio de Moçambique.
A sua primeira exposição individual, intitulada No Palco, aconteceu em 2012, na Mediateca BCI e no Centro Cultural Franco Moçambicano. Uma coleção fotografias de vários espetáculos decorridos em Maputo.
Ao longo do seu percurso, a fotógrafa participou em duas residências apoiadas pela Fundação Calouste Gulbenkian: a Catchupa Factory, que teve como objetivo estimular o reconhecimento e a visibilidade internacional do trabalho autoral em fotografia e incentivar a mobilidade de novos fotógrafos no Mindelo, Cabo Verde, em 2019 e no ano seguinte, 2020, marcou presença na exposição virtual Everday a Woman, em Joanesburgo, África do Sul.
Fez Upcycles, Residência Criativa Audiovisual, em 2021, que propôs a reutilização de arquivos audiovisuais através da criação de obras de arte em várias disciplinas artísticas, na cidade de Maputo.
Nesse mesmo ano, apresentou Afrometropolis en Movimentos Barcelona, no Centre d’Estudis Africans Ineterculturals Barcelona, em Espanha, uma exposição fotográfica conjunta com Ina Makosi, do Senegal, e Vanessa Mwingira, da Tanzânia, onde abordavam a questão da mobilidade nos três países.
Em 2023, Yassmin Forte venceu o CAP Prize, prémio internacional de Fotografia Africana Contemporânea, com a obra Esta é uma história sobre a minha família, onde usa a técnica de colagem fotográfica. A obra sobrepõe arquivos familiares e imagens suas, numa justaposição do passado e presente em Maputo. É uma viagem às suas raízes para refletir sobre os efeitos do colonialismo e da migração na história da sua família.
Em 2024, sob a curadoria de Juci Reis, a exposição “A História da Minha Família” esteve em exibição no México, no âmbito exposição coletiva ¡Okê Arô Okê! , ao lado de artistas contemporâneos do Brasil, Colômbia e Portugal.
Em 2025, entre vários projetos, Yassmin, participou da exposição coletiva Muggano, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em tributo ao Cinquentenário da Independência de Moçambique e ainda este mês, sob a curadoria do artista Ruben Zacarias também se apresentou à exposição coletiva, intitulada Poemário Índico, no Espaço Mira
Yassmin Forte já realizou diversas exposições individuais, participou de dezenas de exposições coletivas e fez a curadoria de vários projetos e mostras de fotografia.
Ganhou diversos prémios como o “Inclusão na Diversidade”, em Portugal, e o “Prémio Mozal Artes e Cultura, assim como do Prémio de Fotografia Africana Contemporânea, de 2023. É também autora da coleção Mulheres da Minha Terra, disponível no Google Arts & Culture do Museu Virtual da Lusofonia.”
Fonte: Vatican News
