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Na especial reportagem do padre Tiago Freitas, publicamos aqui os testemunhos de participantes lusos no 26º Congresso Mariológico Mariano Internacional: Irmã Ângela Coelho, padre Carlos Cabecinhas e Marco Daniel Duarte.
Rui Saraiva – Portugal
Foi ligando a devoção mariana e o compromisso social que o Papa Leão XIV encerrou no dia 6 deste mês de setembro o 26º Congresso Mariológico Mariano Internacional na Pontifícia Universidade Antonianum.
Serviço da esperança na harmonia das diversidades
O Santo Padre afirmou que a piedade e a pratica marianas libertam do fundamentalismo quando estão orientadas para o serviço da esperança.
“Uma piedade e uma prática marianas orientadas para o serviço da esperança e da consolação libertam do fatalismo, da superficialidade e do fundamentalismo; levam a sério todas as realidades humanas, a começar pelos últimos e pelos descartados”, disse Leão XIV.
O Papa assinalou ainda que Maria, é a “cooperadora perfeita do Espírito Santo, não cessa de abrir portas, criar pontes, derrubar muros e ajudar a humanidade a viver em paz na harmonia das diversidades”.
Esta edição do Congresso Mariológico Mariano Internacional que decorreu em pleno Ano Santo de 3 a 6 de setembro, teve como tema: “Jubileu e Sinodalidade: uma Igreja com rosto e prática mariana”, juntou mais de 600 investigadores e foi promovido pela Pontifícia Academia Mariana Internacional.
Lugar da mulher não pode ser passivo
E foram várias as presenças portuguesas numa parceria entre a Universidade Católica Portuguesa e o Santuário de Fátima. Destacamos aqui alguns ecos e testemunhos num especial trabalho de reportagem do padre Tiago Freitas. O sacerdote da arquidiocese de Braga é docente da Universidade Católica Portuguesa e salienta o caráter operativo do congresso, não só no estudo de dimensões marianas como a escuta, mas também sobre o tema da liderança feminina. Elogia a coragem da conferência do cardeal Mário Grech, responsável da Secretaria Geral do Sínodo dos bispos.
“Corajosa foi a conferência de Mário Grech quando toca no tema das mulheres e na liderança feminina. Isto porque poderiam existir algumas leituras que olham para Maria como sendo aquela que escuta que está no silêncio, que ouve as coisas no seu coração, portanto, que não interfere muito. Todavia, ficou claro para todos nós que há um caráter operativo e, na verdade, Maria foi desempenhando um papel, talvez até de liderança, numa determinada ocasião, como por exemplo, no Cenáculo, onde Maria foi muito ativa. Portanto, o lugar da mulher não pode ser passivo, à margem, porque quando isso acontece torna-se quase uma ideologia”, afirma.
Tiago Freitas destaca a conferência da professora norte-americana Glória Falcão Dodd, presidente da Sociedade Mariológica daquele país, quando afirmou que uma sinodalidade, à luz de Maria, revela que todos concorrem para o bem da Igreja.
“Particularmente relevante foi a conferência da prof. Glória Falcão que no início colocou algumas objeções à sinodalidade, entre as quais, que os leigos podem vir a roubar funções específicas daquilo que é o clero. Todavia, a partir do exemplo de Maria, conseguiu desmontar essa ideologia. Os leigos não só não roubam nada ao clero como também uma sinodalidade bem entendida, inclusive à luz de Maria, torna claro que todos concorrem para o bem da Igreja. Porque em momento algum Maria roubou os holofotes a Jesus ou até aos apóstolos. Cada um tem o seu lugar específico na Igreja. Mas também não foi irrelevante o papel de Maria, nem de tantas outras mulheres na Igreja nascente. Portanto, para se estudar e estarmos firmes na sinodalidade é importante sem ideologias olharmos atentamente para o que se passou na Igreja nascente e assim tirarmos algumas lições”, sublinha o sacerdote.
Desafios e interpelações para a Igreja
O padre Tiago Freitas no âmbito deste Congresso recolheu três testemunhos portugueses. A Irmã Ângela Coelho, religiosa da Aliança de Santa Maria, é vice-postuladora da Causa de Canonização da Irmã Lúcia, uma das videntes de Fátima e sublinha a necessidade de haver mais ousadia no estudo da mariologia.
“O encontro foi muito rico, com gente que vem de todo o lado e se dedica à reflexão e fez-me pensar, olhando para a nossa realidade em Portugal, desta necessidade de haver mais ousadia, mais coragem no estudo da mariologia. Este desejo de que se aprofunde, cada vez mais, o papel de Maria. (…) Olhar para Fátima e ver a figura de Maria que emerge durante as aparições e que podemos perceber no agir concreto com aquelas crianças, que já estão duas canonizadas, mas também como desafios e interpelações para a Igreja”, afirma.
Perceber a dinâmica sinodal a partir de Maria
No Congresso Mariológico em Roma esteve também o Reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, que considera que este congresso ajudou a perceber as dimensões práticas da piedade mariana.
“Um santuário mariano como é o Santuário de Fátima tem uma particular responsabilidade em relação à promoção da piedade mariana. E este congresso ajudou-nos a perceber que uma piedade mariana completamente vivida tem dimensões práticas inegáveis. Nomeadamente sublinhou-se o quanto Maria é modelo de esperança, mas também nos ajudou a perceber, a partir de Maria, toda a dinâmica sinodal que pertence à identidade da Igreja”, sustenta.
O padre Carlos Cabecinhas salienta a importância da figura de Maria para a renovação que a dinâmica sinodal pretende implementar na Igreja.
Investir no estudo da mariologia em Portugal
Participou também neste congresso mariológico, o historiador Marco Daniel Duarte, diretor do Museu do Santuário de Fátima, que salienta a importância do investimento no estudo da mariologia em Portugal.
“Eu penso que Portugal deveria investir nesta área da mariologia. É um país que tem muitas responsabilidades em torno do tema mariano. Portugal não se entende na sua história, quer na mais antiga quer na contemporânea, sem a figura de Maria. E esta figura exige que os intelectuais em Portugal se debrucem sobre ela. Sabemos que ela é objeto de estudo na área da história, da literatura, do teatro e do cinema, mas falta ainda que Portugal dê um passo para a constituição de um grupo de trabalho, verdadeiramente desenvolvido, que possa partir daqueles que estão nas diferentes academias e se possa formar e levar por diante esta área que tem uma especificidade muito grande e que interessa, não apenas aos intelectuais, mas também à pastoral”, afirma.
O padre Tiago Freitas assinala que no evento foi feito um apelo “para que a mariologia seja uma ciência teológica levada a sério e ensinada adequadamente nos seminários e que seja feita esta passagem de uma espiritualidade devocional a um estudo fundamentado teológico sobre Maria”.
Laudetur Iesus Christus
Fonte: Vatican News
