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Opinião – Marcos Augusto Gonçalves: Com PEC vergonhosa, Câmara chafurda em seu esgoto moral

Com a aprovação da PEC da blindagem, já consagrada como PEC da bandidagem, a Câmara dos Deputados mostrou até que ponto vai a delinquência de sua maioria nesta legislatura. Os representantes do povo traem a missão republicana e colocam-se à altura de suas mais baixas ambições.

A bateria de dispositivos para impedir que congressistas possam responder à Justiça por suspeita ou evidência de crimes é uma das iniciativas mais descaradas da história política brasileira. A instituição do voto secreto para negar o acesso da lei à casta parlamentar, em mutreta do invertebrado Hugo Motta e do centrão, nos leva aos tempos da ditadura militar, quando se sustentava uma farsa no Congresso para tentar tapar com a peneira o vale tudo do arbítrio institucionalizado.

Não é demais sublinhar que a deterioração ética não é novidade, mas certamente se agravou recentemente graças ao desgoverno de Jair Bolsonaro, ao entregar o orçamento nas mãos de uma quadrilha que desvia recursos bilionários de emendas para seus próprios bolsos ou os de seus asseclas. Bolsonaro, não custa dizer: o golpista sórdido e sádico, condenado com autoridade a 27 anos de prisão, para cuja eleição não faltou apoio de setores de nossa elite econômica de visão curta, subdesenvolvida e arrivista.

A PEC contou com o apoio de filiados ao Partido dos Trabalhadores —que foi contra a aprovação, enquanto o governo liberou sua base. Trata-se, portanto, de um naufrágio ético não da direita, embora majoritária, ou da esquerda, mas da politica brasileira. Ressalte-se, se serve para algum consolo, que houve quem dos dois lados do espectro tenha se recusado a chancelar o plano de impunidade, que mais parece encomenda do PCC.

Alguns alegaram que o voto dissidente petista ajudaria num fantasioso acordo, na bacia das almas, para evitar —e isso não aconteceu— a aprovação da urgência de um projeto sem texto de anistia para golpistas, bandeira de radicais bolsonaristas, sob a liderança do deputado desertor Eduardo Bolsonaro, sob proteção da casa, que, por todos os motivos, já deveria ter sido cassado.

São tempos muito difíceis, não apenas por aqui. A monstruosa onda antidemocrática e belicista que percorre o mundo, da América ao Oriente, aliada à crescente violência política e criminal nos deixa a sensação de que estamos na antessala de uma catástrofe de grandes proporções.

Não há dia em que não sejamos tocados pela barbárie em suas mais diversas manifestações, nos mais diversos territórios, nas mais diferentes situações.

De volta à política brasileira, temos motivos para nos orgulharmos de nossa democracia defensiva, que vem sendo mencionada em muitos países, por veículos e personalidades de prestígio, como exemplo a ser seguido. Infelizmente, forças obscuras, que nos acompanham desde sempre, não querem ou não conseguem dar o passo necessário para virarmos a chave histórica.

Tais correntes profundas, de origem, afinal, escravista e colonial, não raro se disfarçam com enfeites de um liberalismo formalista e anacrônico, típico de nosso reacionarismo de punhos de renda.

Não é o caso da maioria na Câmara, que honra o velho banditismo político e chafurda em seu esgoto moral. Cabe ao Senado, espera-se, barrar os descalabros.


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