
Na Vigília de Oração do Jubileu da Consolação, celebrada na Basílica de São Pedro, Leão XIV recordou aqueles que sofreram “a injustiça e a violência do abuso” por membros da Igreja e disse que “onde existe o mal, aí devemos procurar o conforto e a consolação que o vencem e não lhe dão trégua”. Recordou as pessoas esmagadas pelo peso da violência, da fome e da guerra que imploram a paz. Pediu aos responsáveis das nações para ouvirem o grito de tantas crianças inocentes.
Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Leão XIV presidiu a Vigília de oração do Jubileu da Consolação, na tarde desta segunda-feira (15/09), na Basílica de São Pedro.
Sua homilia iniciou com um trecho do Livro do Profeta Isaías: «Consolai, consolai o meu povo». Segundo o Pontífice, este convite do profeta chega também hoje a nós de modo desafiador.
“Esta Palavra compassiva, que se fez carne em Cristo, é o bom samaritano de que nos fala o Evangelho: é Ele que alivia as nossas feridas, é Ele que cuida de nós. Nos momentos de escuridão, mesmo contra todas as evidências, Deus não nos deixa sozinhos; pelo contrário, é precisamente nestas circunstâncias que, mais do que nunca, somos chamados a pôr a nossa esperança na proximidade do Salvador que jamais nos abandona”, disse ainda o Papa.
“Procuramos quem nos console e muitas vezes não encontramos. Às vezes, torna-se até insuportável a voz daqueles que, com sinceridade, pretendem partilhar a nossa dor. E isto é verdade: há situações em que as palavras não servem e tornam-se quase supérfluas. Nestes momentos, talvez restem apenas as lágrimas do choro, se é que estas não se esgotaram”, sublinhou Leão XIV, lembrando o Papa Francisco que recordava as lágrimas de Maria Madalena, desorientada e sozinha, junto ao túmulo vazio de Jesus: «Ela simplesmente chora – dizia ele. Vede, às vezes, na nossa vida, os óculos para ver Jesus são as lágrimas. Há um momento na nossa vida em que só as lágrimas nos preparam para ver Jesus. E qual é a mensagem desta mulher? “Eu vi o Senhor”».
Queridas irmãs e queridos irmãos, as lágrimas são uma linguagem que expressa os sentimentos profundos do coração ferido. As lágrimas são um grito mudo que implora compaixão e conforto. Mas, antes de tudo, são libertação e purificação dos olhos, do sentir, do pensar. Não devemos ter vergonha de chorar; é uma forma de expressar a nossa tristeza e a necessidade de um mundo novo; é uma linguagem que fala da nossa humanidade fraca e colocada à prova, mas chamada à alegria.
Citando Santo Agostinho, que se pergunta a propósito da origem do mal, sua raiz, sua semente, o Papa ressaltou que “a passagem das perguntas à fé é aquilo que a Sagrada Escritura nos ensina.
Com efeito, há perguntas que nos debruçam sobre nós mesmos, nos dividem interiormente e nos separam da realidade. Há pensamentos dos quais nada pode nascer. Se nos isolam e nos desesperam, também humilham a inteligência”.
Onde existe o mal, aí devemos procurar o conforto e a consolação que o vencem e não lhe dão trégua. Na Igreja, isso significa que nunca o fazemos sozinhos. Apoiar a cabeça num ombro que te consola, que chora contigo e te dá força, é um remédio do qual ninguém pode prescindir, porque é sinal de amor. Onde a dor é profunda, ainda mais forte deve ser a esperança que nasce da comunhão. E esta esperança não engana.
A propósito dos testemunhos ouvidos durante a vigília, Leão XIV ressaltou que eles “transmitem esta certeza: que a dor não deve gerar violência; que a violência não é a última palavra, porque é vencida pelo amor que sabe perdoar. A violência sofrida não pode ser apagada, mas o perdão concedido àqueles que a geraram é, na terra, uma antecipação do Reino de Deus, é o fruto da sua ação que põe fim ao mal e estabelece a justiça. A redenção é misericórdia e pode tornar melhor o nosso futuro, enquanto ainda aguardamos o regresso do Senhor”.
A seguir, o Pontífice recordou aqueles que sofreram “a injustiça e a violência do abuso”, e disse que “a Igreja, da qual alguns membros infelizmente vos feriram, hoje ajoelha-se convosco diante da Mãe”.
Que todos possamos aprender dela a proteger com ternura os mais frágeis e pequenos! Que aprendamos a ouvir as vossas feridas, a caminhar juntos. Que possamos receber de Nossa Senhora das Dores a força para reconhecer que a vida não é definida apenas pelo mal sofrido, mas pelo amor de Deus que nunca nos abandona e que guia toda a Igreja.
Recordando as palavras de São Paulo sobre o consolo na tribulação, o Papa lembrou que “quando recebemos consolação de Deus, tornamo-nos capazes de oferecer consolação também aos outros”. “Os segredos do nosso coração não estão escondidos aos olhos de Deus: não devemos impedi-lo de nos consolar, iludindo-nos de que podemos contar apenas com as nossas forças”, frisou.
No final da Vigília, cada participante recebeu um pequeno presente: o Agnus Dei. O Papa disse que esta medalha “é um sinal que poderemos levar para nossas casas para lembrar que o mistério de Jesus, da sua morte e ressurreição, é a vitória do bem sobre o mal. Ele é o Cordeiro que nos dá o Espírito Santo Consolador, que nunca nos abandona, que nos conforta nas necessidades e que nos fortalece com a sua graça”.
Leão XVI recordou que assim “como existe a dor pessoal, também existe, nos nossos dias, a dor coletiva de populações inteiras que, esmagadas pelo peso da violência, da fome e da guerra, imploram pela paz”.
É um grito imenso, que nos compromete a rezar e a agir, para que cesse toda a violência e aqueles que sofrem possam reencontrar a serenidade; e compromete, antes de tudo, Deus, cujo coração estremece de compaixão, a vir até nós no seu Reino. A verdadeira consolação que devemos ser capazes de transmitir é mostrar que a paz é possível e que brota em cada um de nós, se não a sufocarmos. Que os responsáveis das nações escutem de modo particular o grito de tantas crianças inocentes, para lhes garantir um futuro que as proteja e console.
“No meio de tanta prepotência, temos a certeza que Deus não deixará faltar corações e mãos que levem ajuda e consolo, agentes da paz capazes de animar aqueles que estão na dor e na tristeza”, concluiu.
Fonte: Vatican News