Carregando música...
Para ouvir nossa rádio, baixe o aplicativo RadiosNet para celulares e tablets com Android ou iPhone/iPads.

A encarnação de Cristo no tempo – esperança da eternidade – Vatican News

“Peregrinar na esperança, como o lema do Ano Jubilar nos propõe, é descobrir em cada momento do viver, uma perspectiva de eternidade. A eternidade é o impulso para viver com o coração aberto para a criatividade da existência”.

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

A encarnação de Cristo no tempo revela o amor de Deus que se fez próximo da humanidade. O eterno entrou na história, assumindo a condição humana para redimir aquilo que estava perdido e reconciliar o homem com o Criador. Em Jesus, o Verbo que se fez carne, o infinito se manifesta no finito, e o divino se une ao humano sem confusão. Essa realidade mostra que a salvação não é apenas uma promessa distante, mas já se faz presente na caminhada terrena, dando sentido à existência e iluminando o tempo com a presença de Deus.

Contudo, a encarnação não se limita ao agora; ela abre a perspectiva da eternidade. Em Cristo, a humanidade encontra não só a redenção do presente, mas também a esperança da plenitude futura, quando o tempo dará lugar ao encontro definitivo com Deus. Aquele que entrou na história aponta para além dela, revelando que a vida não termina no limite do corpo, mas se prolonga na comunhão eterna com o Pai. Assim, a encarnação é sinal e garantia de que a eternidade já começou em Cristo, e de que cada instante vivido Nele é um passo em direção à vida plena que não terá fim.

Depois de “Jesus Cristo, a esperança da Igreja”, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão “A encarnação de Cristo no tempo – esperança da eternidade”:

 

“Com a encarnação de Cristo, a eternidade entrou no tempo e criou-se assim a própria possibilidade da esperança, segundo Kierkegaard. Na “teologia da esperança” não seria a encarnação o fundamento da esperança, mas a ressurreição. Porém, Cristo não se encarna simplesmente para se encarnar, mas com um objetivo próprio e concreto, ou seja, para salvar a humanidade, para morrer e ressuscitar por amor a nós. Esses dois movimentos precisam ser mantidos juntos: a encarnação e a ressurreição. É o que nos aponta Raniero Cantalamessa: “As duas coisas devem ser mantidas juntas. Num ponto da história – a Encarnação – a humanidade entrou no tempo, em outro ponto da história – a ressurreição – o tempo entrou na eternidade! O horizonte cristão da eternidade – como mais genericamente da salvação – é possibilitado, conjuntamente, pela encarnação e ressurreição de Cristo. O Natal não é menos indispensável para a esperança cristã do que é a Páscoa. Outros homens morreram e ressuscitaram, segundo a Bíblia, mas não fundaram nenhuma esperança nova. Se isso aconteceu com Cristo é porque a sua não era a morte e ressurreição de uma pessoa qualquer, mas de um homem-Deus”[1].

Kierkegaard diz assim: “A Esperança do Cristianismo é a eternidade e Cristo é o caminho; o seu abaixamento (kênosis na teologia) é o caminho, mas também quando ascende ao céu, ele é o caminho”. Para o pensamento bíblico, o ser humano não é tanto o que é determinado a ser pelo seu nascimento, mas o que é também chamado a se tornar, mediante o exercício de sua liberdade, na obediência à Palavra de Deus. Uma esperança madura, segundo Kierkegaard, não oferece garantias, mas se mantém independente das circunstâncias e é um ato corajoso de aceitar a vida nas mãos de Deus, sem pedir segurança. A esperança, para Kierkegaard, é o fundamento da existência: a partir da crença na possibilidade do bem, surge um terreno fértil para a descoberta de si e para a afirmação da vida. Em Kierkegaard, o desenvolvimento da esperança autêntica deve deixar de ser marginal para se tornar algo essencial como ponto de partida para todo projeto de vida. O desespero, a falta de esperança, surge quando o indivíduo se recusa a ser uma criatura e busca a autonomia perfeita, ou quando não assume a responsabilidade pela sua própria existência. A esperança é como antídoto de desespero. A esperança, ao contrário, é um modo de pensar sobre a existência que pode superar o desespero, pois oferece uma base para a construção de uma vida autêntica. As pessoas entram em desespero por falta de perspectiva, possibilidade de solução, saída para seus problemas. Precisamos levar ao desesperado a palavra fundamental da esperança, da alegria do Evangelho, da vitória de Cristo sobre qualquer circunstância intransponível.

Deus nunca nos deixa sem uma possibilidade. A possibilidade nos arranca da mesmice, do desespero, da angústia do nada. O ser humano precisa de possibilidades. Elas são para ele como que o oxigênio. Sem elas, morre de asfixia espiritual. Kierkegaard diz assim: “A possibilidade é a única coisa que salva. Alguém desmaia, procura-se água de colônia ou gotas e Hoffmann; quando alguém quer desesperar, deve-se dizer: ‘rápido encontre-lhe uma possibilidade, dêem-lhe uma possibilidade. É o único remédio dêem-lhe uma possibilidade e o desesperado recupera ânimo, e anima-se porque se o homem fica sem possibilidade é como seguir faltando-lhe o ar”[2].

Cantalamessa, em seu livro, “Fé, esperança e caridade – as três graças do Cristianismo”, editado no Brasil pela Editora Paulus, apresenta um subtítulo “Dêem-lhe uma oportunidade”. Pois só a eternidade remove todos os obstáculos que se interpõem à esperança, até o último obstáculo que é a morte. A esperança não se torna simplesmente uma virtude dos mais jovens. A virtude da esperança é uma virtude para toda a vida, sobretudo para o tempo da velhice. Sempre é tempo de esperar, não passivamente, mas de forma criativa e inovadora. Quem não espera mais em nada, já é um morto-vivo. Não terá motivação, não terá alegria, não verá oportunidade diante dos desafios. Estará sempre olhando para a realidade nua e crua, sem descoberta de um porvir. Peregrinar na esperança, como o lema do Ano Jubilar nos propõe, é descobrir em cada momento do viver, uma perspectiva de eternidade. A eternidade é o impulso para viver com o coração aberto para a criatividade da existência”.

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
_________________

[1] CANTALAMESSA, RANEIRO. “Fé, esperança e caridade – as três graças do Cristianismo”, Ed. Paulus, 2024, p. 104.
[2] Idem, 106.


Fonte: Vatican News

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo