
O vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth (PSD), defende a anistia aos acusados de golpismo, seguindo a posição do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem articulado para livrar o padrinho Jair Bolsonaro (PL) da prisão.
Felício integra o partido presidido por Gilberto Kassab, que até o momento não se juntou publicamente à recente ofensiva do centrão a favor da anistia. Para o vice-governador de São Paulo, o PSD está dividido no tema.
“A acusação do ministro Alexandre de Moraes é uma peça técnico-política, tem um arcabouço técnico, mas tem exageros com viés político. Nesse sentido, cabe uma resposta também técnico-política, feita pelos verdadeiros representantes do povo, que é o Poder Legislativo”, afirma Felício à Folha.
“Teria que ser uma resposta técnica no sentido de embasada, para que não seja questionada depois, e política pelo exercício da política. É um bom momento para uma resposta política”, completa.
Questionado a respeito da proposta de anistia, o vice diz que apoia o texto que o Congresso conseguir aprovar. “Quanto ao desenho, cabe ao Legislativo definir o que vai ser possível para que se faça alguma coisa.”
Felício, também sai em defesa de Tarcísio em relação ao seu discurso na manifestação bolsonarista do 7 de Setembro, na avenida Paulista. O governador cobrou anistia, atacou o STF (Supremo Tribunal Federal) e chamou Moraes de ditador e tirano.
“O mais forte não foi a fala dele, mas a ação. Tem mais significado o movimento do Tarcísio, na semana passada [de ir a Brasília articular pela anistia], em que ele apostou o capital político dele”, diz.
O vice também minimiza os efeitos das declarações de Tarcísio para a relação do governador com ministros do STF. “O discurso dele foi voltado ao ministro Alexandre de Moraes e não ao STF. Não vai ser essa declaração isolada que vai acabar com o bom relacionamento que ele tem com a maioria dos ministros.”
O PSD está dividido em relação à anistia na Câmara, embora o líder da bancada tenha declarado, em reunião com os pares, ser a favor de que a matéria seja pautada. Já a maior parte dos senadores da legenda são contrários à medida. Na opinião de Felício, dificilmente o PSD vai fechar questão a respeito da anistia.
O partido é conhecido no meio político por seu pragmatismo, a ponto de a legenda fazer parte tanto do governo Tarcísio como da gestão Lula (PT).
Além de presidente do PSD, Kassab é o secretário de Governo da gestão Tarcísio, uma posição de prestígio no Palácio dos Bandeirantes, responsável pela articulação política com parlamentares e prefeitos.
Kassab tem a intenção de governar o estado de São Paulo e, por isso, trabalha para ser vice de Tarcísio na hipótese de o governador concorrer à reeleição. Tarcísio, no entanto, apoiado por partidos do centrão, têm reforçado a agenda e o discurso de candidato ao Planalto.
Nesse caso, em que Tarcísio teria que deixar o cargo para concorrer ao Planalto, Felício assumiria o governo paulista a partir de abril e estaria no páreo para disputar a eleição estadual como sucessor do governador.
Outros nomes também disputam o apoio do governador para assumir o Palácio dos Bandeirantes, como o presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o próprio Kassab.
Como mostrou a Folha, o vice promoveu uma mudança de rota em suas redes sociais e adotou posições do bolsonarismo, como negar que o 8 de Janeiro foi uma tentativa de golpe e criticar as penas aplicadas aos participantes dos ataques golpistas.
Ex-tucano, Felício foi prefeito de São José dos Campos, a 91 km da capital, e ganhou projeção regional, especialmente por políticas voltadas à segurança pública.
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