
Levantamento feito pelo Centro de Estudos em Marketing Digital da Escola de Administração de Empresas da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e divulgado nesta quinta-feira (30) mostra que 11% dos brasileiros expressaram alegria em suas redes sociais com a megaoperação policial no Rio de Janeiro.
Outros 22% sentiram nojo e 22%, medo em suas contas nas plataformas digitais entre a terça-feira (29), dia da ação, até esta quinta. Foram 121 mortos entre agentes de segurança e suspeitos de serem membros de organizações criminosas. É a operação mais violenta da história do Brasil.
O estudo analisou mais de 43 mil menções, coletadas nas redes sociais X (ex-Twitter), Instagram, Facebook, Reddit, Threads e Bluesky, à intervenção nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da capital fluminense.
Um mecanismo de inteligência artificial, chamado “programação em linguagem natural”, analisa as palavras e frases dos posts. Em seguida, atribui um sentimento a eles conforme a construção da mensagem publicada pelos usuários.
Os sentimentos de nojo, medo e alegria correspondem a 55% das expressões dos usuários desde a ação. Segundo Lilian Carvalho, doutora em marketing e coordenadora do centro de estudos, o mecanismo entendeu que 45% das menções não possuem forte emoção associada a eles —podem ser, por exemplo, mensagens como “o que aconteceu no Rio?”, que não expressam explicitamente um sentimento sobre o fato.
Analisando o palavreado utilizado nos posts, o estudo mostrou que, de todas as menções à megaoperação, 67% usam palavras neutras e 27%, negativas, com outros 6% com palavras positivas. O uso das palavras não corresponde, necessariamente, a apoio ou rejeição à ação na cidade.
Os termos mais citados, conforme o levantamento, foram “Complexos do Alemão e da Penha”, “CV” (sigla para Comando Vermelho, facção predominante no Rio), “segurança pública”, “Operação Contenção”, “Polícia Militar“, “crime organizado” e “facções criminosas”.
O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), recebeu 10% do total de menções, enquanto o governo Lula (PT) foi citado por 2,3% nas publicações. Os posts, neste caso, podem ser tanto positivos, quanto negativos e neutros.
Ambos os políticos têm disputado a narrativa sobre a segurança pública, tema que deve ter protagonismo nas eleições de 2026. Enquanto Castro e governadores de direita tentam se unir no discurso de omissão do Palácio do Planalto, o governo federal cita operações da Polícia Federal e a PEC da Segurança Pública como frentes não violentas de combate à criminalidade.
Para os conservadores, o momento é de se descolar das pautas mais ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como a anistia aos condenados pelos ataques de 8 de Janeiro e da trama golpista. O momento é focar ações da vida real, como mostrou a Folha.
Lilian Carvalho afirma ser cedo para dizer qual dessas narrativas na política prevalecerá sobre a operação no Rio. Para ela, a percepção que ganhar mais espaço pode ter impacto na leitura de ações futuras pela sociedade.
Ela diz que, para além da alegria com a operação, outros sentimentos podem estar incluídos, como a alegria em uma tomada de atitude diante de locais violentos, mesmo que com violência policial na ação, ou a esperança de que, após a operação, algo mudará.
Lilian entende que a barbárie é transformada em espetáculo digital com a veiculação de fotos e vídeos grotescos sobre as vítimas. “Algoritmos não têm lado, eles reproduzem e exacerbam aquilo que há de mais barulhento e emocional em cada bolha”, ressalta.
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