
O sacerdote português colabora com a Comissão de Comunicação da Secretaria Geral do Sínodo e considera que são necessárias atitudes muito concretas de aplicação do Sínodo na nossa realidade. É o episódio 8 da iniciativa “No coração da esperança” da Rede Sinodal em Portugal.
Rui Saraiva – Portugal
A fase de implementação do Sínodo decorre entre 2025 e 2028 seguindo as palavras do Papa Leão XIV. A Rede Sinodal em Portugal apresenta aqui o episódio numero 8 da iniciativa “No coração da esperança”. Uma parceria inovadora de comunicação que faz caminhar em conjunto Diário do Minho, Voz Portucalense, Correio do Vouga, Correio de Coimbra, A Guarda, 7Margens, Rede Mundial de Oração do Papa e Folha do Domingo.
Desta vez o entrevistado é o padre português Paulo Terroso, responsável pelo Departamento Arquidiocesano de Comunicação Social de Braga e colaborador da Comissão de Comunicação da Secretaria Geral do Sínodo.
P: Que leitura faz do documento “Pistas para a implementação do Sínodo” publicado pela Secretaria Geral do Sínodo?
R: “Nós estávamos à espera deste documento, até com alguma ansiedade, depois da morte do Papa Francisco. Já tínhamos indicações da Secretaria que sairia este documento. Os primeiros sinais do Papa Leão XIV, também eram muito positivos nesse sentido da sinodalidade. Ele falou e disse uma coisa também importante no âmbito da sinodalidade, depois no encontro com os cardeais, logo um ou dois dias depois: que a ‘Evangelii Gaudium’ era a atualização do Concílio Vaticano II. Penso que são palavras fortes e também merecem uma reflexão muito importante também para a sinodalidade. Porque o objetivo da sinodalidade, como da “Evangelli Gaudium”, como dizia o Papa Francisco, é precisamente transformar a Igreja numa comunidade de discípulos missionários. A sinodalidade existe para a missão, existe para que a Igreja possa evangelizar neste século XXI, neste novo milénio.
E saiu este documento que em si não é uma surpresa, nós já tínhamos indicações, mas eu gostaria de sublinhar algumas ideias fortes. Primeiro: concretizar, aterrar. Temos um itinerário e agora compete às igrejas locais, isto é, às dioceses nas suas realidades, naquilo que são os seus órgãos colegiais, concretizar essa vida de sinodalidade. Portanto, a sinodalidade não pode ser vista já como horizonte. Nós precisamos ter atitudes muito concretas de aplicação na nossa realidade e, portanto, é por isso que nós temos estas pistas.
É muito interessante já este nome pistas, porque significa que cada igreja local, a partir do documento final e a partir também deste documento que ajuda a aplicação, e também com o apoio da Secretaria Geral do Sínodo, aplique nas suas dioceses ou arquidioceses aquilo que é o documento final. Portanto, que é um programa, até em certo sentido bastante ambicioso. Claro que ao dizer que é ambicioso: ‘Ah bom, é muito difícil…’ Não! Temos que dar os primeiros passos: coragem, perseverança e concretizar a corresponsabilidade, o discernimento e a formação.
Eu diria que é algo que nos aparece desde o início, em 2021 quando iniciámos este processo sinodal, esta é a terceira fase, já agora, de aplicação do sínodo, como a Constituição Episcopalis Communio determina: que haja três fases auscultação, celebração e depois aplicação. A formação esteve sempre presente, nós precisamos de formação. Não só especificamente formação para a sinodalidade, mas em todos os sentidos. Eu acho que parece evidente e é isso que emergiu de uma forma constante em todas as várias fases deste processo sinodal.
Portanto, precisamos de discípulos, que se formem na intimidade com o Senhor, na escola do Senhor, que participem e sejam testemunhas também da sua ressurreição, para depois serem missionários e verdadeiramente viver o discipulado na sua inteireza. A formação, a formação para o discernimento, para conversação no espírito, a corresponsabilidade, a dinamização das equipas sinodais e a revitalização, porque, entretanto, algumas foram desativadas e a revitalização de outras com novos membros é fundamental, para termos uma Igreja de discípulos missionários e para concretizar aquilo que o Papa Francisco nos dizia no “Evangelii Gaudium”: uma renovação eclesial inadiável.
Portanto, temos que evangelizar, temos que tornar presente Cristo vivo, ressuscitado aos homens e mulheres de hoje. A sinodalidade existe precisamente para ser Igreja missionária.”
P: Quais as suas expectativas sobre a dinâmica sinodal global neste processo até 2028?
R: “Às vezes, eu próprio, confesso, sou muito realista, mas um realista às vezes quase cético nalgumas coisas. Mas eu explico em quê: há uma certa retórica que existe, mas que depois, na realidade não se concretiza e, nesse sentido, também a informação para a sinodalidade é importante, porque acho que ainda há muito desconhecimento do que é a sinodalidade. Ainda há pouco tempo eu falava de um determinado assunto que tinha sido abordado em Conselho Presbiteral e alguém dizia: “Mas bem, é um conselho meramente consultivo” – o meramente já me faz alguma confusão. Não perceber que a sinodalidade, ainda que o Conselho seja consultivo, é fazer que estes órgãos colegiais ou de consulta, se quisermos chamar assim, estes conselhos, entrem num processo de decisão. Ou seja, o processo de decisão tem um método e não é simplesmente: “Eu escutei algumas coisas e isso não me vincula de algum modo”.
Portanto, é ter processos, métodos de discernimento e processos para tomar decisões e depois de avaliar, aplicar essas decisões. Isso significa uma mudança de mentalidade e, portanto, envolver estes conselhos que podem ser pastorais, presbiterais, conselho de vigários, seja o que for, nesse método sinodal, que é um processo de tomar decisões.
Se calhar, às vezes nós podemos dizer que a sinodalidade é o método cristão de tomar decisões. Ou seja, até usando três verbos muito caros à espiritualidade inaciana: procurar, encontrar e eleger a vontade de Deus. Procurar a vontade de Deus, encontrá-la e depois assumi-la como nossa. É isso que me pedes, é isso que eu quero para a minha vida, é isso que nós queremos para a vida da nossa comunidade. É isso que nós queremos para a vida da nossa Igreja.
Tenho insistido muito nisto: é preciso itinerários, fazer itinerários, ou seja, colocar marcos e metas ou etapas a atingir e depois entrar num processo da vivência da sinodalidade na vida da Igreja. Isso é extremamente fundamental. Caso contrário estamos e continuamos no mundo da boa vontade. Não gostaria de aplicar isto à sinodalidade, muito menos à Igreja, mas como diz o nosso povo: de boas vontades está o nosso inferno cheio, ou de boas intenções.”
P: Em Portugal, acha que seria útil uma estratégia nacional para a implementação do Sínodo? Que papel poderia ter a Rede Sinodal em Portugal?
R: “Sim, é fundamental. E eu gostaria de começar logo por sublinhar este aspeto: acho que já está bem presente no episcopado, na Conferência Episcopal Portuguesa, que são necessários itinerários e a vivência da sinodalidade. Agora é importante concretizar. É fundamental criar itinerários com metas na medida do possível, bem definidas, muito claras.
E claro, haver uma estratégia nacional permite aproveitar todas as sinergias, colocar em rede vários movimentos, vários grupos que estão entusiasmados com este processo sinodal, sendo que a Rede Sinodal é aquele que é o mais destacado, se calhar o único mesmo até em Portugal, pelo menos não conheço outro. E aproveitar este entusiasmo de pessoas que já estão convencidas da necessidade de uma Igreja sinodal. Porque uma das grandes dificuldades que ainda vamos tendo e o próprio documento, que fala sobre estas pistas, orientações para a aplicação do documento final, diz precisamente isso: que ainda há resistências, pessoas que não estão convencidas. Ainda há pessoas a entusiasmar para este caminho.
Por isso, o facto de haver já um conjunto de pessoas que têm conhecimento de boas práticas, que procuram concretizar na sua realidade também já aquilo que é uma Igreja sinodal ou deve ser uma Igreja sinodal, constituído por leigos e leigas, religiosos e religiosas de vários âmbitos da vida pública. Por padres também, eu sou um deles. Se nós queremos efetivamente colocar em prática uma Igreja sinodal e este documento final e estas pessoas já têm leitura, já têm uma reflexão, já têm vindo a amadurecer ao longo do tempo aquilo que é todo este processo, e isso também é importante, eu acho que não podemos, simplesmente, desconsiderar ou achar que podemos dispensar.
Mas esta é a minha perspetiva, evidentemente que não quero pôr, nem ninguém da Rede Sinodal quer impor o projeto absolutamente a ninguém. O projeto vai continuar, estamos entusiasmados. Vamos fazendo na medida daquilo que são as nossas possibilidades. Aquilo que também é a nossa agenda.
Mas, enfim, se alguém te oferece alguma coisa boa, está disposto a colaborar contigo, é bom! Porque razão não vais acolher essa oferta? Eu creio que a determinado momento, creio não, aconteceu que, em determinado momento, a Rede Sinodal disponibilizou-se à Conferência Episcopal, para ajudar precisamente na aplicação e implementação do documento final e a estar disponível para aquilo que for necessário neste âmbito, certamente noutros âmbitos.
Portanto, isto para dizer o quê? Sim, a Rede Sinodal como todos aqueles que queiram colaborar na implementação do Sínodo, temos que acolher, temos que fazer esta realidade que todos, todos, todos que o Papa Francisco pronunciou cá há dois anos, é uma realidade na vida da Igreja.”
Paulo Terroso é sacerdote da arquidiocese de Braga e responsável do Departamento Arquidiocesano de Comunicação Social. Colabora com a Comissão de Comunicação da Secretaria Geral do Sínodo. Pertence à Rede Sinodal em Portugal colaborando na iniciativa “No coração da esperança”, uma parceria com Diário do Minho, Voz Portucalense, Correio do Vouga, Correio de Coimbra, A Guarda, 7Margens, Rede Mundial de Oração do Papa e Folha do Domingo.
Laudetur Iesus Christus
Fonte: Vatican News