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O testemunho do cardeal Schönborn aos bispos de recente nomeção: o pastor pertence ao seu rebanho – Vatican News

“Levei anos para me libertar de preconceitos vinculados a rótulos como: esquerda-direita, tradicionalista-progressista, por mim – contra mim… Consegui, aos poucos, deixar de lado essas “etiquetas” e ver os homens, os padres e outros bispos simplesmente como irmãos em Cristo.” “Como posso – acrescentou – ser pastor se eu mesmo quero antecipar o julgamento de Cristo, tentando separar as ovelhas dos bodes? O Papa Francisco nos recordava com frequência: todos, todos, todos!”

Por Gianni Valente*

“Em Tallinn, capital da Estónia, foi beatificado o Arcebispo jesuíta Eduard Profittlich, morto em 1942, durante a perseguição do regime soviético contra a Igreja. E em Verszprém, na Hungria, foi beatificada Mária Magdolna Bódi, jovem leiga, morta em 1945 por ter resistido a soldados que queriam violentá-la. Louvemos o Senhor por estes dois mártires, testemunhas corajosas da beleza do Evangelho! (Leão XIV no Angelus de 7 de setembro)”

Em 1940, quando a União Soviética estendeu seu controle sobre a Estônia e os demais países bálticos, o jesuíta alemão Eduard Profittlich, primeiro arcebispo católico de Tallinn, poderia ter retornado à Alemanha. Em vez disso, decidiu ficar, porque — segundo ele — “o pastor pertence ao seu rebanho”. Menos de dois anos depois, ele morreu em uma prisão soviética.

No último sábado, 6 de setembro, o arcebispo Profittlich foi proclamado Beato. O cardeal Christoph Schönborn, arcebispo emérito de Viena, presidiu a liturgia de beatificação, celebrada na Praça da Liberdade, em Tallinn. Nesta segunda-feira, 8 de setembro, o purpurado austríaco, inspirando-se precisamente no martírio de Profittlich, iniciou seu discurso-testemunho proferido na Aula Magna da Pontifícia Universidade Urbaniana, diante de mais de 190 bispos recém-nomeados, vindos dos cinco continentes, e que atualmente frequentam cursos de formação em Roma, organizados para eles pelos Dicastérios da Cúria Romana.

Schönborn deu o testemunho de como o martirizado arcebispo de Tallinn havia abraçado até às últimas consequências sua vocação, citando uma frase de seus escritos: “Quando por fim ficou claro para mim que eu tinha que ficar, minha alegria foi tão grande que, com alegria e gratidão, rezei o Te Deum…”

Depois, o cardeal dominicano, que completou 80 anos em janeiro passado, articulou seu pronunciamento com considerações e sugestões para os novos bispos, vindas de sua longa experiência como teólogo, professor e Sucessor dos Apóstolos. “Não foi fácil para mim, depois de 28 anos de vida religiosa – confessou o cardeal, membro da Ordem dos Frades Pregadores – tornar-me bispo sem a comunidade de irmãos no mosteiro. 

O cardeal citou casos de bispos que o surpreenderam ao optarem por exercer seu ministério fomentando um clima de fraternidade e benevolência. Em Lisboa, recordou, “o Patriarca, os bispos auxiliares e o chanceler moram na casa episcopal… Moram em uma casa, têm uma mesa, uma oração comum”. Em Awka, Nigéria, “a mesa do bispo era aberta para os padres que passavam. Era algo muito vivo!”. Enquanto há “tristeza” quando uma diocese está dividida e reina um clima de desconfiança.

“Levei anos – confessou o cardeal teólogo – para me libertar de preconceitos vinculados a rótulos como: esquerda-direita, tradicionalista-progressista, por mim – contra mim… Consegui, aos poucos, deixar de lado essas “etiquetas” e ver os homens, os padres e outros bispos simplesmente como irmãos em Cristo.” “Como posso – acrescentou – ser pastor se eu mesmo quero antecipar o julgamento de Cristo, tentando separar as ovelhas dos bodes? O Papa Francisco nos recordava com frequência: todos, todos, todos! ‘Quem és tu para julgar?'”

Proximidade com sacerdotes e seminaristas

 

Nas dioceses – continuou o cardeal – os sacerdotes devem sentir que o bispo os aprecia, os estima, os ama.” Eles não devem “esperar meses” por um encontro com seu bispo, e de fato seria útil organizar “um encontro semanal dos sacerdotes com o bispo”.

Com relação aos sacerdotes, os bispos são chamados a exercer também seu ofício de juízes e punir os abusos cometidos por membros do clero. “A verdade e a misericórdia – observou o cardeal – andam juntas. É grave se os bispos simplesmente abandonam seus sacerdotes no momento em que cometem um crime. Também é grave quando não os levam ao arrependimento, à expiação ou à disposição de enfrentar a punição, ou quando sequer encobrem seus crimes. E, em todo caso, “o irmão que cometeu um crime continua sendo meu irmão, precisamente porque cometeu um erro”.

Além disso, se é possível – é outra sugestão do cardeal — o bispo deveria conhecer pessoalmente seus seminaristas. “A cada ano – conta ele – eu oferecia aos meus seminaristas a oportunidade de participar de uma semana de estudo-férias. Tratava-se de um ‘legado’ da minha profissão acadêmica.” Durante essas semanas, lemos grandes mestres como Tomás de Aquino ou Agostinho, John Henry Newman ou Ratzinger.” Uma iniciativa, admitiu, que pode ser proposta com muito mais facilidade “em um seminário como o de Viena do que no Seminário Memorial Bigard, em Enugu, Nigéria, que, quando o visitei, tinha mais de 900 seminaristas”.

As relações com a política

 

Os bispos, em seus diversos contextos, reconheceu o cardeal Schönborn, se veem diante dos protagonistas e das dinâmicas da política. Por exemplo, ele próprio viveu essa experiência em um dos países outrora definidos como ‘católicos’, que nas últimas décadas foi afetado por processos radicais de secularização. “Sempre me impressionou”, acrescentou o arcebispo emérito de Viena, “como o Papa Bento XVI, com tanta clareza e perspicácia, conseguiu identificar elementos positivos nesse desenvolvimento. A Igreja não quer e não pode criar um Estado político de Deus.”

No plano político, o cardeal aconselhou os novos bispos a “manterem boas relações com os parlamentares crentes – lembrando que  – não devemos nos envolver em política; eles são os representantes do povo que neles votou”.

Em muitos países, acrescentou, políticos e parlamentares católicos “se encontram em posições minoritárias” e “não devem se sentir abandonados por seus bispos”. Além disso, é sempre aconselhável buscar convergência com “forças políticas que não compartilham nossa fé, mas que defendem nossos princípios humanos fundamentais. Por exemplo, na luta contra a eutanásia”. E, sempre que possível, é necessário encontrar “pontos de vista comuns. Por exemplo, na luta contra a eutanásia”.

E, sempre que possível, é necessário encontrar “pontos de vista comuns, com outras comunidades religiosas”, seguindo o exemplo também dado pelo Papa Francisco “por meio de sua amizade com o xeque Al-Tayyeb, da Universidade Al-Azhar, no Cairo”.

As mulheres, os pobres

 

Entre os jovens das muitas escolas que visitou, o cardeal contou ter experimentado uma “incompreensão quase total” sobre o fato de que “na Igreja Católica, as mulheres não são admitidas aos ministérios ordenados”. Schönborn acrescentou que muitos dos novos bispos também serão convidados a “levantar a voz” contra a não admissão de mulheres aos ministérios ordenados.

“Acredito firmemente – esclareceu o cardeal – que a doutrina da Igreja sobre este ponto é imutável, como afirmou o Papa João Paulo II, referindo-se a uma tradição bimilenar e afirmando claramente: ‘Não tenho poder para mudá-la'”. Isso porque “a escolha dos Doze por Jesus e a tradição ininterrupta de que isso representa uma disposição vinculativa de Jesus permanecerão válidas também em sua geração”.

Ao mesmo tempo, todo ministério apostólico “é vivido no senso e no espírito de Jesus, que jamais teria tratado as mulheres com presenção, nem com desprezo, nem com arrogância. Quantas vezes experimentei isso entre nós, clérigos”. Por isso, exemplificou o cardeal, “deve haver mulheres nos organismos de nossas dioceses: nos seminários sacerdotais! No Conselho Episcopal, e também na liderança das muitas pequenas comunidades”.

Entre o passado e o presente, o cardeal dominicano recordou que “a primeira comunidade paulina na Europa se reunia na casa de Lídia, em Filipos”. E hoje, “quantos ‘recintos’ na América Latina são liderados por mulheres, sem a concorrência dos sacerdotes!”.

O cardeal concluiu sua palestra-testemunho pedindo aos novos bispos que permaneçam em comunhão com os pobres. Não apenas para serem preservados “de fazer ‘discursos piedosos’ a eles sem conhecer suas vidas reais”, mas sobretudo para serem apoiados e guiados por seus testemunhos de fé. “Nunca me esqueço – disse o cardeal – do muçulmano marroquino que vendia lenços na periferia de Roma para enviar dinheiro à sua família… ‘Como vai?’, eu sempre lhe perguntava. ‘Está tudo bem’, ele respondia, apontando para o céu.” 

*Agência Fides


Fonte: Vatican News

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