
A ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) se reúne com ministros do governo Lula (PT) que integram partidos de centro-direita nesta segunda-feira (8) para discutir estratégias que possam frear o andamento no Congresso Nacional do projeto que dá anistia aos condenados pelos ataques golpistas do 8 de janeiro.
As negociações em torno da proposta avançaram na última semana em resposta ao início do julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu na trama golpista, e envolveram partidos do centrão e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Tarcísio é apontado por políticos desse grupo como o candidato preferencial para enfrentar Lula, e há uma pressão sob Bolsonaro para que ele faça do governador o seu sucessor político. A ideia, de acordo com aliados do ex-presidente, é conseguir avançar com uma proposta de anistia após sua eventual condenação e, assim, tirá-lo da prisão, mas mantendo sua inelegibilidade.
O encontro ocorre na manhã desta segunda, no Palácio do Planalto, e deve reunir ministros que foram indicados à Esplanada por partidos de centro e que têm atuação mais próxima às bancadas partidárias no Congresso. Segundo um deles afirmou à reportagem, a ideia é que o encontro sirva para que seja alinhada uma atuação coletiva dos ministros nesse tema e em outras questões de governo no Legislativo.
Um auxiliar de Lula diz ainda que o encontro deverá servir para ser um espaço de coordenação dessa atuação dos ministros, assim como um momento para que eles tragam o sentimento das bancadas. No Planalto, a orientação é de oposição à anistia, e é isso que Gleisi deverá reforçar aos demais ministros, cobrando atuação deles junto aos deputados e senadores de suas respectivas siglas.
São esperados ministros do MDB, PSD, União Brasil, PP e Republicanos.
Além do PL, partidos do centrão passaram a pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para levar o tema ao plenário. O próprio parlamentar, que antes resistia à essa ideia, afirmou publicamente que estava avaliando o tema —o que foi interpretado por políticos como uma sinalização de que ele prepara o terreno para essa votação.
Na semana passada, o União Brasil e o PP anunciaram o desembarque do governo federal, e integrantes das cúpulas das duas siglas passaram a defender uma anistia mais ampla que abarcasse até o ex-presidente. Juntos, os dois partidos têm quatro ministérios, além do comando da Codevasf e da Caixa Econômica Federal, entre outros cargos.
Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), afirmou que defende um texto que apenas reduza penas de condenados pelo 8 de janeiro, sem inclusão do andar de cima. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), por sua vez, elaborou uma nova versão que libera Bolsonaro para concorrer na eleição de 2026 e perdoa crimes desde o inquérito das fake news, em 2019.
Integrantes do Palácio do Planalto passaram a criticar as negociações e afirmaram que o governo federal vai atuar para evitar que a proposta avance na Câmara. Como a Folha mostrou, o próprio Lula afirmou em conversas que a aprovação desse projeto significaria uma rendição ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que lançou uma ofensiva e impôs sanções econômicas ao Brasil em resposta ao julgamento no Supremo.
Em entrevista na semana passada, Gleisi afirmou que o governo sequer cogita que a proposta seja votada. “Ainda tem o decreto de regime de urgência que tem que ser analisado pela Casa e depois ele ser pautado. Espero que a urgência seja derrotada e nós vamos trabalhar para isso.”
Um político a par das conversas diz que a missão número 1 do governo é evitar que o tema seja levado ao plenário e, para isso, trabalharão para diminuir a pressão sob Motta. Aliados de Lula dizem que ao priorizar a anistia em detrimento de outros temas que têm apelo popular, o presidente da Câmara estaria empoderando o mesmo grupo que obstruiu sessões da Casa numa rebelião em agosto. Eles afirmam ainda que a votação de temas populares poderiam ser importante para a imagem da Câmara e do próprio Motta.
A expectativa é que o encontro também trate de outros temas de interesse do governo no Legislativo, entre eles a proposta que dá isenção do IR (Imposto de Renda) para quem ganha até R$ 5.000, considerada principal pauta do Planalto, e a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Segurança Pública.
De acordo com um integrante do governo, o anúncio do desembarque de União e PP do governo também deverá ser tratado na reunião. O tom por auxiliares de Lula e parlamentares governistas é o que foi expressado por Gleisi na semana passada. A ministra disse, em reação à decisão dos partidos, que ninguém é obrigado a ficar, mas, quem permanecer na gestão petista “deve ter compromisso com o presidente Lula e com as pautas principais que este governo defende”.
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