
Manifestantes bolsonaristas se reúnem na tarde deste domingo, 7 de setembro, na avenida Paulista, em São Paulo. O protesto pede a anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e dos demais envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 2022.
Reunidos nas imediações do Masp, os manifestantes empunham símbolos usados pelo bolsonarismo, como a bandeira de Israel e o batom, uma referência à cabeleireira Débora Rodrigues, condenada por sua participação no ataque do 8 de Janeiro. Débora pichou com batom a estátua “A Justiça” diante do STF.
O que se percebe como diferencial do protesto deste 7 de setembro é a grande quantidade de faixas e cartazes escritas em línguas estrangeiras, numa tentativa de chamar a atenção internacional para as causas agora defendidas pelos bolsonaristas.
Nas grades próximas ao palanque, por exemplo, centenas de pessoas mostram um cartaz com o dizer “SOS Trump, Bolsonaro Free”. Também há cartazes com a imagem de Carla Zambelli, que está presa na Itália.
Nas placas, existem mensagens em italiano e em inglês: “Libertá per Zambelli” e “Freedom for Zambelli” —liberdade para Zambelli, em português. Desta vez, a camisa da seleção, sempre usada pelos manifestantes bolsonaristas, se mistura com camisas que também trazem as cores da bandeira dos Estados Unidos.
Três gritos foram alternados no protesto, resumindo as demandas bolsonaristas: “Fora, Moraes”, “anistia já” e “Volta, Bolsonaro”.
Em seu discurso, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que Bolsonaro (PL) poderá ser condenado nesta semana sem nenhuma prova. Disse ainda que a delação de Mauro Cid ocorreu sob coação.
Tarcísio defendeu a anistia geral, pressionou o presidente da Câmara, Hugo Motta, a pautar o tema e disse que o julgamento que ocorre no STF é sobre “um crime que não existiu”. O governador paulista disse que o julgamento não é justo, voltou a falar em “narrativas” e mandou indiretas a Alexandre de Moraes. “Não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre o outro. Chega”, disse em recado ao Supremo.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi o primeiro a falar. Ele compareceu ao protesto com Renato Bolsonaro, irmão de Jair Bolsonaro. Segundo Valdemar, Renato se candidatará ao cargo de deputado federal, no ano que vem, pelo partido. Para a Presidência, porém, ele repetiu a retórica de que Bolsonaro, inelegível, será candidato.
“Não existe plano B. O nosso coração já tem candidato e o nome dele é Jair Bolsonaro”, disse ele. “Quero pedir para vocês que a anistia precisa ser pautada, porque temos o maior número de votos. Qualquer cidadão em uma democracia tem direito a um segundo julgamento. Por isso, vamos falar bem alto para o Congresso Nacional: anistia já.”
Líder do PL, o deputado Sóstenes Cavalcante minimizou as manifestações da esquerda que foram realizadas neste domingo. “Adversário quiseram fazer eventos pelo Brasil. Tinha meia dúzia de gatos pingados. Aqui está o povo. A multidão do Brasil veste verde e amarelo”, afirmou. Ele também chamou o ministro Alexandre de Moraes de ditador. “O Brasil jamais será vermelho. Vossa excelência é um ditador, você é um violador de direitos humanos e comete crimes no Brasil.”
Os oito integrantes do núcleo crucial da trama golpista estão sendo julgados agora na Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal). Por isso, os apoiadores de Bolsonaro criticam os ministros do Supremo, em especial o relator da ação penal, ministro Alexandre de Moraes.
Trata-se de mais uma manifestação organizada pelo pastor Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro. Com o avanço das investigações, eventos dessa natureza passaram a ser organizados nas principais capitais do país. Em prisão domiciliar e com tornozeleira eletrônica, Bolsonaro não participará do protesto.
Ele é suspeito de ter agido, em parceria com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), seu filho, para atrapalhar o andamento da ação penal. Eduardo, que está nos Estados Unidos, também não participará, mas o pastor vai discursar no alto do palanque que foi montado na avenida Paulista.
No mês passado, Malafaia foi alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal. Ele também é suspeito de tentar obstruir as investigações do plano golpista.
Na manhã deste domingo, ele e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, organizaram o ato bolsonarista na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro. No local, os manifestantes ocuparam o equivalente a um quarteirão, bem abaixo de protestos anteriores realizados no mesmo local, como no 7 de Setembro de 2022, por exemplo, que reuniu o então presidente Bolsonaro e motivou sua condenação no TSE por uso da máquina pública para fins eleitorais.
Flávio disse que o ministro Alexandre de Moraes está dando uma segunda facada no ex-presidente da República. Ele chamou de “farsa e teatro” o julgamento de seu pai no STF.
Malafaia embarcou em seu jato particular para ir da manifestação do Rio até a de São Paulo, acompanhado da esposa, a pastora Elizete Malafaia, e do líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante, membro da sua igreja.
Em São Paulo, também são aguardados os discursos do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, presidente nacional do PL Mulher. Outros dois governadores estão confirmados: Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina.
Neste 7 de Setembro, manifestações bolsonaristas também vão ocorrer em Curitiba, Belo Horizonte e Brasília. A partir de terça-feira (9), o julgamento da trama golpista chega à fase final, com os votos dos ministros da Primeira Turma.
Em paralelo, cresce a pressão no Congresso pela anistia. Tarcísio tornou-se um dos principais articuladores do projeto e foi até Brasília negociar com Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara, e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado.
Veja mais em Folha de S. Paulo