
Na trajetória de tentativas e de golpes executados que acossa o Brasil desde a inauguração da República, todos foram agraciados com o perdão. Por ato presidencial ou por negociação política avalizada pelo Congresso.
A hipótese de anistia agora ronda o julgamento de um ex-presidente e de parte da cúpula do governo de Jair Bolsonaro (PL), nela incluídos militares de altas e médias patentes.
Repetiremos a história ou colocaremos um ponto final naquele itinerário, sinalizando que daqui para frente tudo será diferente? Eis uma questão a ser sopesada por aqueles que se utilizam do argumento da página virada em nome de uma aludida pacificação.
A tese é compartilhada por uma minoria de desavisados e pela maioria dos mal-intencionados que se travestem de cordeiros no intuito de deixar aberta a porta para novas sedições. Vitoriosos, voltarão à refrega.
Perdoar os já condenados pelo 8 de Janeiro, mais os que vierem a ser sentenciados pela urdidura da trama, equivalerá a dizer-lhes que as instituições estavam erradas ao reagir com rigor, que fiquem à vontade para repetir, pois não damos valor ao Estado de Direito. Podem agredi-lo sem receio, porque aqui tudo haverá de ser como antes.
O pior é ver governadores que se acham aptos a presidir a República envolvidos num acordo que distorce o conceito de anistia, condicionando-o a acertos eleitorais de natureza puramente casuística. Defendem o perdão a Jair Bolsonaro em troca do apoio dele às suas candidaturas.
Posição em que se coloca o governador de São Paulo, na prática desmentindo as próprias palavras em prol da reeleição. Tarcísio de Freitas (Republicanos) promete indulto ao ex-presidente caso ascenda ao Planalto, mas antes disso precisaria passar pelo crivo do eleitorado que talvez não concorde com essa bandeira na campanha.
O trato com Bolsonaro pode lhe garantir a simpatia da direita extremada, mas implicará compromissos que devem lhe custar a rejeição dos moderados, sem os quais ninguém ganha a eleição.
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