
Um dos principais responsáveis pelo julgamento da trama golpista, o ex-procurador geral da República Augusto Aras tentou até o final do segundo mandato ocupar a cadeira de Paulo Gonet.
Aras não investigou Jair Bolsonaro. Deixou as suspeitas de crimes se acumularem. Foi a grande ausência no julgamento do Supremo Tribunal Federal envolvendo o núcleo central da organização criminosa acusada de tentar um golpe de Estado.
Aras foi tolerante com o discurso do ódio e o descaso com os mortos da pandemia. É possível que sua eventual responsabilidade só venha a ser avaliada por historiadores.
Bolsonaro não faria o que fez, fosse outro PGR.
Aras e Bolsonaro foram insensíveis aos protestos contra os abusos.
Aras não é citado na denúncia de Gonet. Não é suspeito de estimular o golpe. Mas a peça de acusação situa episódios em que o ex-PGR ignorou pedidos para conter a escalada de violência que resultou no vandalismo do 8 de Janeiro.
Desprezou advertências de oito ex-PGRs.
Quando Aras obteve os votos para a recondução, foi lançado um livro em sua homenagem. Dias Toffoli foi um dos organizadores. Paulo Gonet foi um dos articulistas.
Toffoli indeferiu pedido para processar Aras, por prevaricação, por não ter investigado Bolsonaro. Disse que nunca viu da parte do ex-presidente “nenhuma atitude contra a democracia”.
Aras arquivou memorando em que cinco subprocuradores pediam que se recomendasse a Bolsonaro evitar manifestações contra a política de combate ao coronavírus.
Aras criticou os signatários do memorando. Considerou a proposta “juridicamente inviável”.
Afirmou que não havia “indícios de eventual prática de ilícito de natureza criminal por parte do presidente da República”.
Embora considerasse a possibilidade de um terceiro mandato, Aras sabia que não liderava as preferências do Palácio do Planalto. Trabalhou, então, por um aliado para sucedê-lo.
Será no próximo dia 10 a inauguração do retrato do ex-procurador geral de Justiça de Minas Gerais, Antônio Sérgio Tonet, na galeria do Ministério Público.
O ex-PGJ Jarbas Soares deixou de prestar essa homenagem ao antecessor e inaugurou o seu próprio retrato no exercício do cargo.
Em dezembro de 2020, Tonet transmitiu o cargo ao procurador de Justiça Decano, Darcy de Souza Filho, o mais antigo na instância. Jarbas tomou posse pela terceira vez perante o governador, em cerimônia na Cidade Administrativa. Evitou receber o cargo pelas mãos do antecessor.
Jarbas e Tonet pertencem a grupos opositores no MP-MG.
Jarbas foi procurador-geral por duas vezes, indicado por Aécio Neves (PSDB); Tonet foi indicado duas vezes por Fernando Pimentel (PT).
Jarbas Soares foi um dos organizadores de coquetel na Ilha Fiscal, na baía da Guanabara. Promoveu evento de três dias na Bélgica, com recursos de órgãos públicos e empresas privadas.
A caravana foi apoiada pela Cedro Participações, do empresário Lucas Pedro Kallas, proprietário de jato em que Jarbas pegou carona por duas vezes.
“Sinto-me livre para fazer as coisas que acho adequadas. Dediquei 35 anos da minha vida ao MP, me orgulho disto. Tenho o reconhecimento da minha classe e das instituições. Críticas sempre vão ocorrer”, disse Jarbas.
O governo Lula e o governo Tarcísio Freitas tentaram capitalizar politicamente a Operação Carbono Oculto, deflagrada pela Receita Federal e órgãos parceiros.
No governo federal, alegava-se que o secretário Guilherme Derrite (PP) queria obter dividendos políticos.
Do lado paulista, alegava-se que o governo federal tentava se aproveitar do trabalho alheio.
As grandes operações contra lavagem de dinheiro e crime organizado não usavam a sede da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) como local de encontro.
Os agentes de outros estados que vinham a São Paulo ficavam na sede da Polícia Federal, onde há dormitórios. A praxe era recolher os celulares. Os agentes não sabiam quais seriam os alvos da operação.
Naquele tempo, Tarcísio não ocupava o Palácio dos Bandeirantes e não estava “nem aí” para o que a PM fazia.
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