
A ministra das relações exterioes da Palestina, Varsen Aghabekian, se encontrou com autoridades da Santa Sé nesta semana, ao final de uma viagem humanitária e diplomática por várias nações europeias. Durante seus dias em Roma, ela encontrou tempo para visitar crianças palestinas sendo tratadas em hospitais italianos e do Vaticano.
Por Linda Bordoni – Vatican News
Um dos momentos mais importantes da visita de Varsen Aghabekian à Itália e a Cidade do Vaticano nesta semana foi o encontro, na segunda-feira, com o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin. Em discussão estava o fortalecimento da colaboração entre a Santa Sé e a Autoridade Nacional Palestina, em particular no que diz respeito a questões humanitárias urgentes. Aghabekian é ministra das relações exteriores e dos expatriados da Autoridade Nacional Palestina, e esteve acompanhada pelo embaixador palestino junto à Santa Sé, Issa Kassissieh, no Vaticano, em uma tentativa de enfrentar a crise humanitária em curso em Gaza e na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental.
O cardeal Parolin teria manifestado profunda preocupação com a situação, sublinhando a necessidade urgente de interromper a guerra e permitir a entrada de ajuda humanitária, sem deixar de descrever o conflito em andamento como uma derrota para a humanidade.
Junto com seu homólogo italiano, Antonio Tajani, e outras autoridades italianas, além da embaixadora palestina designada para a Itália, Mona Abu Amara, Varsen Aghabekian também visitou crianças palestinas em tratamento no Hospital Pediátrico Bambino Gesù, do Vaticano, e nos hospitais italianos Umberto Primo e Gemelli, em Roma. Antes de sua partida, a ministra Aghabekian disse à Rádio Vaticano/Vatican News que o objetivo de suas visitas aos hospitais foi “verificar a situação das crianças e das famílias, para que se sintam mais próximas, para que percebam que realmente há alguém do nosso lado que se importa com elas.”
Ela acrescentou que também foi uma ocasião para apresentar melhor a embaixadora Abu Amara aos pacientes que estão em tratamento: “Ela já os tem visitado, mas pedimos uma coordenação mais estreita entre a Embaixada e o Ministério das Relações Exteriores em questões relacionadas aos pacientes e às suas famílias. Concordamos em estabelecer um vínculo mais próximo, de modo que haja melhor coordenação e melhor acompanhamento”, explicou.
A ministra Aghabekian prosseguiu afirmando que a Itália respondeu à crise e à emergência atuais “em termos de ajuda humanitária, ajuda alimentar e no acolhimento dos pacientes aqui.” Reconhecendo que toda ação de solidariedade conta, ela afirmou: “Ainda é preciso muito mais de todos, e o que chega a Gaza é apenas uma gota no oceano.”
Palavras do Papa são uma orientação moral e ética para o mundo
Sobre o envolvimento da Santa Sé com a crise em diferentes níveis, a ministra disse que ele é de máxima importância. As palavras de Sua Santidade, observou, ressoam em todo o mundo.
“E são importantes como mensagem de apoio aos palestinos”, além de oferecerem uma significativa “diretriz moral e ética ao mundo sobre o que precisa ser feito em um mundo em turbulência”, disse ela. A ministra afirmou que “o que está acontecendo é catastrófico em Gaza e na Cisjordânia, e isso precisa parar. Precisamos de palavras como as do Papa para nos dar alguma direção.”
A ministra Aghabekian prosseguiu descrevendo sua reunião com o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Parolin, como um ótimo encontro. “Discutimos a situação em Gaza, na Cisjordânia, a presença cristã, o número cada vez menor de cristãos, a incitação contra os cristãos, o que precisa ser feito, o que pode trazer paz para a região, etc., etc.”
Tour diplomático
A visita da ministra das Relações Exteriores a várias nações foi uma ocasião para pedir à comunidade internacional “que defenda o que é justo.” “O que é justo hoje é o direito dos povos à autodeterminação e o direito internacional”, afirmou, acrescentando que tudo o que os palestinos pedem é que o direito internacional seja respeitado e cumprido.
“Qualquer país que diga defender o direito internacional e os direitos humanos deve cumprir as leis internacionais sem hipocrisia”, acrescentou, observando que “se isso estivesse acontecendo em outra parte do mundo”, todos os países já estariam “de pé”. Esperamos, disse a ministra, que o mundo inteiro declare: “‘O que é justo é justo’, independentemente do que esteja acontecendo ou de quem esteja envolvido”.
Essa visita diplomática levou a ministra das relações exteriores Aghabekian à Eslovênia, Croácia, Letônia e Lituânia, antes de sua chegada à Itália e a San Marino. O objetivo, explicou, foi “angariar apoio à causa dos palestinos, buscar apoio para o reconhecimento da Palestina e para uma maior assistência humanitária”.
Sobre a situação dos pacientes palestinos que estão sendo tratados nos hospitais locais, tanto aqueles com doenças crônicas graves quanto os feridos pela guerra, ela afirmou que estão recebendo os cuidados necessários, embora alguns casos sejam críticos e alguns pacientes tenham passado por operações muito difíceis. Alguns, disse, estão se recuperando bem, embora ainda precisem de tempo para reabilitação e recuperação. Segundo a ministra, a Itália conseguiu transportar de avião cerca de 181 crianças com suas famílias.
Necessidade de um cessar-fogo
Deixando Roma na terça-feira, a ministra segue para o Cairo, capital do Egito, para participar de uma reunião da Liga Árabe. Ela afirmou que, olhando para o futuro, seu governo continuará incessantemente “a pedir um cessar-fogo, porque nossa prioridade máxima, como palestinos e como lideranças palestinas, é salvar vidas.”
“Porque a cada dia em que essa agressão brutal segue, temos centenas de civis mortos. Precisamos de um cessar-fogo que seja permanente, precisamos garantir a entrada sem impedimentos da ajuda humanitária”, disse.
Ao mesmo tempo, prosseguiu a ministra Aghabekian, “precisamos abrir um horizonte em direção a um caminho político que nos aproxime da nossa independência e da concretização física do nosso Estado.”
“Perder a esperança não está em nosso dicionário”
Apesar dos enormes desafios, ela disse que precisa “manter o otimismo, porque, para os palestinos, perder a esperança não está em nosso dicionário.” “Temos que continuar esperançosos porque sabemos que, em última análise, o que é justo é justo.”
Expressando sua convicção de que a opinião pública está mudando e influenciando as políticas oficiais em vários países, a ministra das Relações Exteriores disse: “Estamos vendo uma mudança de postura, em direção a resolver isso de uma vez por todas, ou seja, ao fim da ocupação.”
Ela destacou que, enquanto o mundo assiste à situação horrível na Faixa de Gaza, também é importante não perder de vista a realidade em deterioração na Cisjordânia. “Isso é extremamente importante, porque, quando falamos de violência e da política israelense, essa política se aplica a todo o território ocupado, mas a vemos implementada de várias formas e maneiras: na Faixa de Gaza, vemos essa agressão brutal; na Cisjordânia, vemos a iminente anexação, o aumento da violência dos colonos, a maior apropriação de terras, o crescimento do número de colonos e assentamentos, etc.”
A política é a mesma, reiterou, observando que, em todas as partes do território ocupado, “há uma forma de violência sendo exercida contra o povo palestino.”
Paz para o Oriente Médio e para o mundo
Ela concordou que é fundamental que a comunidade internacional nunca perca de vista o quanto a paz nos territórios palestinos é crucial para a paz no Oriente Médio em geral e para a paz mundial. “Essa ocupação e a desestabilização que ela provoca não estão confinadas apenas ao território ocupado, mas se estendem aos países vizinhos e, destes, às capitais europeias e ao mundo como um todo”, observou, acrescentando que “se a comunidade internacional realmente deseja paz na região, precisa entender que somente ao resolver e pôr fim à ocupação israelense da terra palestina é que a paz virá.” Sem isso, disse ela, “continuaremos a ter ciclos de violência, talvez ainda mais violentos do que os que vemos hoje.”
Enquanto se prepara para se reunir com membros da Liga Árabe, a ministra Aghabekian destacou a relevância geopolítica do grupo e expressou sua opinião de que “hoje, os árabes estão mais unidos do que nunca: vimos isso em sua posição, individual e coletiva, contra o plano Riviera de Trump, contra o deslocamento dos palestinos.” Hoje, afirmou, a Arábia Saudita, com seu peso financeiro e sua posição estratégica, está liderando a coalizão pela paz na Conferência da Paz em Nova Iorque.
“É preciso dar um basta!”
Concluindo, ela lançou um apelo urgente: “Por favor, fiquem do lado certo da história. A paz é possível e a justiça pode prevalecer, mas isso exige o respeito aos direitos palestinos, para que possam viver em paz e segurança ao lado do Estado de Israel.”
“É preciso dar um basta!”, enfatizou a ministra das relações exteriores Aghabekian. “É preciso respeitar o direito internacional, a ocupação não pode continuar para sempre, pois um povo submetido à ocupação, à opressão e à subjugação inevitavelmente lutará, custe o que custar, por sua libertação.”
Fonte: Vatican News