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A educação na formação e nos valores dos jovens – Vatican News


A juventude, em todas as épocas, foi marcada pela busca de sentido e de identidade. Contudo, no contexto contemporâneo, essa busca se intensifica diante da crise de referências e da fragmentação dos vínculos sociais.

Prof. Robson Ribeiro – Teólogo, Historiador e Filósofo

A juventude representa uma etapa singular da existência humana: é o tempo da abertura ao novo, da busca por sentido e da capacidade de sonhar o impossível. Nesse horizonte, a educação não pode ser compreendida apenas como transmissão de conteúdo ou preparação para o mercado de trabalho, mas como um processo integral que molda a identidade, os valores e a consciência crítica dos jovens. Formar é, antes de tudo, abrir caminhos para que o ser humano descubra sua dignidade e assuma com responsabilidade sua inserção no mundo.

A força da juventude reside justamente nessa tensão entre potência e fragilidade. O jovem traz em si a energia da transformação, o impulso para questionar estruturas cristalizadas e a ousadia de propor novas formas de viver em sociedade. No entanto, sem uma educação que forneça referências sólidas, essa força corre o risco de dispersar-se em busca de satisfações imediatas, perdendo a profundidade que a torna fecunda.

A juventude, em todas as épocas, foi marcada pela busca de sentido e de identidade. Contudo, no contexto contemporâneo, essa busca se intensifica diante da crise de referências e da fragmentação dos vínculos sociais. Vivemos em uma sociedade que, como descreve Zygmunt Bauman (2001), tornou-se líquida, isto é, marcada pela fragilidade das relações, pela superficialidade dos laços e pela predominância do efêmero sobre o duradouro. Nesse cenário, muitos jovens experimentam uma profunda sensação de desenraizamento: não encontram espaços de pertencimento que ofereçam segurança, acolhida e horizonte de futuro.

A educação, nesse contexto, assume um papel decisivo. Mais do que transmitir informações, ela é chamada a cultivar a capacidade de formar vínculos, de fortalecer o sentido comunitário e de resgatar o valor de uma vida partilhada. Desta forma a educação precisa resgatar o sentido de permanência, de compromisso e de responsabilidade pelo outro. Não se trata de impor normas externas, mas de suscitar nos jovens a capacidade de refletir sobre o bem, de reconhecer o valor da justiça, da solidariedade e da verdade como fundamentos de uma vida autêntica. Assim, o jovem precisa sentir-se parte de uma história, de uma comunidade, de um projeto comum. Sem esse sentimento de pertencimento, a educação corre o risco de se tornar estéril, reduzida a mera preparação técnica, incapaz de responder à sede existencial que habita o coração da juventude.

Hannah Arendt (2000) recorda que educar é introduzir os jovens em um mundo que já existe, mas que precisa ser constantemente renovado. Essa introdução, porém, não pode ser feita sem oferecer também referências sólidas que permitam aos jovens compreenderem-se como protagonistas de uma história maior. O pertencimento, nesse sentido, não é uma prisão, mas uma abertura: é reconhecer-se parte de algo que ultrapassa o individual e que dá sentido à existência.

Entretanto, a realidade atual desafia esse processo. A juventude, bombardeada por modelos de consumo, pela lógica da performance e pelo imediatismo das redes digitais, encontra dificuldades em manter vínculos estáveis e duradouros. A promessa de liberdade absoluta se transforma, paradoxalmente, em solidão e desorientação. Como afirma Byung-Chul Han (2018), o excesso de transparência e exposição na sociedade digital corrói o mistério, o silêncio e a profundidade das relações, gerando um cansaço coletivo e um vazio existencial. É nesse terreno frágil que a educação precisa atuar, resgatando o valor da interioridade, do diálogo e da comunidade.

Nesse horizonte, o Jubileu dos jovens surge como um símbolo poderoso. Mais do que uma comemoração, ele é um convite ao recomeço, ao resgate da memória e à redescoberta da esperança. O Jubileu recorda que a vida não se reduz ao presente imediato, mas é parte de um tempo maior, tecido de passado, presente e futuro. Para os jovens, essa experiência pode ser profundamente transformadora: ao reconhecerem-se inseridos em um ciclo de renovação e perdão, eles descobrem que pertencem a uma tradição, a uma comunidade de fé e de valores que os sustenta e os impulsiona.

O Jubileu, nesse sentido, pode ser lido também como metáfora educativa: ele oferece a possibilidade de recomeçar, de restaurar laços rompidos, de devolver dignidade e sentido à vida. Para a juventude, cuja vitalidade clama por horizontes novos, o Jubileu não é apenas memória de um passado religioso, mas anúncio de um futuro que pode ser diferente, mais humano e mais justo. Ao unir educação e Jubileu, abre-se a possibilidade de formar jovens não apenas instruídos, mas também conscientes de sua missão histórica e de seu papel na construção de um mundo comum.

Paulo Freire já afirmava que a educação deve ser prática da liberdade, despertando nos jovens a consciência crítica e a capacidade de transformar a realidade. Essa prática, no contexto atual, passa inevitavelmente pelo resgate do pertencimento. A juventude precisa sentir que não está sozinha, que faz parte de algo maior, que sua força pode ser canalizada em favor da vida, da justiça e da solidariedade.

Assim, refletir sobre a educação na formação e nos valores dos jovens é refletir também sobre a crise de pertencimento que atravessa a sociedade contemporânea. A educação, quando enraizada na formação integral, não apenas prepara os jovens para viver no presente, mas também os capacita a serem protagonistas de uma história que se renova. A juventude, iluminada por valores sólidos, torna-se fonte de esperança e de transformação, capaz de unir a vitalidade da ação com a profundidade da reflexão. Nesse encontro entre força e sabedoria, abre-se o espaço para que cada jovem não apenas viva, mas também dê sentido à vida, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, humana e solidária. O futuro não se constrói apenas com técnica, mas com raízes, vínculos e valores que sustentam a vida em sua plenitude.


Fonte: Vatican News

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