
A defesa do general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa que é réu na ação do principal núcleo da trama golpista, afirmou que seu cliente sofreu ataques virtuais por não ter incentivado um golpe de Estado em 2022 e que isso é a “prova dos nove” da sua inocência.
O advogado Andrew Fernandes fez a defesa do militar à Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quarta (3).
“Qual é a prova dos nove da hipótese acusatória? Que ele fazia parte da organização criminosa para dar um golpe de Estado. Qual é a prova dos nove que o general Paulo Sérgio não fazia parte dessa organização criminosa? Ele sofreu ataques”, disse.
“Segundo a própria acusação, membros dessa organização criminosa, estavam lutando para retirar o general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, e o comandante do Exército, general Freire Gomes.”
A Primeira Turma deve terminar de ouvir nesta quarta as sustentações orais dos advogados dos réus do núcleo central da trama golpista de 2022. A partir da próxima semana, de acordo com a previsão do relator, Alexandre de Moraes, os ministros começam a se manifestar, pela primeira vez, sobre o mérito das imputações penais.
O militar foi o único réu a acompanhar presencialmente a primeira sessão de julgamento, nesta terça (2), mas não participou nesta quarta.
Na manifestação, seu advogado afirma que o ex-ministro da Defesa tentou demover Bolsonaro de planos golpistas, e que ele tinha postura institucional e democrática.
“O general Paulo Sérgio estava rachado com generais da ativa, com o general [e ex-candidato a vice-presidente] Braga Netto, que não queria conversar com generais frouxos e melancias [vistos como próximos à esquerda]”, disse o advogado.
“O general Braga Netto estava desalinhado com generais do governo, e eu coloco o general Paulo Sérgio nessa linha”, afirmou. Andrew disse que seu cliente foi “enredado em uma contumélia”, palavra que significa “injúria, insulto ou afronta”.
Paulo Sérgio Nogueira é apontado pela denúncia como um dos líderes militares que apoiaram as conspirações contra Lula (PT). O general ainda pressionou, segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República), os chefes das Forças Armadas a aderir aos planos golpistas.
Quando as Forças Armadas atuaram como uma das entidades fiscalizadoras convidadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para a disputa de 2022, ele era o ministro da Defesa. Segundo a PGR, ele manteve relação conturbada com o TSE e se recusou a divulgar o relatório referente ao primeiro turno das eleições, de forma proposital.
Na sessão na qual foi interrogado, Paulo Sérgio disse ao Supremo que estava preocupado com as possíveis medidas a serem adotadas por Bolsonaro. A apreensão, afirmou, aumentou com os pedidos de intervenção militar nos acampamentos em frente aos quartéis, com a efervescência das mídias sociais e especialmente com a carta dos oficiais da ativa que pressionava o chefe do Exército a apoiar um golpe de Estado.
O ex-ministro disse que foi por esse motivo que ele convocou os chefes das Forças Armadas para uma reunião em 14 de dezembro de 2022 na sede do Ministério da Defesa. “Eu temia uma fissura. Até mesmo dentro do três comandantes das Forças eu queria uma unidade, preservar a coesão e a disciplina”, diz.
Segundo o general, ele visitou Bolsonaro no dia seguinte à reunião com os comandantes militares para confirmar que as Forças Armadas não apoiariam uma possível medida de exceção.
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