
A delação de Mauro Cid na trama golpista
O tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, revelou planos golpistas num acordo de delação premiada que começou a ser discutido no âmbito do STF depois que ele foi preso em maio de 2023
Cid afirmou que a minuta do golpe, que previa a anulação de eleições e medidas contra autoridades, foi criada pelo assessor presidencial Filipe Martins e editada por Bolsonaro
O militar disse ainda que Bolsonaro apresentou a minuta aos comandantes das Forças Armadas, numa tentativa de obter apoio para a implementação das medidas
Ele citou ao menos 20 nomes na colaboração firmada com a Polícia Federal, incluindo Jair Bolsonaro, generais como Braga Netto, e políticos que instigavam a trama golpista
Cid classificou aliados de Bolsonaro em três grupos: moderados, conservadores e radicais –este último defendia golpe armado e até decretação de exceção
Entre as revelações, Mauro Cid mencionou que militares chegaram a pedir a ele a localização de Alexandre de Moraes, alvo de um plano de assassinato
Ele relatou que Bolsonaro pressionou o Ministério da Defesa para incluir supostas fraudes no relatório das Forças Armadas sobre as eleições de 2022
A delação de Cid também revelou reuniões com militares da ativa e da reserva, nas quais foram discutidas abertamente estratégias para anular as eleições
Cid afirmou ter recebido uma caixa de vinho com dinheiro vivo de Braga Netto para financiar ações golpistas, voltadas a um plano armado
O tenente-coronel é um dos réus da trama golpista. Sua defesa aponta que ele apenas repassou informações como assessor, sem intenção golpista ou participação nos ataques de 8 de janeiro
A delação foi parte do eixo central do relatório da PF e da denúncia da PGR sobre a tentativa de golpe, com referências à minuta do golpe e ao plano de militares contra autoridades
O acordo de delação de Cid foi homologado pelo ministro Alexandre de Moraes em setembro de 2023, quando o tenente-coronel foi solto. Ele se tornou o primeiro militar delator da história do país
Cid apresentou contradições em depoimentos dados durante o processo de delação e durante o processo no STF, mas a validade do acordo foi mantida
Há risco de perda de benefícios da delação se for comprovada quebra de sigilo ou omissão voluntária por parte de Cid
Defesas dos réus da trama golpista tentam explorar contradições ou imprecisões nos depoimentos de Cid, buscando enfraquecer a denúncia da PGR
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