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Padre Lício: Fé e Saúde Mental, um Caminho de Cuidado e Esperança – Vatican News


Vivemos tempos de grandes desafios emocionais e espirituais. O mundo moderno, com suas exigências, incertezas e ritmos acelerados, tem produzido um número crescente de pessoas que sofrem com ansiedade, depressão, solidão e estresse. Nesse cenário, a fé se revela não apenas como refúgio espiritual, mas também como uma força que sustenta e equilibra o ser humano em sua totalidade.

Padre Lício de Araujo Vale Diocese São Miguel Paulista – SP

A Igreja sempre ensinou que o ser humano é um ser integral – corpo, mente e espírito- criado a imagem e semelhança de Deus. Por isso, cuidar da saúde mental é também um ato de amor cristão, uma forma de honrar o dom da vida e de viver a plenitude do Evangelho. Portanto, cuidar da mente é também cuidar da imagem de Deus presente em cada um de nós. A saúde mental não é apenas ausência de transtornos, mas o estado de harmonia interior, onde o indivíduo é capaz de viver o amor, a solidariedade e o perdão. A fé, vivida de modo autêntico, pode ser fonte de serenidade interior, esperança e sentido, oferecendo á mente cansada o descanso que o mundo não consegue dar.

O Papa Francisco, em diversas ocasiões chamava a atenção para a importância de cuidar da saúde mental, especialmente em tempos de solidão, angústia e perda de sentido. Ele afirmava que “a tristeza e o desânimo não são de Deus”, recordando que o cristão é chamado a ser portador da alegria do Evangelho, mesmo em meio as dores e incertezas da vida.

A cruz e o sentido do sofrimento

Um dos maiores desafios da saúde mental é dar sentido à dor. A fé cristã oferece uma resposta única: o sofrimento, quando vivido com fé, pode se tornar lugar de encontro com Deus. Na cruz, Jesus assumiu todas as dores humanas- físicas emocionais e espirituais- e transformou-as em fonte de salvação.

Não se trata de glorificar o sofrimento, mas reconhecer que ele pode ser redentor quando unidos ao amor. Jesus chorou, sentiu angústia e experimentou a solidão; por isso, Ele compreende profundamente as nossas aflições. O Papa Bento XVI, na encíclica Spes Salvi, escreveu:

“O homem não pode viver sem esperança. A experiência do sofrimento é também uma escola de esperança.”

Quando uma pessoa enfrenta uma crise emocional, a fé ajuda a perceber que a dor não é o fim. Há sempre uma luz, mesmo nas trevas. O cristão aprende a carregar sua cruz não sozinho, mas com Cristo. Essa consciência traz consolo e coragem para continuar.

A comunidade como lugar de acolhimento

A saúde mental não se constrói isoladamente. Somos seres relacionais chamados a viver em comunhão. A Igreja, Povo de Deus, como Corpo de Cristo, é um espaço privilegiado de cuidado e acolhimento.

Em muitas paróquias, pastorais sociais, pastorais de escuta, grupos de rua e serviços de caridade têm desempenhado papel importante na prevenção de sofrimentos psíquicos. Quando uma pessoa encontra um ambiente onde é ouvida, valorizada e amada ela reencontra também o sentido da vida.

O Papa Francisco, em várias ocasiões, insistia na importância da “cultura do encontro”:

“A Igreja deve ser como um hospital de campanha, onde os feridos da vida encontram acolhida, não julgamento”.

Essa imagem resume bem o papel da comunidade cristã na promoção da saúde mental. Acolher, escutar, consolar e acompanhar são gestos profundamente evangélicos e terapêuticos. Em tempos de tanta solidão, a comunidade de fé se torna um antídoto contra o desespero.

Fé e ciência: uma parceria a favor da vida

A fé católica não se opõe a ciência. Pelo contrário, reconhece na razão humana um dom de Deus. Buscar ajuda psicológica ou psiquiátrica não significa falta de fé; é uma forma concreta de cuidar do templo do Espírito Santo que é o próprio corpo.

O Catecismo da Igreja Católica ensina que “a ciência e a fé não podem jamais contradizer-se, pois ambas provêm de Deus.” (CIC 159). 

O Papa Francisco afirmou certa vez:

“Cuidar da mente é também cuidar da alma. Não se deve ter medo de procurar um psicólogo. Deus também age por meio da ciência”.

A sabedoria está em unir os dois caminhos: a luz da fé e os recursos da ciência, ambos orientados para o bem da pessoa humana.

Cuidar da mente é também um ato de fé

A fé nos ensina que a saúde mental é parte integrante da vocação à vida plena. Deus quer que seus filhos viviam com alegria, serenidade e paz interior. Cuidar da mente é cuidar da própria alma.

Em um tempo de tanto sofrimento psíquico, a Igreja é chamada a ser farol de esperança. Que nossas comunidades sejam espaços de escuta, acolhimento e amor. Que cada cristão, sustentado pela fé, possa repetir com o salmista:

“Por que te deprimes, ó minha alma.

Espera em Deus! Ainda o louvarei. Ele é minha salvação e meu Deus..” (Sl 42,6).

E assim, fortalecidos na fé, seremos instrumentos de consolo para o mundo, levando às mentes feridas a boa nova de um Deus que cura, que acolhe e que ama.


Fonte: Vatican News

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